Ansiedade causa diarreia? Entenda a conexão intestino-cérebro

Saiba como o estresse e a saúde mental impactam diretamente o sistema digestivo e aprenda a gerenciar os sintomas.

A cena é familiar para muitos: uma entrevista de emprego importante, uma apresentação crucial ou um exame final se aproxima. De repente, junto com o coração acelerado e as mãos suadas, surge uma pontada na barriga e uma necessidade urgente e incontrolável de ir ao banheiro. Essa situação ilustra perfeitamente a poderosa ligação entre a mente e o sistema digestivo.

Situações desafiadoras, como períodos de confinamento ou grande estresse, são conhecidas por desencadear ansiedade, um efeito psicológico negativo frequentemente relatado, por exemplo, por profissionais de saúde.

Qual é a relação entre ansiedade e diarreia?

A conexão entre o que sentimos e como nosso intestino reage não é mera coincidência. Ela ocorre por meio do chamado eixo intestino-cérebro, uma complexa rede de comunicação bidirecional que conecta os sistemas nervoso central e entérico (o sistema nervoso do intestino).

É importante saber que a comunicação entre o intestino e o cérebro, mediada pelo nervo vago e pela microbiota intestinal, pode influenciar diretamente o nosso bem-estar emocional.

Quando você vivencia uma situação de estresse ou ansiedade, seu corpo ativa a resposta de "luta ou fuga". Esse mecanismo de sobrevivência prepara o organismo para reagir a uma ameaça percebida. O cérebro sinaliza a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina, que causam diversas alterações fisiológicas, inclusive no sistema digestivo.

Como o estresse afeta o funcionamento do intestino?

A cascata de reações químicas iniciada pela ansiedade impacta o intestino de maneira direta e rápida. Esse processo pode ser dividido em algumas etapas principais que resultam no quadro de diarreia.

O estresse psicológico, incluindo a ansiedade, pode agravar os sintomas intestinais, como a diarreia. Isso ocorre porque o estresse ativa áreas específicas do cérebro, que por sua vez aumentam a sensibilidade do intestino.

Liberação de hormônios e neurotransmissores

O cortisol e a adrenalina aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial. No sistema digestivo, eles podem acelerar a motilidade intestinal, que é a contração dos músculos que movem os alimentos pelo trato digestivo. O fluxo sanguíneo também é desviado dos órgãos digestivos para os músculos maiores, o que pode interferir na digestão normal.

Alterações na motilidade e secreção intestinal

Com a motilidade aumentada, os alimentos e líquidos passam pelo intestino grosso muito rapidamente. Isso impede que o cólon absorva água suficiente das fezes, resultando em evacuações mais frequentes e líquidas, características da diarreia. Além disso, o estresse pode aumentar a secreção de fluidos no intestino, agravando o quadro.

O papel da serotonina

Embora seja conhecida como o "hormônio do bem-estar" no cérebro, cerca de 95% da serotonina do corpo é produzida no intestino. Lá, ela desempenha um papel fundamental na regulação das funções gastrointestinais. Níveis alterados de serotonina, influenciados pelo estresse, podem levar a espasmos e ao aumento da velocidade do trânsito intestinal.

Quais são os sintomas da diarreia por ansiedade?

A diarreia induzida pela ansiedade, muitas vezes chamada de "diarreia nervosa", apresenta sintomas específicos que geralmente coincidem com períodos de estresse elevado. É importante reconhecê-los:

• Urgência súbita: necessidade imediata de evacuar, muitas vezes em momentos inoportunos.
• Fezes aquosas: consistência líquida ou pastosa.
• Cólicas abdominais: dores e espasmos na região da barriga.
• Inchaço e gases: sensação de estufamento abdominal.
• Náusea: em alguns casos, o desconforto pode vir acompanhado de enjoo.

Diferentemente de uma diarreia infecciosa, a versão causada pela ansiedade raramente é acompanhada por febre, vômitos intensos ou sangue nas fezes. Os episódios tendem a ser pontuais e melhoram conforme o nível de estresse diminui.

Como é possível diferenciar de outras condições gastrointestinais?

O principal fator distintivo é o gatilho. A diarreia por ansiedade está diretamente ligada a eventos estressantes. Se os sintomas aparecem consistentemente antes de uma prova, uma reunião ou durante uma discussão, a causa emocional é provável.

No entanto, sintomas crônicos podem indicar outras condições, como a Síndrome do Intestino Irritável (SII), que também é fortemente influenciada pelo estresse. Apenas um médico pode fazer o diagnóstico correto, descartando outras doenças como intolerâncias alimentares ou doenças inflamatórias intestinais.

O que fazer para gerenciar a diarreia causada por ansiedade?

O manejo eficaz envolve abordar tanto os sintomas físicos quanto a causa raiz: a ansiedade. Algumas estratégias podem ajudar a controlar as crises e melhorar a qualidade de vida.

Estratégias de curto prazo para crises

• Respiração diafragmática: inspire lentamente pelo nariz, sentindo o abdômen expandir, e expire pela boca. Isso ajuda a acalmar o sistema nervoso.
• Hidratação: beba pequenos goles de água ou soluções de reidratação oral para repor os fluidos perdidos.
• Alimentação leve: opte por alimentos de fácil digestão, como arroz branco, banana e torradas, evitando comidas gordurosas, cafeína e álcool.

Estratégias de longo prazo para prevenção

Quando devo procurar um médico?

Embora a diarreia por ansiedade seja comum, não se deve ignorar os sinais do corpo. É fundamental procurar avaliação médica, especialmente de um gastroenterologista ou clínico geral, se você apresentar:

• Sintomas persistentes ou que pioram com o tempo.
• Presença de sangue nas fezes.
• Perda de peso não intencional.
• Febre persistente.
• Dor abdominal intensa que não melhora após a evacuação.

Um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra, também é essencial para tratar a ansiedade de forma adequada, o que, por consequência, ajudará a aliviar os sintomas digestivos.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

BRENNER, L.; ZERLIN, L.; TAN, L. L. Functional disruption of cortical cingulate activity attenuates visceral hypersensitivity and anxiety induced by acute experimental colitis. Scientific Reports, Jan. 2021. Disponível: https://www.nature.com/articles/s41598-021-81256-x. Acesso em: 17 out. 2025.

KIM, S. et al. Exploring the experience of health professionals who cared for patients with coronavirus infection: Hospitalised isolation and self‐image. Journal of Clinical Nursing, 27 ago. 2020. DOI: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jocn.15455. Acesso em: 17 out. 2025.

THEODOROPOULOS, G. et al. Synbiotics and gastrointestinal function-related quality of life after elective colorectal cancer resection. Annals of Gastroenterology, 30(6): p. 696–704, 2017. Disponível: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26752951/. Acesso em: 17 out. 2025.