27/08/2025
Revisado em: 28/08/2025
Mulheres são a população mais afetada em termos de saúde mental em decorrência a trabalho, relacionamentos e família.
Entre essa necessidade e pressão constante por produtividade, o excesso de redes sociais e rotinas cada vez mais exaustivas, é cada vez mais comum que mulheres se perguntem como aumentar a autoestima feminina, principalmente quando enfrentam períodos difíceis, como o burnout, a depressão ou o esgotamento emocional.
Parece que existe uma sensação de inadequação ou de estar falhando em várias frentes (profissional, familiar, estética) e ela pode fazer com que até as conquistas mais legítimas pareçam pequenas ou inexistentes.
Mas recuperar a autoestima não é uma questão de “pensar positivo”. Esse processo envolve autoconhecimento, ter o suporte adequado e, em alguns casos, acompanhamento especializado.
A autoestima está relacionada à percepção que uma pessoa tem de si mesma. No caso das mulheres, essa construção pode começar a ser distorcida ainda na infância. Pesquisas conduzidas por uma marca de produtos de higiene pessoal mostram que as meninas passaram a publicar mais conteúdo nas redes sociais na expectativa de receberem “aprovações”.
Das 500 meninas entrevistadas, 89% delas afirmaram seguir esse padrão e 35% responderam que se sentem “menos bonitas” quando veem imagens de celebridades na internet. A informação foi publicada no Jornal da USP.
Essa pressão contínua na vida adulta, agora multiplicada pela sobrecarga de tarefas, exigências estéticas e desafios profissionais.
Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), as mulheres representam mais da metade dos afastamentos por transtornos mentais no Brasil, com destaque para depressão e síndrome de burnout.
Um dado alarmante é que somente em 2024, o Brasil registrou pelo menos 300 mil dos casos, representando 64% de todas as 472 mil licenças concedidas. Os dados são do Ministério da Previdência Social.
Esses quadros, além de afetarem a saúde mental, corroem a confiança e afetam diretamente a imagem que a mulher tem de si mesma.
Não existe uma resposta única para todas as mulheres. O que funciona para uma, pode não fazer sentido para outra. Mas existem caminhos comprovados pela ciência e pela prática clínica que ajudam a reconstruir a autoestima de forma sólida.
É comum querer mascarar sentimentos com frases como “está tudo bem” ou “é só uma fase”. Só que a autoestima não pode ser restaurada sem que se reconheça o que foi abalado.
A psicóloga e pesquisadora Brené Brown defende que a vulnerabilidade é o primeiro passo para o fortalecimento emocional. Assumir que se está cansada, sobrecarregada ou triste não é sinal de fraqueza, e sim de coragem.
Casos de baixa autoestima crônica, especialmente associados à depressão ou ansiedade, exigem acompanhamento psicológico.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, é uma das abordagens mais recomendadas para reestruturar padrões de pensamento autodepreciativos. Em casos mais graves, a combinação entre psicoterapia e uso de medicamentos pode ser indicada, sempre sob orientação médica.
Redes sociais alimentam a ilusão de vidas perfeitas. Mas o que aparece no feed muitas vezes não corresponde à realidade.
Segundo estudo publicado na revista PLOS One, em 2024, plataformas como Tik Tok estão entre as que mais afetam negativamente a autoestima feminina, principalmente em jovens adultas.
Os autores ainda explicam que muitos conteúdos nocivos, como os que incentivam a anorexia, têm impactos imediatos sobre a autopercepção da imagem corporal, o que pode aumentar o risco dessas mulheres desenvolverem comportamentos alimentares prejudiciais.
Uma estratégia prática é limitar o tempo de uso ou seguir apenas perfis que trazem identificação e acolhimento, não comparação.
Você não é apenas a profissional, a mãe, a filha ou a esposa. Recuperar a autoestima passa também por lembrar quem você é fora desses papéis.
O que você gosta de fazer? Quais eram seus sonhos antes das exigências do cotidiano?
Atividades simples como retomar um hobby, fazer um curso de interesse pessoal ou até sair para caminhar sozinha podem reativar esse senso de identidade.
