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Glioblastoma tem cura? O que os tratamentos e a ciência dizem sobre a sobrevida

Apesar da agressividade do tumor, a medicina evolui rapidamente. Descubra as novas terapias que trazem esperança no tratamento do glioblastoma.

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O Glioblastoma Multiforme (GBM) é um dos diagnósticos mais desafiadores na oncologia. É o tumor maligno primário do sistema nervoso central mais frequente e possui uma alta taxa de morbidade e mortalidade.

Dados recentes mostram que a prevalência da doença no Brasil se aproxima de 6,04 por 100 mil habitantes, sendo mais comum em pacientes com mais de 50 anos, segundo análise publicada no Brazilian Journal of Neurosurgery em 2023.

Devido à sua natureza agressiva e à dificuldade de tratamento, a pergunta central para pacientes e familiares é sempre a mesma: glioblastoma tem cura?

Entenda o real panorama da sobrevida, a natureza desse tumor e as inovações médicas que estão mudando a forma como essa doença é enfrentada.

Glioblastoma tem cura? Saiba mais sobre a sobrevida dos pacientes diagnosticados

O glioblastoma não é considerado uma doença curável na grande maioria dos casos. A cura completa e definitiva, onde todas as células cancerosas são eliminadas e o paciente vive livre da doença, é extremamente rara, atingindo uma pequena porcentagem de pacientes.

Classificado como grau IV pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o glioblastoma tem um alto nível de malignidade, velocidade de crescimento e capacidade de infiltração nas áreas do cérebro.

Sobrevida no glioblastoma grau 4

Com o tratamento padrão atual (conhecido como Protocolo Stupp, que combina cirurgia, radioterapia e quimioterapia), o tempo de vida esperado (sobrevida média) dos pacientes geralmente fica entre 15 e 20 meses, segundo o estudo original de Stupp de 2005 e diretrizes de 2023 da Associação Brasileira De Oncologia Clínica (SBOC).

A chance de sobrevivência a longo prazo, de cinco anos ou mais, é baixa, estimada em menos de 10% dos casos, segundo o acompanhamento do estudo de Stupp de 2005). Os poucos pacientes que vivem por esse período ou mais são chamados de "sobreviventes de longo prazo".

Geralmente, esses indivíduos têm características biológicas específicas no tumor que o tornam menos resistente ao tratamento e mais fácil de combater.

O glioblastoma é uma doença crônica e muito agressiva. Os esforços dos médicos visam transformá-lo em uma condição que possa ser controlada pelo maior tempo possível.

Entenda melhor o que é glioblastoma

O glioblastoma multiforme é um tipo de câncer que atinge o cérebro. Para entender de onde ele vem, precisamos olhar para as células de suporte do cérebro.

Ele se origina nas células da glia, que podem ser pensadas como o "cimento" ou os ajudantes dos neurônios. Essas células da glia dão suporte, nutrem e protegem as células nervosas (os neurônios).

Esse tipo de câncer se desenvolve especificamente em um tipo de célula glial chamado astrócito.

O termo "multiforme" é usado porque, quando o tumor é examinado, as células que o compõem têm muitas formas e tamanhos diferentes dentro da mesma massa. Isso não significa que ele muda de lugar, mas sim que sua estrutura interna é complexa e caótica, o que reflete a sua natureza biologicamente agressiva.

O que causa o glioblastoma e quais são os sintomas?

Na maioria dos casos, a causa exata do glioblastoma é desconhecida e a doença surge de forma esporádica no paciente.

Não há um fator de risco único e claro para a população em geral. Raramente, a condição pode estar ligada a síndromes genéticas específicas ou à exposição prévia à radioterapia na região da cabeça, mas estes são casos excepcionais.

Os sintomas que o tumor provoca variam muito, pois dependem de qual área do cérebro está sendo afetada, do tamanho do tumor e de quão rápido ele está crescendo. O tumor ocupa espaço e pode causar inchaço (edema) no cérebro, elevando a pressão interna.

