20/08/2025
Revisado em: 20/08/2025
Saiba como diferenciar uma azia comum dos sintomas de refluxo e entenda por que a investigação correta é tão importante para a sua saúde.
Para entender os sintomas de refluxo, primeiro é preciso conhecer o que acontece dentro do nosso sistema digestivo. O refluxo gastroesofágico, ou Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), é uma condição que ocorre quando o conteúdo do estômago, que é ácido, retorna de forma anormal para o esôfago (o tubo que conecta a garganta ao estômago).
O nosso estômago produz um ambiente extremamente ácido para digerir os alimentos, graças à presença do ácido clorídrico. Para que essa substância não danifique o próprio órgão, ele é revestido por uma espessa camada de muco protetor.
Acima do estômago, temos o esôfago, o tubo que transporta o alimento da boca até ele. Diferente do estômago, o esôfago não possui essa mesma camada protetora e, por isso, é muito sensível a essa acidez.
Para impedir que o ácido retorne e agrida o esôfago, existe um anel muscular na transição entre os dois órgãos que funciona como uma válvula: o esfíncter esofágico inferior. A função desse esfíncter é como a de um portão de via única: ele se abre para a passagem do alimento e se fecha firmemente em seguida, mantendo o conteúdo ácido restrito ao estômago.
A doença do refluxo acontece quando essa válvula falha, seja por não se fechar corretamente ou por relaxar em momentos inadequados. Essa falha pode ser causada por diversos fatores, como o aumento da pressão dentro do abdômen (causado pela obesidade ou gravidez), a presença de uma hérnia de hiato ou o consumo de certos alimentos que relaxam o esfíncter.
Quando o conteúdo ácido "vaza" para o esôfago, ele agride a parede do órgão, causando uma queimação química que leva à inflamação, conhecida como esofagite, que gera a maioria dos sintomas clássicos do refluxo, como a azia e a dor.
A azia, aquela sensação de queimação na região do peito que pode subir até a garganta, é o sintoma mais característico do refluxo. Porém, quando ela surge apenas de vez em quando, após uma refeição mais pesada ou gordurosa, é uma experiência comum e não costuma indicar um problema crônico.
A principal diferença que transforma a azia em um sinal de alerta para o refluxo é a frequência. De acordo com as diretrizes da Federação Brasileira de Gastroenterologia, a suspeita da doença surge quando os episódios de queimação se tornam recorrentes e acontecem duas ou mais vezes por semana.
Além da constância, outros sinais ajudam a caracterizar o refluxo. A regurgitação, que é a volta do conteúdo ácido do estômago até a boca, deixando um gosto amargo ou azedo, é um sintoma muito sugestivo.
O contexto também importa: a azia do refluxo costuma piorar à noite, ao se deitar, ou ao inclinar o corpo para a frente, pois nessas posições a gravidade já não atua para manter o conteúdo ácido no estômago.
Com o tempo, o refluxo crônico e não tratado pode provocar complicações. A mais comum é a esofagite, uma inflamação na parede do esôfago causada pela agressão contínua do ácido, que pode levar a feridas e estreitamento do órgão.
Em uma minoria dos casos, essa inflamação crônica pode desencadear uma condição mais séria, chamada Esôfago de Barrett. Nela, o corpo tenta se proteger da acidez e substitui o revestimento normal do esôfago por um tecido mais parecido com o do intestino.
Porém, essa nova camada tem um risco aumentado de se transformar em câncer. Por essa razão, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta o refluxo de longa data como um dos fatores de risco para o câncer de esôfago.
É importante procurar um médico se os sintomas de refluxo vierem acompanhados de sinais de alerta, como dificuldade ou dor ao engolir, perda de peso sem causa aparente, anemia detectada em exames de sangue ou vômitos com sangue.
Esses quadros podem indicar complicações mais graves, como estreitamento do esôfago ou sangramentos na parede do próprio órgão, e exigem uma investigação cuidadosa de todo o sistema digestivo.
Algumas mudanças simples nos hábitos de vida podem ter um grande impacto no alívio dos sintomas de refluxo, e a boa notícia é que muitas das estratégias de controle estão ao seu alcance e se baseiam em ajustes na rotina.
A primeira e mais importante orientação é a postural. É recomendado aguardar pelo menos duas horas após uma refeição antes de se reclinar ou ir para a cama. Essa atitude simples usa a gravidade a seu favor, ajudando a manter o conteúdo gástrico no estômago. Além disso, para quem sofre com sintomas noturnos de refluxo, elevar a cabeceira da cama em 15 a 20 centímetros com calços costuma trazer alívio.
A alimentação tem influência direta nas crises, já que alguns alimentos podem piorar o refluxo por relaxarem a válvula do esôfago ou por aumentarem a produção de ácido. Entre eles estão frituras, gorduras, café, chocolate, bebidas alcoólicas e refrigerantes.
Além de escolher melhor o que se come, é importante prestar atenção no como se come: fracionar as refeições e optar por porções menores ao longo do dia ajuda a evitar a pressão excessiva no estômago e reduz o risco do problema.
Outros dois hábitos têm impacto relevante na prevenção: o controle do peso e a interrupção do tabagismo. O excesso de gordura abdominal aumenta a pressão sobre o estômago, favorecendo o refluxo. Já a nicotina presente no cigarro relaxa o esfíncter esofágico inferior, facilitando o retorno do ácido para o esôfago.
O alívio do refluxo começa com a identificação dos seus gatilhos pessoais. Se, mesmo com essas mudanças de hábito, a dor no estômago e a queimação persistirem, a avaliação de um gastroenterologista se torna o caminho mais seguro. O médico poderá confirmar o diagnóstico e indicar o tratamento adequado para prevenir complicações futuras e melhorar seu bem-estar.
Referências bibliográficas:
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA (FBG). Refluxo Gastroesofágico: Orientações para Pacientes. São Paulo: FBG, [s.d.]. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/refluxo-gastroesofagico-diagnostico-e-tratamento.pdf. Acesso em: 05 ago. 2025
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Câncer de Esôfago. Rio de Janeiro: INCA, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/esofago. Acesso em: 05 ago. 2025.
POPULARES EM SINTOMAS
Os conteúdos mais buscados sobre Sintomas
Entenda como o refluxo se manifesta, desde a azia até a tosse crônica, e saiba quando os sintomas podem indicar algo mais sério.
Leia maisSintomas persistentes de exaustão e desânimo podem indicar burnout, e não apenas estresse. Saiba como identificar os sinais e quando buscar ajuda.
Leia maisDor de cabeça, febre e cansaço? Saiba como identificar os sintomas de virose e quando buscar ajuda. Continue lendo!
Leia mais