A síndrome de burnout, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno relacionado ao trabalho, pode afetar diretamente a autoestima.
Entre os principais sintomas estão o esgotamento físico e mental, a perda de prazer pelo que antes era significativo e a sensação constante de inadequação. Em mulheres, esse quadro é agravado pela chamada “dupla jornada”, em que responsabilidades profissionais e domésticas se sobrepõem.
O resultado? Mulheres que antes eram referência no que faziam passam a duvidar de sua capacidade produtiva e intelectual. A recuperação da autoestima nesses casos está diretamente ligada ao reconhecimento do esgotamento como uma condição real e à construção de limites mais saudáveis.
O termo “autocuidado” tem sido usado com frequência, mas vai muito além de uma máscara facial ou um dia no salão. Cuidar de si é também respeitar o corpo, a mente e os próprios limites.
Algumas práticas reconhecidas por especialistas em saúde mental incluem:
Essas ações, quando feitas com consistência, ajudam a regular hormônios como a serotonina e a dopamina, associados ao bem-estar e à sensação de prazer.
De acordo com estudo publicado no PMC PubMed Central, a prática regular de exercícios físicos pode ser tão eficaz quanto antidepressivos em quadros leves de depressão. Ter uma rotina de exercícios ainda ajuda na melhora do sono, na redução do estresse e reduzir a ansiedade, além de alimentar sentimentos de bem-estar.
Mulheres que estão em crise emocional tendem a ser muito duras consigo mesmas. Frases como “eu sou um fracasso” ou “não consigo fazer nada direito”, “tudo o que eu faço está errado” acabam sendo ditas mentalmente de forma automática.
A autocompaixão, conceito desenvolvido pela pesquisadora Kristin Neff, propõe justamente o contrário: falar consigo mesma como você falaria com uma amiga.
Aqui é muito importante aprender a reconhecer os próprios esforços, validar o que está sendo feito apesar das dificuldades e permitir-se descansar são atitudes que fortalecem a autoestima de forma genuína. Uma prática recomendada por especialistas é manter um diário para registrar as emoções.
A baixa autoestima pode estar relacionada a transtornos psiquiátricos como depressão, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ou transtorno de personalidade.
Alguns sinais de alerta incluem:
Nesses casos, o primeiro passo é buscar orientação médica: seja com um clínico geral, psicólogo ou psiquiatra, para que o profissional avalie a necessidade de tratamento. Em muitos casos, a melhora da saúde mental é o que permite a retomada do amor-próprio e da autoconfiança.
A ideia de que cuidar da autoestima é “frescura” ou “egocentrismo” precisa ser deixada para trás. A autoestima é parte integrante da saúde emocional e influencia diretamente na forma como nos relacionamos com os outros, tomamos decisões e enfrentamos desafios.
Se você está em um momento difícil, saiba que é possível reencontrar seu valor, mesmo que aos poucos. E lembrar disso já é um começo.
Referências bibliográficas
JORNAL DA USP. Insatisfação com a aparência é mediada pela comparação social, diz pesquisadora. Jornal da USP, Ribeirão Preto, 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/insatisfacao-com-a-aparencia-e-mediada-pela-comparacao-social-diz-pesquisadora/ . Acesso em: 21 ago. 2025.
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NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Brasil: afastamentos por problemas de saúde mental aumentam 134%. ONU Brasil, 2023. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/292926-brasil-afastamentos-por-problemas-de-sa%C3%BAde-mental-aumentam-134 . Acesso em: 21 ago. 2025.
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PEREIRA, C. M. et al. Depression and work productivity: A systematic review and meta-analysis. PLOS ONE, v. 19, n. 7, e0307597, 2024. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0307597 . Acesso em: 21 ago. 2025.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Burn-out an occupational phenomenon: International Classification of Diseases. WHO News, 28 maio 2019. Disponível em: https://www.who.int/news/item/28-05-2019-burn-out-an-occupational-phenomenon-international-classification-of-diseases . Acesso em: 21 ago. 2025.
SANTOS, F. R. et al. Burnout syndrome and its association with workplace factors: a systematic review. Frontiers in Public Health, 2025. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11298280/ . Acesso em: 21 ago. 2025.
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