Acidente vascular cerebral isquêmico: um guia para reconhecer rapidamente e agir

Saiba o que acontece no cérebro durante um AVC isquêmico, como identificar os sinais de alerta e a importância do atendimento imediato.

Imagine um dia comum, durante uma conversa em família. De repente, um familiar começa a falar de forma arrastada, parece confuso e um lado do seu sorriso parece "caído". Essa cena, infelizmente comum, pode ser o início de um acidente vascular cerebral isquêmico, uma emergência médica que exige ação imediata.

O que é um acidente vascular cerebral isquêmico

O acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, também conhecido como AVCI ou derrame isquêmico, ocorre quando há uma obstrução em uma artéria, impedindo que o sangue rico em oxigênio e nutrientes chegue a uma determinada área do cérebro. Sem esse suprimento vital, as células cerebrais começam a morrer em poucos minutos.

A interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro, causada por coágulos, leva à rápida morte de milhões de neurônios a cada minuto. Por isso, o tratamento imediato e urgente é vital para reduzir os danos cerebrais e a mortalidade, uma vez que a janela de tempo para um tratamento eficaz é muito limitada.

É fundamental diferenciá-lo do AVC hemorrágico. Enquanto o isquêmico é causado por um bloqueio, o hemorrágico acontece pelo rompimento de um vaso sanguíneo, causando um sangramento dentro ou ao redor do cérebro. O AVC isquêmico é o tipo mais frequente.

Se você reconhecer os sinais, chame imediatamente o atendimento médico. Marque sua consulta e garanta uma recuperação segura.

Quais são as principais causas do AVC isquêmico

A obstrução da artéria cerebral geralmente acontece por dois mecanismos principais: a trombose e a embolia. Ambas resultam na formação de um coágulo que bloqueia o fluxo sanguíneo.

Trombose cerebral

A trombose ocorre quando um coágulo de sangue (trombo) se forma diretamente em uma das artérias do cérebro. Esse processo é frequentemente causado pela aterosclerose, que é o acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, tornando-as mais estreitas e rígidas.

Embolia cerebral

Na embolia, o coágulo se forma em outra parte do corpo — comumente no coração, em condições como a fibrilação atrial — e viaja pela corrente sanguínea até se alojar em uma artéria cerebral mais estreita, bloqueando a passagem do sangue.

Como reconhecer os sinais de um AVC isquêmico

Os sintomas de um AVC isquêmico são quase sempre súbitos. Reconhecê-los rapidamente é o passo mais importante para minimizar os danos. Os sintomas manifestam-se de forma abrupta, como fraqueza súbita em um lado do corpo ou fala arrastada, exigindo reconhecimento e tratamento imediatos.

Uma estratégia fácil de memorizar, recomendada pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), é o teste SAMU:

• S (Sorriso): Peça para a pessoa sorrir. Se um lado do rosto ficar paralisado ou "caído", é um sinal de alerta.
• A (Abraço): Peça para a pessoa levantar os dois braços. Se um deles cair ou não conseguir ser erguido, pode ser um sinal.
• M (Música): Peça para a pessoa cantarolar um trecho de uma música ou falar uma frase simples. Uma fala arrastada, confusa ou a incapacidade de falar são sinais graves.
• U (Urgência): Se identificar um ou mais desses sinais, ligue imediatamente para a emergência (192).

Outros sintomas que podem aparecer de forma súbita incluem:

• Formigamento ou dormência no rosto, braço ou perna, especialmente em um lado do corpo.
• Confusão mental e dificuldade para compreender o que os outros dizem.
• Alteração na visão, como visão dupla, turva ou perda de visão em um ou ambos os olhos.
• Dificuldade para andar, tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação.
• Dor de cabeça súbita e intensa, sem causa aparente.

O que fazer diante de uma suspeita de AVC

A frase "tempo é cérebro" resume a urgência do AVC. Cada minuto que o cérebro fica sem fluxo sanguíneo adequado aumenta a área de lesão e o risco de sequelas permanentes. Para o AVC isquêmico, a urgência no tratamento imediato é crucial.

A rápida interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro pode levar à morte de milhões de neurônios a cada minuto. 

O tratamento de primeira linha, como a trombólise intravenosa, precisa ser administrado dentro de uma janela de apenas 4,5 horas após o início dos sintomas, ressaltando a importância da ação médica imediata.

