Como é feita a cirurgia robótica e o que esperar do procedimento médico

Cirurgia robótica mostra-se promissora e tende a beneficiar pacientes com pós-operatório reduzido

Um dos maiores passos que se pode tomar antes de qualquer decisão sobre o próprio tratamento é entender como é feita a cirurgia robótica. Esse tipo de procedimento tem chamado cada vez mais atenção por combinar tecnologia e precisão, oferecendo uma alternativa menos invasiva do que a cirurgia tradicional.

Nessa modalidade, o médico utiliza braços mecânicos controlados a partir de um console. Não é o robô que atua sozinho: o profissional visualiza o campo cirúrgico em 3D, com ampliação de imagem e movimentos extremamente delicados. Só assim é possível acessar áreas do corpo que seriam difíceis de alcançar com as mãos.

Esse tipo de tecnologia já é aplicado em diferentes especialidades, que vão desde a cirurgia robótica da próstata, passando por outras áreas, como oncologia, gastroenterologia e ginecologia. O objetivo é o mesmo em todas elas: reduzir o trauma no corpo, melhorar a precisão dos movimentos e acelerar a recuperação do paciente.

Nos próximos tópicos, você vai entender as etapas desse procedimento inovador, os tipos de cirurgia robótica, suas vantagens e até qual a diferença entre cirurgia robótica e a laparoscopia.

Entendendo a tecnologia da cirurgia robótica

A cirurgia robótica utiliza um sistema em que o cirurgião opera a partir de um console, controlando braços robóticos equipados com instrumentos finos e uma câmera 3D de alta definição.

O paciente está sobre a mesa operatória, com pequenos trocartes introduzidos no corpo. É por onde os instrumentos entram.

Os componentes principais de um sistema robótico são:

• Console do cirurgião, onde ele manobra controles de mão e pedais.
• Braços robóticos posicionados sobre o paciente, com instrumentos e câmera conectados.
• Visão tridimensional ampliada, com magnificação e visão estéreo.

Durante o procedimento, o cirurgião olha para a tela 3D, com visão ampliada do tecido, e com suas mãos e pés manipula os instrumentos robóticos que respondem com precisão. Tudo isso sem o risco de tremores e com escalas de movimento refinadas.

Esse sistema permite que os movimentos do cirurgião sejam feitos em espaços internos estreitos, com articulações que simulam ou excedem a mobilidade do pulso humano. Algo que os instrumentos laparoscópicos tradicionais têm mais limitação.

Leia também: Entenda os vários tipos de cirurgia robótica e quando elas são indicadas

Etapas de uma cirurgia robótica: o que o paciente vivencia

Mesmo sabendo que cada especialidade terá adaptações específicas, podemos traçar um panorama com etapas típicas. Veja algumas delas.

Avaliação pré-operatória e planejamento

Exames de imagem, tomografia, ressonância e planejamento do trajeto de trocartes conforme anatomia do paciente.

Posicionamento e instalação dos braços robóticos

Após anestesia geral, a mesa é posicionada e os braços robóticos são dispostos de forma a evitar colisões entre instrumentos. Geralmente, é criado um espaço de trabalho para dar maior mobilidade ao médico.

Inserção de trocartes

Usando pequenas incisões, os trocartes são inseridos. Os instrumentos e câmeras também são alocados em suas devidas posições.

Dissecção e execução da cirurgia

Com o console, o cirurgião realiza cortes, suturas, remoções ou reconexões com os instrumentos robóticos. A visão ampliada do robô permite dissecar estruturas delicadas com maior precisão.

Reconexão e sutura interna

Quando necessário, a parte removida é retirada. No caso de uma cirurgia de próstata, as estruturas são reconectadas com suturas feitas pelos braços robóticos.

Fechamento

Os trocartes são retirados e pequenas incisões externas são fechadas.

Após o procedimento, o paciente segue para a recuperação. Na cirurgia robótica, o trauma é menor em comparação com uma incisão aberta de uma cirurgia convencional.

Qual a diferença entre a cirurgia robótica e a laparoscopia?

Uma das dúvidas que os pacientes podem ter é entender as diferenças entre essas duas modalidades cirúrgicas. Ambas são consideradas formas minimamente invasivas, mas cada uma tem distinções importantes a serem consideradas.

• Visão e ergonomia: a robótica oferece visão 3D ampliada, melhor ergonomia para o cirurgião e instrumentos com mais mobilidade.
• Precisão e tremor eliminado: os braços robóticos eliminam tremores manuais e permitem movimentos mais finos.
• Curva de aprendizado: a robótica pode ter curva mais longa, mas muitos argumentam que a prática oferece vantagem.
• Tempo operatório e custo: muitos estudos mostram que a cirurgia robótica costuma demorar mais e custa mais comparada à laparoscopia em alguns dos casos.
• Conversão para cirurgia aberta: algumas análises (2014) apontam que robótica pode ter menor taxa de conversão para cirurgia aberta do que a laparoscopia.

Em uma metanálise (2023), as ressecções colorretais realizadas com robôs tiveram menores taxas de conversões para cirurgias abertas.

Uma revisão sistemática (2014) concluiu que para muitos procedimentos não houve diferença significativa em mortalidade e complicações entre cirurgias robóticas e laparoscópicas.

