20/08/2025
Revisado em: 27/08/2025
Um reflexo branco no olho de uma criança pode ser um sinal sutil, mas de grande importância; entenda o que é o retinoblastoma e por que a atenção dos pais é decisiva para o diagnóstico.
O retinoblastoma infantil é um tumor ocular raro, e a informação correta é a principal aliada dos pais. Um sinal como um reflexo branco em uma foto, pode parecer sutil, mas é o primeiro sinal de alerta. Conhecer os sintomas e saber como agir é o que transforma a preocupação em uma ação rápida e direcionada.
Para entender como o tumor surge, é preciso conhecer a parte do olho que ele afeta: a retina. De forma bem simples, ela é a camada que reveste o fundo do olho. Ao receber a luz,a retina capta as imagens e envia essas informações como uma mensagem ao cérebro, nos permitindo enxergar.
A doença se origina em células muito específicas da retina, chamadas retinoblastos. Durante o desenvolvimento do feto e nos primeiros anos de vida, a função normal dessas células é se multiplicar para formar a retina. Após cumprirem essa missão, elas deveriam parar de crescer. O retinoblastoma infantil surge quando uma mutação genética impede que esse sinal de "pare" aconteça.
Essa falha ocorre em um gene específico, o RB1. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o RB1 é o que os cientistas chamam de “gene supressor de tumor”, isso quer dizer que ele atua como um regulador natural do crescimento celular. Sua função é garantir que as células se multipliquem apenas quando necessário e na velocidade certa.
Quando esse gene sofre uma mutação, ele perde a capacidade de controlar esse processo. Como resultado, os retinoblastos passam a se dividir de forma desordenada e contínua.
Esse crescimento sem controle leva ao acúmulo de células anormais, que se agrupam e formam um ou mais tumores na retina. Com o tempo, essas massas tumorais podem comprometer tanto a estrutura quanto a função do olho.
Ninguém conhece uma criança melhor do que seus pais e cuidadores. Por isso, estar atento a mudanças sutis no olhar, na forma como ela enxerga ou no comportamento diante de objetos é decisivo para identificar precocemente o retinoblastoma infantil. Quando percebidos no início, esses sinais aumentam consideravelmente as chances de um tratamento bem-sucedido.
O indício mais comum é o já mencionado reflexo branco na pupila, a leucocoria. Outro sinal frequente é o estrabismo (olho vesgo), especialmente se ele surgir de forma repentina em uma criança que não o apresentava antes. Isso acontece porque quando o tumor cresce e afeta a área central da retina, a criança perde a capacidade de focar, e o olho acaba se desviando.
Além dos sinais mais conhecidos, outras alterações menos comuns também merecem atenção. Por exemplo, vermelhidão persistente e dor ocular podem indicar um aumento da pressão dentro do olho causado pelo tumor. Uma aparente perda de visão, que pode ser percebida quando a criança começa a esbarrar em objetos ou a ter dificuldade para pegar brinquedos, também é um sinal de alerta.
Vale lembrar ainda que embora o estrabismo seja comum em bebês, é importante entender que um desvio ocular novo e persistente nunca deve ser considerado normal e sempre exige uma avaliação.
O leucocoria é popularmente conhecido como "reflexo do olho de gato" e representa o sinal mais importante do retinoblastoma infantil por uma razão muito simples: ele é a visualização do próprio tumor.
Para entender como isso acontece, é preciso saber como o flash de uma câmera interage com um olho saudável. Normalmente, quando a luz do flash entra pela pupila, ela reflete nos vasos sanguíneos da retina, no fundo do olho, gerando o conhecido reflexo vermelho.
Quando um retinoblastoma está presente, o tumor, que tem uma coloração esbranquiçada, cresce sobre a retina e se posiciona na frente desses vasos. Assim, quando a luz do flash entra no olho, ela bate na superfície do tumor e reflete de volta essa luz branca. É por isso que o sinal é tão decisivo: o que os pais veem na foto não é apenas um reflexo, mas a imagem do próprio tumor.
Essa mesma lógica é a base do Teste do Olhinho, realizado pelo pediatra. O médico usa um aparelho para projetar uma luz e observar o reflexo. A presença de um reflexo branco no lugar do vermelho é o principal indicativo de que algo está obstruindo o fundo do olho, sendo o retinoblastoma a causa mais séria a ser investigada.
Então, um reflexo esbranquiçado em uma foto não deve ser ignorado ou tratado como um simples defeito da imagem. É um sinal que sozinho justifica uma avaliação com um pediatra ou oftalmologista.
A jornada de diagnóstico do retinoblastoma infantil começa com a suspeita dos pais ou do pediatra, que pode identificar a leucocoria durante o Teste do Reflexo Vermelho. Mais conhecido como Teste do Olhinho, este é um exame simples, rápido e indolor que faz parte das consultas pediátricas de rotina.
Diante de qualquer alteração, a criança deve ser encaminhada com urgência para um oftalmologista, preferencialmente um especializado em oncologia ocular. O exame que confirma a suspeita é o mapeamento de retina, também conhecido como exame de fundo de olho.
Para garantir o conforto da criança e a precisão da análise, o procedimento é frequentemente realizado sob sedação ou anestesia. Com a criança tranquila, o médico utiliza um aparelho para ter uma visão ampla de todo o fundo do olho para identificar a presença do tumor e também seu tamanho e localização.
Um ponto que diferencia o retinoblastoma da maioria dos outros tipos de câncer e seus tratamentos é que a biópsia não costuma ser realizada. A retirada de um fragmento do tumor é evitada, pois poderia aumentar o risco de as células cancerígenas se espalharem para fora do olho. O diagnóstico é confirmado com base nos achados clínicos e nos exames de imagem.
Os exames de imagem são fundamentais para determinar a extensão da doença. A ultrassonografia ocular é utilizada para analisar as características do tumor dentro do olho, como a presença de calcificações. Para avaliar o exterior do globo ocular, é feita a ressonância magnética, pois ela verifica se o tumor se espalhou para o nervo óptico ou para o cérebro.
A orientação mais importante é agir ao primeiro sinal de dúvida. Ao notar qualquer uma das alterações descritas o caminho é procurar imediatamente um pediatra ou um oftalmologista. Não se deve esperar para ver se o sintoma desaparece, pois no caso do retinoblastoma infantil, o tempo é um fator decisivo.
Então, se algo no olhar do seu filho parece diferente, essa percepção merece ser investigada. A ação rápida da família, somada ao conhecimento médico, é a parceria que garante as altíssimas chances de cura e um futuro saudável para a criança.
Referências bibliográficas:
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Retinoblastoma. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/infantojuvenil/especificos/retinoblastoma. Acesso em: 13 ago. 2025.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Retinoblastoma. Rio de Janeiro: SBP, 2022. Disponível em: https://soperj.com.br/retinoblastoma/. Acesso em: 13 ago. 2025.
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