04/09/2025
Revisado em: 04/09/2025
A preocupação com o histórico familiar é válida. Saiba como a genética e outros fatores influenciam o risco de desenvolver a doença.
Você está em uma reunião de família e ouve sua tia comentar sobre o "problema na tireoide" que a acompanha há anos, ou talvez sua mãe mencione que precisa tomar um hormônio diariamente. A conversa desperta uma dúvida: se eles têm tireoidite de Hashimoto, será que você também terá? Essa é uma preocupação comum e legítima.
A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune. Em condições normais, o sistema imunológico defende o corpo contra invasores, como vírus e bactérias. No caso de Hashimoto, ele comete um erro e passa a atacar as células da própria glândula tireoide.
Esse ataque contínuo causa uma inflamação crônica que, com o tempo, pode danificar a tireoide e comprometer sua capacidade de produzir hormônios. Consequentemente, a tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum de hipotireoidismo, condição em que a tireoide funciona de maneira insuficiente.
A genética desempenha um papel central no desenvolvimento da tireoidite de Hashimoto. A doença é frequentemente observada em famílias, o que sugere um componente hereditário. Estudos indicam que ela possui um componente genético claro, com múltiplos genes envolvidos em sua origem, além de fatores ambientais.
No entanto, é importante entender a diferença entre predisposição genética e hereditariedade direta.
Embora os termos pareçam similares, eles significam coisas diferentes. Uma doença hereditária é transmitida diretamente de pais para filhos por meio de um ou mais genes específicos, com uma alta probabilidade de se manifestar.
Já a predisposição genética significa que você herda variações genéticas que aumentam sua suscetibilidade a desenvolver uma condição.
Estudos com gêmeos idênticos, por exemplo, demonstram uma maior probabilidade de ambos desenvolverem a tireoidite de Hashimoto em comparação com gêmeos não-idênticos, apontando para uma ligação hereditária. Estima-se que fatores genéticos hereditários respondam por cerca de 67% da probabilidade de uma pessoa desenvolver a condição.
A tireoidite de Hashimoto se encaixa na segunda categoria. Ter um parente de primeiro grau, como pai, mãe ou irmão, com a doença não é uma sentença, mas sim um fator de risco importante. A genética fornece a "base", mas outros fatores são necessários para "ativar" a doença.
Pesquisas identificaram diversos genes associados ao risco de Hashimoto. Muitos deles pertencem ao complexo do antígeno leucocitário humano (HLA), que ajuda o sistema imunológico a diferenciar as proteínas do próprio corpo daquelas de invasores.
Alterações nesses genes podem levar o sistema imune a reconhecer a tireoide como um alvo a ser atacado. Curiosamente, a tireoidite de Hashimoto compartilha fatores genéticos com o câncer papilífero de tireoide, incluindo genes como ADH1B, ABR, SERPINA1 e LPAR5.
A predisposição genética para doenças autoimunes muitas vezes se sobrepõe. Se sua família tem histórico de outras condições como diabetes tipo 1, doença celíaca, lúpus ou artrite reumatoide, seu risco para Hashimoto também pode ser maior. Isso ocorre porque os genes de suscetibilidade podem ser comuns a várias doenças autoimunes.
A predisposição genética por si só raramente é suficiente para causar a tireoidite de Hashimoto. Geralmente, é necessária a interação com um ou mais gatilhos ambientais para que a doença se manifeste em um indivíduo suscetível.
Alguns dos principais fatores desencadeantes estudados incluem:
A doença pode ser silenciosa por anos. Quando os sintomas aparecem, eles geralmente estão ligados ao hipotireoidismo resultante do dano à glândula.
Os sinais mais comuns refletem um metabolismo mais lento e podem incluir:
O diagnóstico é confirmado por meio de exames de sangue simples. O médico, geralmente um endocrinologista, irá solicitar:
Em alguns casos, uma ultrassonografia da tireoide pode ser solicitada para avaliar a estrutura da glândula e a presença de nódulos.
Saber que você tem um risco aumentado é o primeiro passo para um cuidado proativo. O pânico não é necessário, mas a atenção sim. Se você tem parentes próximos com tireoidite de Hashimoto ou outra doença autoimune, converse com um médico.
O especialista pode avaliar seu caso e, se julgar necessário, solicitar exames de sangue para verificar a função da sua tireoide e a presença de anticorpos. Manter um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada, gerenciamento do estresse e prática regular de exercícios, ajuda a modular o sistema imunológico e a promover o bem-estar geral.
O mais importante é não ignorar os sintomas. Se notar cansaço persistente, alterações de peso ou qualquer outro sinal, procure avaliação médica. O diagnóstico precoce permite o manejo adequado e evita complicações.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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