Os sinais mais comuns de que algo não está bem e que devem levar à investigação médica incluem:

  • Dores de cabeça persistentes que se tornam mais fortes ou frequentes com o tempo;
  • Convulsões, que podem ser o primeiro sintoma em muitos pacientes;
  • Problemas neurológicos que aparecem e pioram progressivamente, como a sensação de fraqueza em um braço ou uma perna;
  • Mudanças no comportamento, no humor ou dificuldades de memória e raciocínio;
  • Náuseas e vômitos que se repetem, frequentemente manifestando-se pela manhã, pois a pressão intracraniana aumenta durante o sono.

É importante lembrar que esses sintomas são inespecíficos e podem ser causados por muitas outras condições menos graves. O diagnóstico do glioblastoma sempre dependerá de exames de imagem avançados, como a ressonância magnética, e da biópsia do tecido.

Fatores que determinam a sobrevida e o prognóstico do glioblastoma

Embora o glioblastoma tenha um prognóstico (o resultado provável do tratamento) desafiador, a sobrevida de um paciente não é determinada apenas pelo diagnóstico. Ela depende de vários fatores clínicos e moleculares que influenciam a eficácia do tratamento.

Três pontos principais são levados em conta pelos médicos:

A cirurgia de remoção do tumor

O fator mais imediato é o quanto do tumor o cirurgião consegue remover. Quanto maior for a remoção da massa tumoral durante a cirurgia (a chamada "ressecção máxima e segura"), mais células cancerosas são eliminadas.

Essa remoção torna o trabalho da radioterapia e da quimioterapia subsequentes muito mais fáceis, resultando em uma sobrevida maior.

A condição do paciente

Pacientes mais jovens (geralmente abaixo dos 70 anos) e aqueles com um bom estado de saúde geral tendem a ter um prognóstico melhor.

Eles geralmente respondem melhor à intensidade do tratamento (que pode ser agressivo) e se recuperam mais rapidamente dos procedimentos.

A biologia do tumor pelos marcadores moleculares

Este é o ponto mais crucial na medicina moderna, pois o tratamento é adaptado à "identidade" genética do glioblastoma. Essa genética é analisada pelos médicos por meio de dois fatores principais:

O primeiro fator é a metilação do gene MGMT. O gene MGMT é como um mecanismo de "reparo de danos" da célula cancerosa. Se ele estiver "metilado" (o que significa que está desligado ou desativado), a célula cancerosa não consegue consertar o estrago causado pela Temozolomida, que é o principal medicamento de quimioterapia oral usado contra esse tipo de câncer.

Isso torna o tumor muito mais vulnerável ao tratamento, permitindo que ele funcione de forma mais eficaz e, assim, prolongando a vida do paciente.

O segundo fator analisado é a mutação IDH. O gene IDH é um marcador genético que, quando alterado (mutado), indica que o tumor é de um subtipo que cresce de forma biologicamente menos agressiva e mais lenta do que a maioria dos glioblastomas.

Para esses pacientes, o resultado do tratamento costuma ser significativamente mais favorável, e a sobrevida tende a ser maior.

Em resumo, a duração da sobrevida é uma soma de esforços. Depende da capacidade do cirurgião de limpar a área, da resistência e saúde do paciente e, principalmente, da "assinatura genética" do tumor, que indica quais medicamentos terão maior sucesso.

Tratamentos para glioblastoma: conheça o Protocolo Stupp

O tratamento do glioblastoma é sempre multidisciplinar, o que significa que ele combina diferentes abordagens e envolve o trabalho conjunto de vários especialistas (neurocirurgião, oncologista, radioterapeuta) para obter o melhor resultado possível.

