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Trombofilia adquirida: o que é, causas e como manejar os riscos

Uma condição que surge ao longo da vida e exige atenção, especialmente em situações como gravidez ou cirurgias.

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Receber um diagnóstico ou ouvir a suspeita de uma condição com um nome complexo pode gerar insegurança. Talvez você tenha passado por um episódio de trombose sem causa aparente, ou esteja planejando uma gravidez e seu médico mencionou a necessidade de investigar a coagulação do seu sangue. Essas situações, embora preocupantes, são o primeiro passo para entender e manejar um quadro como a trombofilia adquirida.

O que é exatamente a trombofilia adquirida?

A trombofilia adquirida é uma condição clínica na qual o organismo desenvolve uma maior propensão a formar coágulos sanguíneos, conhecidos como trombos. Trata-se de uma coagulopatia que aumenta o risco de desenvolver tromboses, causada por fatores como câncer, a Síndrome Antifosfolípide ou a idade.

Esses coágulos podem obstruir veias e artérias, levando a quadros graves como a trombose venosa profunda (TVP), principalmente nas pernas, e a embolia pulmonar (EP), quando um coágulo se desloca para o pulmão.

Essa condição sanguínea pode levar o corpo a desenvolver anticorpos, como os antifosfolípides (APLA) e o anticoagulante lúpico (LA), que elevam a probabilidade de coágulos e o risco de complicações na gravidez, como observado na Síndrome Antifosfolípide (SAF).

Qual a diferença entre trombofilia adquirida e hereditária?

A principal distinção está na origem do problema. Enquanto a trombofilia hereditária é causada por mutações genéticas passadas de pais para filhos, a trombofilia adquirida surge como consequência de outras doenças ou fatores externos. Em outras palavras, a forma hereditária é uma condição de nascença, e a adquirida é uma condição que se instala posteriormente.

Como uma pessoa desenvolve trombofilia adquirida?

Diversos fatores podem levar ao desenvolvimento da trombofilia adquirida. A identificação da causa é crucial para um manejo adequado do risco. As principais condições associadas são:

  • Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF): considerada a causa mais comum de trombofilia adquirida. É uma doença autoimune que eleva o risco de trombose tanto em veias quanto em artérias. Nela, o sistema imunológico produz anticorpos que, por engano, atacam proteínas do próprio corpo, alterando o processo de coagulação.
  • Câncer (neoplasias): certos tipos de tumores podem liberar substâncias que ativam a coagulação sanguínea, aumentando o risco de trombose.
  • Doenças autoimunes: além da SAF, outras condições como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide podem estar associadas.
  • Imobilização prolongada: longos períodos de repouso, como após cirurgias de grande porte ou durante longas viagens de avião ou carro, diminuem o fluxo sanguíneo nas veias e favorecem a formação de coágulos.
  • Uso de medicamentos: terapias de reposição hormonal e alguns contraceptivos orais podem alterar os fatores de coagulação em pessoas predispostas.
  • Gravidez e puerpério: as alterações hormonais e a compressão das veias pélvicas pelo útero em crescimento aumentam naturalmente o risco de trombose durante a gestação e nas semanas após o parto.
  • Níveis elevados de homocisteína: a presença de níveis altos dessa substância no sangue também pode contribuir para o aumento do risco de coágulos.

Quais são os principais sinais e sintomas?

A trombofilia adquirida em si é uma condição silenciosa. Ela não causa sintomas diretos até que um trombo se forme e cause uma obstrução. Quando isso ocorre, os sinais dependem da localização do coágulo.

Os quadros mais comuns são:

Condição

Sintomas Característicos

 

Trombose Venosa Profunda (TVP)

Dor, inchaço, vermelhidão, calor e sensação de peso em uma das pernas, geralmente na panturrilha.

Embolia Pulmonar (EP)

Falta de ar súbita, dor no peito que piora ao respirar fundo, tosse (pode haver sangue), tontura e desmaio. É uma emergência médica.

Qual a relação entre trombofilia adquirida e a gravidez?

A gestação é um período de atenção especial para mulheres com trombofilia adquirida. A combinação dos fatores de risco da gravidez com a condição preexistente eleva significativamente a chance de eventos trombóticos.

Além disso, a trombofilia adquirida, especialmente a SAF, está associada a complicações obstétricas importantes. Entre os riscos estão: abortos espontâneos de repetição, pré-eclâmpsia (pressão alta na gravidez), restrição de crescimento fetal e parto prematuro. 

Por isso, mulheres com diagnóstico ou suspeita da condição devem ter um acompanhamento pré-natal de alto risco, geralmente com uma equipe multidisciplinar que inclui obstetra e hematologista.

Como é feito o diagnóstico da condição?

O diagnóstico da trombofilia adquirida geralmente é investigado após um evento trombótico sem uma causa óbvia, ou em casos de histórico familiar ou complicações gestacionais recorrentes. O médico especialista, como o hematologista, solicitará exames de sangue específicos.

Esses testes buscam identificar a presença de anticorpos anormais, como os encontrados na SAF (anticoagulante lúpico, anticardiolipina e anti-beta-2-glicoproteína I), ou outras alterações nos fatores de coagulação. É importante que os exames sejam realizados no momento adequado, pois alguns resultados podem ser alterados durante a fase aguda de uma trombose ou pelo uso de medicamentos.

Existe tratamento ou cura para a trombofilia adquirida?

A trombofilia adquirida não tem uma "cura" no sentido tradicional, mas pode ser eficazmente controlada. O objetivo do tratamento é prevenir a formação de novos coágulos e as complicações associadas. A principal estratégia é o uso de medicamentos anticoagulantes.

O tipo de medicamento e a duração do tratamento dependem da causa da trombofilia, da gravidade do evento trombótico e dos fatores de risco individuais. Em algumas situações, o uso pode ser contínuo; em outras, apenas em períodos de maior risco, como durante uma gravidez ou no pós-operatório. A adoção de um estilo de vida saudável, com atividade física regular e controle de peso, também é fundamental para a saúde vascular.

Quando devo procurar um médico?

É fundamental buscar avaliação médica especializada se você apresentar alguma das seguintes situações:

  • Um episódio de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, especialmente se ocorreu antes dos 50 anos e sem um fator de risco claro.
  • Histórico de perdas gestacionais recorrentes (três ou mais abortos espontâneos).
  • Histórico familiar de trombose em parentes de primeiro grau.
  • Diagnóstico de uma doença autoimune, como lúpus ou SAF.

A investigação correta permite um diagnóstico preciso e a implementação de estratégias preventivas que podem proteger sua saúde e garantir mais qualidade de vida.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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