Aja com rapidez e precisão:

1. Ligue para a emergência (SAMU - 192): Este é o primeiro e mais importante passo. A equipe de emergência está preparada para o atendimento inicial e para transportar o paciente ao hospital adequado mais rápido.
2. Anote o horário de início dos sintomas: Essa informação é crucial para a equipe médica decidir sobre o melhor tratamento, pois alguns medicamentos só podem ser administrados dentro de uma "janela terapêutica" específica.
3. Não ofereça medicamentos: Evite dar qualquer remédio, incluindo aspirina, pois sem um exame de imagem é impossível saber se o AVC é isquêmico ou hemorrágico, e o medicamento errado pode piorar o quadro.
4. Mantenha a pessoa calma: Deite a pessoa de lado, com a cabeça levemente elevada, para evitar engasgos caso vomite, e afrouxe roupas apertadas enquanto aguarda o socorro.

Como é feito o diagnóstico e o tratamento

No hospital, o diagnóstico rápido é feito com exames de imagem, como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética do crânio, que permitem identificar a área afetada e o tipo de AVC.

Confirmado o AVC isquêmico e dentro da janela de tempo adequada, o tratamento de primeira linha, como a trombólise intravenosa, tem uma janela de apenas 4,5 horas após o início dos sintomas. Essa ação médica imediata é vital para restaurar o fluxo sanguíneo e reduzir danos. O tratamento pode incluir:

• Terapia trombolítica: Administração de medicamentos na veia para dissolver o coágulo e restaurar o fluxo sanguíneo.
• Trombectomia mecânica: Um procedimento minimamente invasivo no qual um cateter é inserido através de uma artéria (geralmente na virilha) e guiado até o cérebro para remover mecanicamente o coágulo.

Quais são as possíveis sequelas e como funciona a reabilitação

As sequelas de um AVC isquêmico dependem da área do cérebro afetada e da extensão da lesão. Podem variar de leves a graves e incluir dificuldades motoras, problemas de fala (afasia), alterações de memória e cognitivas, e mudanças emocionais.

A reabilitação é uma etapa essencial para a recuperação e deve ser iniciada o mais cedo possível. Uma equipe multidisciplinar, composta por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neurologistas, trabalha para ajudar o paciente a recuperar funções perdidas e a se adaptar a novas limitações, melhorando sua qualidade de vida.

É possível prevenir um AVC isquêmico

A boa notícia é que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos casos de AVC podem ser prevenidos com o controle adequado dos fatores de risco. As principais medidas preventivas incluem:

• Controlar a pressão arterial: A hipertensão é o principal fator de risco para AVC.
• Gerenciar o diabetes: Manter os níveis de glicose no sangue sob controle.
• Manter o colesterol em níveis saudáveis: Evitar o acúmulo de placas de gordura nas artérias.
• Não fumar: O tabagismo aumenta significativamente o risco de formação de coágulos.
• Praticar atividade física regularmente: Conforme orientação profissional.
• Manter uma alimentação equilibrada: Baixa em sal, gorduras saturadas e açúcar.
• Limitar o consumo de álcool.

Consultas médicas regulares são fundamentais para monitorar esses fatores e agir preventivamente. Cuidar da saúde cardiovascular é a forma mais eficaz de proteger o cérebro.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

HUANG, S. et al. Research progress on the role of hormones in ischemic stroke. Frontiers in Immunology, dez. 2022. DOI: https://www.frontiersin.org/journals/immunology/articles/10.3389/fimmu.2022.1062977/full. Disponível em: URL. Acesso em: dd mmm. aaaa.

KAMAL, F. Z. et al. The role of potential oxidative biomarkers in the prognosis of acute ischemic stroke and the exploration of antioxidants as possible preventive and treatment options. International Journal of Molecular Sciences, 28 mar. 2023. DOI: https://www.mdpi.com/1422-0067/24/7/6389. Disponível em: URL. Acesso em: dd mmm. aaaa.

QIN, C. et al. Signaling pathways involved in ischemic stroke: molecular mechanisms and therapeutic interventions. Signal Transduction and Targeted Therapy, jul. 2022. DOI: https://doi.org/10.1038/s41392-022-01064-1. Disponível em: URL. Acesso em: dd mmm. aaaa.

QIU, Y. M. et al. Immune cells in the BBB disruption after acute ischemic stroke: targets for immune therapy? Frontiers in Immunology, jun. 2021. DOI: https://www.frontiersin.org/journals/immunology/articles/10.3389/fimmu.2021.678744/full. Disponível em: URL. Acesso em: dd mmm. aaaa.

WU, F. et al. Microenvironment-responsive nanosystems for ischemic stroke therapy. Theranostics, set. 2024. DOI: https://www.thno.org/v14p5571.htm. Disponível em: URL. Acesso em: dd mmm. aaaa.