Ou seja: a robótica oferece vantagens em técnica e precisão, mas eles dependem muito da especialidade, experiência do centro e do próprio cirurgião.

Como se estrutura a cirurgia robótica em especialidades específicas

A robótica não é uma técnica única aplicada da mesma forma em todos os casos. Cada área da medicina utiliza o sistema de maneira específica, com ajustes no posicionamento dos instrumentos, tipo de corte e reconstrução dos tecidos.

É justamente essa flexibilidade que torna a cirurgia robótica tão promissora e atraente: ela pode ser usada desde a remoção de tumores até procedimentos mais complexos.

Para que fique mais claro, vejamos como essa técnica se aplica em alguns exemplos e como ela tem ajudado cirurgiões a alcançar resultados mais precisos e pacientes a se recuperar com mais conforto.

Cirurgia robótica da próstata

Já discutida anteriormente, na prostatectomia radical robótica o sistema auxilia na remoção completa da próstata e na reconexão da bexiga com a uretra. A cirurgia robótica conta com potencial para preservar nervos adjacentes, minimizando disfunção urinária e erétil.

Cirurgia bariátrica robótica

No campo da cirurgia bariátrica, a robótica já é usada em procedimentos como bypass gástrico e sleeve gástrico. 

Um estudo comparativo da American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (2024) relatou que o bypass robótico apresentou tempos operatórios um pouco menores, tempo de internação reduzido e taxas de complicações menores em comparação à laparoscopia.

Já em uma revisão sistemática (2021), a conclusão foi de que não havia diferença significativa em muitos desfechos entre cirurgia robótica bariátrica e laparoscópica.

Cirurgia robótica em ginecologia

Outro ponto é o crescente uso dentro da ginecologia, principalmente no tratamento de endometriose. A remoção de miomas, cistos ovarianos e casos em que há aderências mais complexas são indicações para a cirurgia robótica em ginecologia.

No caso da endometriose profunda infiltrativa, muitas lesões se entrelaçam em órgãos como ureteres, intestino, bexiga e ligamentos uterinos. Em cirurgias convencionais, esses tratamentos podem ser desafiadores.

Estudos revisados (2024) mostram que a cirurgia robótica oferece visão 3D melhorada, instrumentação com liberdade de movimento e precisão suficiente para remover o tecido doente sem danificar estruturas vizinhas.

Um aspecto de grande importância para muitas mulheres é a preservação da função ovariana. Em casos de cistectomia para endometrioma (um tipo de cisto benigno), há evidências de que a cirurgia robótica pode causar menor dano ao tecido ovariano em comparação à laparoscopia, o que ajuda a preservar a reserva ovariana.

Além da endometriose, a robótica em ginecologia atua em remoção de miomas (miomectomia), histerectomias minimamente invasivas e intervenções em casos de câncer ginecológico.

A American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) reconheceu que, apesar das evidências serem ainda de qualidade moderada, a visualização melhorada, a eliminação de tremores e ergonomia para o cirurgião são vantagens relatadas nos estudos piloto.

Outros tipos de cirurgia robótica

Além dos exemplos citados de intervenções, a robótica já é empregada em ginecologia, oncologia torácica e procedimentos gastrointestinais. Nesse último, sempre quando o acesso é complexo e a precisão faz diferença.

Vantagens esperadas

As vantagens esperadas da cirurgia robótica incluem:

• Menor sangramento intraoperatório e menor necessidade de transfusão de sangue;
• Visão e instrumentação mais precisa, melhor controle e preservação de tecidos saudáveis;
• Menos dor no pós-operatório;
• Incisão menor e recuperação mais rápida;
• Menor tempo de internação, quando comparado à cirurgia aberta ou mesmo laparoscópica em alguns casos;
• Menor taxa de conversão para cirurgia aberta.

Essas vantagens explicam por que a cirurgia robótica vem sendo considerada um dos avanços mais significativos da medicina moderna.

Com menor agressão ao corpo e maior precisão nos resultados, ela tem ampliado as possibilidades de tratamento em especialidades que antes dependiam de cortes extensos e longos períodos de internação.

A cirurgia robótica se trata de uma ferramenta que coloca o paciente no centro do cuidado, priorizando uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.

O futuro da cirurgia robótica e o que ela representa para os pacientes

A cirurgia robótica representa uma mudança de paradigma na forma como a medicina enxerga o cuidado com o paciente. Ela combina precisão, segurança e recuperação mais rápida. Mas seu verdadeiro diferencial está no que essa técnica oferece em termos de qualidade de vida após o procedimento.

Fica claro que a tecnologia não substitui o médico: ela termina potencializando as habilidades do profissional da saúde. Cada movimento é comandado por um especialista, cada decisão é tomada com base em experiência e estudo.

Quando bem indicada e realizada por uma equipe qualificada, a robótica amplia as possibilidades de tratamentos em diferentes especialidades, desde a cirurgia robótica da próstata até as aplicações em cirurgia bariátrica robótica e outras áreas complexas da medicina.

Ainda que o acesso à tecnologia varie entre instituições, o caminho é bastante promissor: quanto mais centros e profissionais se capacitem, mais pacientes terão a chance de se beneficiar dos tipos de cirurgia robótica disponíveis.

A robótica não é o futuro distante: ela é o presente de uma medicina mais precisa, humana e centrada em resultados que realmente importam para quem está do outro lado da mesa cirúrgica.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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