04/09/2025
Revisado em: 05/09/2025
A resposta é sim, desde que a condição esteja controlada. Entenda a relação entre a tireoide e a fertilidade e os cuidados essenciais.
Aquele resultado de exame que confirma o diagnóstico de hipotireoidismo pode gerar muitas dúvidas, especialmente para quem planeja ter filhos. A incerteza sobre a fertilidade e os riscos para uma futura gravidez é uma preocupação comum e válida. A boa notícia é: sim, quem tem hipotireoidismo pode engravidar e ter uma gestação saudável.
No entanto, a chave para que tudo corra bem está em duas palavras: planejamento e controle. Manter os hormônios da tireoide em níveis adequados antes e durante a gravidez é essencial para a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê, ajudando a reduzir riscos de complicações como parto prematuro e diabetes gestacional. O tratamento correto transforma a condição em apenas um detalhe a ser gerenciado.
A tireoide, uma pequena glândula localizada no pescoço, atua como uma maestrina para diversas funções do corpo, incluindo o sistema reprodutivo. Quando ela produz menos hormônios do que o necessário (T3 e T4), condição chamada de hipotireoidismo, todo o metabolismo fica mais lento, o que pode interferir diretamente na fertilidade.
Essa interferência ocorre principalmente de duas formas: na regularidade do ciclo menstrual e na capacidade do útero de acolher o embrião.
Os hormônios da tireoide interagem com os hormônios reprodutivos, como o estrogênio e a progesterona, que regulam o ciclo menstrual. Quando os níveis de T3 e T4 estão baixos, o corpo pode tentar compensar aumentando a produção de outros hormônios, como a prolactina e o TRH (hormônio liberador de tireotrofina).
O excesso desses hormônios pode inibir a ovulação, tornando os ciclos menstruais irregulares ou até mesmo ausentes (anovulação). Sem a liberação de um óvulo, a fecundação se torna impossível.
Mesmo que a ovulação e a fecundação ocorram, os hormônios tireoidianos também são importantes para preparar o endométrio, a camada interna do útero onde o embrião se fixa. Um desequilíbrio hormonal pode resultar em uma fase lútea inadequada, período em que o endométrio não se desenvolve corretamente para receber o embrião, dificultando sua implantação e aumentando o risco de perdas gestacionais precoces.
Se a gravidez ocorre com o hipotireoidismo descompensado, os riscos de complicações aumentam tanto para a mãe quanto para o feto. Os hormônios da tireoide são vitais, especialmente nas primeiras 12 semanas de gestação, período em que a tireoide do bebê ainda não está formada e ele depende inteiramente da produção hormonal materna.
A gestante com hipotireoidismo não tratado tem maior probabilidade de desenvolver:
Para o feto, os hormônios tireoidianos maternos são cruciais para o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso. A falta deles pode levar a:
É importante notar que, mesmo em casos de hipotireoidismo subclínico – uma forma mais leve da condição –, as gestantes podem enfrentar riscos aumentados de aborto espontâneo e parto prematuro.
O planejamento é a ferramenta mais eficaz para garantir uma gestação tranquila. Mulheres com diagnóstico de hipotireoidismo que desejam engravidar devem procurar seus médicos antes mesmo de iniciar as tentativas.
Agendar uma consulta com o endocrinologista e o obstetra é o ponto de partida. Nessas conversas, o profissional irá avaliar seus exames, solicitar novas dosagens hormonais e traçar um plano de ação. É o momento de tirar todas as dúvidas e alinhar as expectativas.
O tratamento do hipotireoidismo é feito com a reposição do hormônio tireoidiano através da levotiroxina sintética, um medicamento seguro para uso na gestação.
O TSH (hormônio estimulador da tireoide) é o principal marcador para avaliar a função tireoidiana. Para mulheres que planejam engravidar, as diretrizes médicas, como as da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, geralmente recomendam que o nível de TSH seja mantido abaixo de 2,5 mUI/L. Alcançar essa meta antes da concepção reduz significativamente os riscos.
É comum que o endocrinologista precise ajustar a dose da levotiroxina para atingir o nível ideal de TSH. É importante ressaltar que, durante a gravidez, a terapia combinada de levotiroxina e liotironina não é recomendada.
Esse processo de ajuste pode levar algumas semanas ou meses. Por isso, a importância de iniciar o planejamento com antecedência, garantindo que o corpo esteja preparado para a concepção.
Uma vez confirmada a gravidez, a necessidade de hormônio tireoidiano aumenta, pois a mãe precisa suprir a sua demanda e a do bebê em desenvolvimento. Por isso, o acompanhamento médico se torna ainda mais próximo.
