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Se minha mãe teve câncer, eu também posso ter?

Entenda a relação entre o histórico familiar materno e o risco de desenvolver a doença, e saiba quais são os próximos passos para cuidar da sua saúde.

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A notícia chega por telefone ou em uma conversa séria na sala de estar. Saber que sua mãe tem ou teve câncer desperta uma série de emoções e, entre elas, uma dúvida inevitável e urgente: "isso pode acontecer comigo também?". Essa preocupação é legítima e o primeiro passo para uma abordagem proativa com a sua saúde.

Se minha mãe teve câncer, eu posso ter?

Não necessariamente. Esta é a resposta mais direta e tranquilizadora. Embora o histórico familiar seja um fator de risco conhecido, ele não é uma sentença. 

De fato, ter um parente de primeiro grau, como a mãe, com histórico de câncer é um fator crucial na avaliação do risco individual de câncer hereditário. O câncer em si não é transmitido de mãe para filho, o que pode ser herdado é uma mutação genética que aumenta a predisposição para desenvolver a doença.

É importante saber que a grande maioria dos diagnósticos de câncer não possui uma causa hereditária. Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério de Saúde (BVSMS), estima-se que apenas 5% a 10% de todos os tumores malignos se devam a síndromes genéticas herdadas.

Qual é a diferença entre câncer hereditário, familiar e esporádico?

Compreender esses três conceitos é essencial para avaliar seu risco de forma correta. Eles descrevem como o câncer pode se manifestar em relação à genética e ao histórico de uma família, mas representam cenários muito distintos.

Câncer hereditário: a mutação no DNA

Ocorre quando uma pessoa herda do pai ou da mãe uma mutação específica em um gene que predispõe ao câncer. Essa alteração genética está presente em todas as células do corpo desde o nascimento. Indivíduos com essa condição têm um risco significativamente maior de desenvolver certos tipos de câncer, muitas vezes em idade mais jovem.

Câncer familiar: o agrupamento por fatores mistos

Neste caso, observa-se uma maior ocorrência de um ou mais tipos de câncer em uma família do que o esperado para a população geral, mas sem a identificação de uma única mutação genética herdada. 

Por exemplo, no câncer colorretal, entre 20% e 30% dos casos apresentam um padrão familiar, indicando uma predisposição compartilhada. Esse agrupamento pode ser resultado de uma combinação de fatores genéticos de menor impacto e, principalmente, exposição a fatores de risco semelhantes, como dieta e estilo de vida.

Câncer esporádico: a grande maioria dos casos

Corresponde a cerca de 90% de todos os diagnósticos. O câncer esporádico acontece por mutações genéticas que ocorrem ao longo da vida de uma pessoa, devido a fatores ambientais, hábitos de vida (como tabagismo e sedentarismo) ou simplesmente pelo processo natural de envelhecimento. Não há uma ligação direta com a genética herdada da família.

Que sinais indicam um possível risco hereditário na família?

Algumas características no histórico de saúde da sua família podem sugerir uma investigação mais aprofundada sobre a predisposição hereditária. É importante conversar com seu médico se você observar um ou mais dos seguintes padrões:

  • Dois ou mais parentes de primeiro grau (mãe, pai, irmãos) com o mesmo tipo de câncer. Pessoas com um parente de primeiro grau com câncer colorretal, por exemplo, têm um risco de duas a seis vezes maior de desenvolver a doença.
  • Diagnóstico de câncer em idade jovem (antes dos 50 anos). No caso do câncer colorretal, aproximadamente 28% dos pacientes diagnosticados antes dos 50 anos possuem histórico familiar.
  • Um mesmo parente com mais de um tipo de câncer (por exemplo, mama e ovário).
  • Casos de cânceres considerados raros na família.
  • Ocorrência de câncer de mama em homens na família.

Quais tipos de câncer têm maior componente hereditário conhecido?

Embora qualquer tipo de câncer possa ter uma forma hereditária, alguns são mais comumente associados a síndromes genéticas. A identificação de genes específicos, como BRCA1 e BRCA2, revolucionou a prevenção em muitas famílias.

Tipo de Câncer

Genes Comumente Associados

 

Mama e Ovário

BRCA1, BRCA2, PALB2, TP53

Colorretal

APC, MLH1, MSH2 (Síndrome de Lynch)

Próstata

BRCA2, HOXB13

Pâncreas

BRCA1, BRCA2, PALB2

Melanoma

CDKN2A

É relevante notar que, no caso do câncer de mama, entre 15% e 20% dos diagnósticos estão relacionados ao histórico familiar. A maior parte dos casos, contudo, é esporádica e não tem ligação direta com a genética herdada.

Como devo conversar com meu médico sobre o histórico familiar?

Levar essa preocupação ao seu médico é fundamental. Para tornar a consulta mais produtiva, prepare-se com o máximo de informações possível. Uma conversa bem informada permite que o profissional avalie seu risco de forma mais precisa. Siga estes passos:

  1. Liste os familiares com câncer: inclua parentes de primeiro e segundo grau (avós, tios) tanto do lado materno quanto paterno.
  2. Anote o tipo de câncer: especifique o local do tumor primário (ex: mama, intestino, pulmão).
  3. Registre a idade do diagnóstico: essa informação é crucial, pois cânceres em idades mais jovens são um forte indicativo de risco hereditário.
  4. Pergunte sobre testes genéticos: questione se algum familiar já realizou testes e quais foram os resultados.

Com base nessas informações, o médico poderá indicar a necessidade de um aconselhamento genético com um especialista.

O que é e quando fazer o aconselhamento genético?

O aconselhamento genético é uma consulta com um médico geneticista ou oncogeneticista que avalia o risco de uma pessoa ou família desenvolver certas doenças com base em seu histórico pessoal e familiar. Não é um procedimento indicado para todos, mas sim para aqueles com fortes indícios de risco hereditário.

Nessa consulta, o especialista irá "desenhar" a árvore genealógica da sua família, analisar os padrões de câncer e discutir os prós e contras da realização de um teste genético. Esse teste, geralmente feito a partir de uma amostra de sangue ou saliva, busca por mutações específicas em genes conhecidos por aumentar o risco de câncer.

É possível reduzir meu risco mesmo com histórico familiar?

Sim. Mesmo que uma predisposição genética seja confirmada, isso não significa que o desenvolvimento do câncer é inevitável. Um resultado positivo para uma mutação genética permite a criação de um plano de vigilância e prevenção personalizado.

Além disso, medidas de estilo de vida saudável impactam positivamente na redução do risco para a população geral e também para pessoas com predisposição genética. Práticas recomendadas incluem:

  • Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais e fibras.
  • Praticar atividades físicas regularmente.
  • Evitar o consumo de álcool e não fumar.
  • Manter um peso saudável.
  • Realizar exames de rotina conforme a orientação médica, que pode incluir rastreamentos mais precoces ou frequentes.

Saber que sua mãe teve câncer é um forte motivador para você se tornar protagonista da sua própria saúde. Use essa informação não como uma fonte de medo, mas como um guia para ações preventivas e conscientes. Converse com seus familiares, organize seu histórico de saúde e, acima de tudo, procure orientação médica qualificada.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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