O tratamento de primeira linha, considerado o padrão global de cuidado para o glioblastoma, é conhecido como Protocolo Stupp. Ele é realizado em etapas:

  • Cirurgia de ressecção: é o primeiro passo, quando possível. O objetivo é remover o máximo de tecido tumoral sem causar danos neurológicos permanentes, aliviando os sintomas de pressão;
  • Radioterapia: utilizada após a cirurgia para destruir as células tumorais remanescentes;
  • Quimioterapia com Temozolomida): é o medicamento oral padrão que, geralmente, é administrado durante a radioterapia e continua em ciclos após o término dela, potencializando o efeito da radiação.

Essa combinação agressiva e sequencial de cirurgia de radiação e quimioterapia é a que vai aumentar de forma significativa a sobrevida dos pacientes diagnosticados.

Pesquisas e inovações nos tratamentos do glioblastoma

A ciência não parou no Protocolo Stupp e está explorando novas armas para lutar contra este tumor. As principais inovações a seguir buscam formas mais inteligentes de atacar as células cancerosas com menos dano ao paciente:

Campos de Tratamento de Tumor (TTFields)

Nesse tipo de terapia, são aplicados campos elétricos fracos, de forma não invasiva por meio de eletrodos que o paciente cola na cabeça.

O objetivo é interromper a divisão das células cancerosas, como um obstáculo que impede o tumor de crescer e se multiplicar. É um tratamento complementar à quimioterapia que visa retardar o avanço da doença.

Imunoterapia

Esta é a esperança de "ensinar" o sistema de defesa do próprio corpo (o sistema imunológico) a reconhecer e a destruir o tumor.

Embora os resultados iniciais no glioblastoma tenham sido mais lentos e desafiadores do que em outros tipos de câncer, a pesquisa continua intensa para desenvolver medicamentos que consigam fazer o corpo do paciente lutar contra a doença de forma mais eficaz.

Terapias direcionadas visando o alvo

São medicamentos feitos sob medida para atacar erros genéticos específicos do tumor (como a Mutação IDH).

Ao invés de atacar todas as células rapidamente, esses medicamentos miram apenas nas "vias" ou "engrenagens" que o câncer usa para crescer, o que pode ser mais preciso e ter menos efeitos colaterais.

Terapia viral, ou viroterapia

Envolve usar vírus modificados em laboratório que são programados para infectar e destruir as células cancerosas seletivamente, sem prejudicar o tecido cerebral saudável.

Além de matar a célula tumoral, o vírus ajuda a alertar o sistema imunológico para a presença do câncer.

Em resumo, a combinação do tratamento padrão com estas novas tecnologias e o crescente conhecimento sobre a biologia molecular do tumor trazem mais esperança de estender a sobrevida e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA (SBOC). Diretrizes SBOC: Gliomas. São Paulo: SBOC, 2023. Disponível em: https://app.sboc.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Diretrizes-SBOC-2023-Gliomas-v9-APROVADA-PELO-AUTOR.pdf. Acesso em: 9 out. 2025.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa. Acesso em: 9 out. 2025.

MALUF, Fernando. Maior Avanço em 25 Anos: Brasil Aprova Nova Terapia para Tumor Cerebral. Forbes Brasil, 19 ago. 2025. Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2025/08/maior-avanco-em-25-anos-brasil-aprova-nova-terapia-para-tumor-cerebral/. Acesso em: 9 out. 2025.

SILVA, Christiane Nazareth et al. Analysis of the Epidemiological Profile of Glioblastomas in Brazil Between 2012 and 2021: evidence and challenges for public health. Brazilian Journal of Neurosurgery, v. 37, n. 4, p. 306-312, 2023. Disponível em: https://www.jbnc.org.br/artigo/analise-do-perfil-epidemiologico-de-glioblastomas-no-brasil-entre-2012-e-2021-evidencias-e-desafios-para-a-saude-publica/1575. Acesso em: 9 out. 2025.

STUPP, Roger et al. Radiotherapy plus concomitant and adjuvant temozolomide for glioblastoma. The New England Journal of Medicine, v. 352, n. 10, p. 987–996, 2005. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa043330. Acesso em: 9 out. 2025.

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