Os exames de TSH e T4 livre serão realizados com maior frequência, geralmente a cada 4 a 6 semanas durante a primeira metade da gravidez e pelo menos uma vez no terceiro trimestre. Com base nesses resultados, o médico fará os ajustes necessários na dose da medicação.
O ideal é que a gestante seja acompanhada tanto pelo obstetra quanto pelo endocrinologista. Esse trabalho em conjunto garante um cuidado completo, monitorando a saúde da mãe, o desenvolvimento do bebê e os níveis hormonais de forma integrada.
Não é raro que o hipotireoidismo seja diagnosticado pela primeira vez durante o pré-natal, em uma condição conhecida como hipotireoidismo gestacional. Pesquisas indicam que mulheres que iniciaram o tratamento para hipotireoidismo durante a gravidez tinham um histórico de infertilidade com maior frequência antes da gestação. Além disso, estudos recentes exploram fatores como a exposição ao flúor em gestantes na presença do hipotireoidismo.
Caso o diagnóstico ocorra durante a gravidez, não há motivo para pânico. O tratamento com a reposição hormonal deve ser iniciado imediatamente, sob orientação médica, para normalizar os níveis o mais rápido possível e proteger o desenvolvimento do bebê.
Algumas dúvidas são bastante comuns em consultórios e merecem esclarecimento.
A Tireoidite de Hashimoto é a principal causa de hipotireoidismo no Brasil. Trata-se de uma doença autoimune na qual o próprio corpo ataca a tireoide. Assim como no hipotireoidismo por outras causas, mulheres com Hashimoto podem engravidar, desde que a função da glândula esteja controlada com o tratamento adequado.
Embora menos comum, o hipotireoidismo também pode afetar a fertilidade masculina. A condição pode levar à diminuição da libido, disfunção erétil e alterações na qualidade e morfologia dos espermatozoides. O tratamento adequado geralmente restaura a função reprodutiva normal.
Sim. Mulheres que passaram pela remoção cirúrgica da tireoide (tireoidectomia) desenvolvem um hipotireoidismo definitivo. Elas dependem da reposição hormonal diária para o resto da vida. Com o tratamento correto e os níveis hormonais estabilizados, é perfeitamente possível ter uma gravidez saudável, seguindo os mesmos cuidados de monitoramento.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
CHEN, A. et al. Emerging research themes in maternal hypothyroidism: a bibliometric exploration. Frontiers in Immunology, mar. 2024. DOI: https://doi.org/10.3389/fimmu.2024.1370707. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/immunology/articles/10.3389/fimmu.2024.1370707/full. Acesso em: 04 set. 2025.
DEMARTIN, S. et al. Long-term hypothyroidism in patients started on levothyroxine during pregnancy. European Thyroid Journal, jun. 2024. DOI: https://doi.org/10.1530/ETJ-24-0051. Disponível em: https://etj.bioscientifica.com/view/journals/etj/etj-ahead-of-print/etj-24-0051.xml. Acesso em: 04 set. 2025.
HALL, M. et al. Fluoride exposure and hypothyroidism in a Canadian pregnancy cohort. The Science of the total environment, fev. 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2022.161149. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S004896972207904X. Acesso em: 04 set. 2025.
HAN, Y. et al. Relationship between subclinical hypothyroidism in pregnancy and hypertensive disorder of pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Frontiers in Endocrinology, mar. 2022. DOI: https://doi.org/10.3389/fendo.2022.823710. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/endocrinology/articles/10.3389/fendo.2022.823710/full. Acesso em: 04 set. 2025.
OPTIMAL THYROID HORMONE REPLACEMENT. Endocrine Reviews, set. 2021. DOI: https://doi.org/10.1210/endrev/bnab031. Disponível em: https://academic.oup.com/edrv/article/42/5/bnab031/6334460. Acesso em: 04 set. 2025.
POPULARES EM CONDIÇÕES DE SAÚDE
Os conteúdos mais buscados sobre Condições de saúde
Descobriu o hipotireoidismo e sonha em ser mãe? Sim, é possível! Saiba quais são os cuidados essenciais para uma gestação saudável.
Leia maisA queda de cabelo por hipotireoidismo te preocupa? Entenda a causa e veja dicas práticas para amenizar o problema e fortalecer os fios. Saiba mais.
Leia maisSua família tem casos de Hashimoto? Entenda o papel da genética e o que fazer para cuidar da sua saúde. Continue lendo e saiba mais sobre os riscos.
Leia mais