20/08/2025
Revisado em: 27/08/2025
Entenda por que a duração da radioterapia varia para cada pessoa e quais fatores a equipe médica considera para planejar o tratamento.
A dúvida sobre quantas sessões de radioterapia são necessárias é uma das primeiras que surgem após a indicação do tratamento. Essa pergunta é natural e sua resposta não é um número fixo, mas sim um plano individualizado. Entender os fatores que guiam essa decisão médica é o que permite iniciar a jornada terapêutica com mais segurança e confiança.
O número de sessões de radioterapia varia porque não existe um tratamento padronizado para o câncer. Cada plano é desenhado de forma única e individualizada para o paciente. O objetivo da equipe médica é encontrar a "janela terapêutica" ideal: uma dose de radiação que seja alta o suficiente para destruir o tumor, mas que ao mesmo tempo preserve ao máximo os tecidos saudáveis ao redor.
Para alcançar esse equilíbrio, a radioterapia se baseia no princípio do fracionamento. Em vez de aplicar uma única dose alta de radiação, a dose total calculada é dividida em aplicações menores e diárias.
A lógica por trás dessa divisão é permitir a recuperação do corpo. As células saudáveis do nosso organismo possuem uma grande capacidade de se reparar após sofrerem o dano da radiação. Ao dividir o tratamento em pequenas doses diárias, damos tempo para que essas células sadias se recuperem entre uma sessão e outra, de forma semelhante ao que acontece nos ciclos de quimioterapia.
Por outro lado, as células cancerígenas têm um sistema de reparo defeituoso. Com as aplicações diárias, elas não conseguem se recuperar e acumulam o dano da radiação progressivamente, até serem eliminadas.
A definição de quantas sessões de radioterapia são necessárias é resultado de um cálculo complexo, que busca o equilíbrio perfeito entre a máxima eficácia contra o tumor e a mínima toxicidade para o corpo. Para chegar a esse número, a equipe de rádio-oncologia analisa uma série de fatores interligados.
O tipo de tumor e o estágio da doença são os pontos de partida. Alguns tipos de câncer são naturalmente mais sensíveis à radiação do que outros, exigindo doses diferentes. Da mesma forma, tumores em estágio inicial podem ser tratados com um plano mais curto, enquanto doenças localmente avançadas exigem uma abordagem mais prolongada.
A intenção do tratamento também é considerada. Uma radioterapia com objetivo curativo, que visa a eliminação completa do câncer, geralmente envolve uma dose total de radiação mais alta e um maior número de sessões. Já um tratamento com intenção paliativa, focado em aliviar um sintoma como a dor, pode ser feito com poucas aplicações.
A localização do tumor é um fator decisivo. A proximidade com órgãos vitais e sensíveis à radiação, como o coração ou a medula espinhal, exige um planejamento ainda mais cuidadoso, muitas vezes com a divisão da dose em um número maior de sessões menores para garantir a segurança do paciente.
Outro fator influente são as condições clínicas do paciente. Idade, estado geral de saúde e presença de outras doenças podem levar a ajustes no esquema de tratamento, seja para torná-lo mais seguro ou para minimizar efeitos colaterais.
Por fim, a resposta individual à radioterapia é importante. Em alguns casos, o plano inicial pode ser adaptado durante o processo, de acordo com exames de imagem e avaliação clínica, o que pode alterar o número final de sessões.
Essa análise minuciosa de cada fator mostra que o plano de tratamento é um quebra-cabeça único, montado pela equipe médica para oferecer a melhor estratégia para a sua história e o seu corpo.
O cálculo de quantas sessões de radioterapia são necessárias faz parte de uma etapa detalhada e de alta tecnologia chamada planejamento do tratamento. Após a consulta, o paciente passa por uma tomografia de simulação, um exame que serve para criar um mapa tridimensional preciso da área a ser tratada.
Nesse exame, o paciente é posicionado de forma muito cuidadosa, exatamente como ficará durante as sessões diárias, muitas vezes com o auxílio de moldes ou suportes personalizados. Nesse processo, pequenas marcas ou tatuagens podem ser feitas na pele para servirem como referência, a fim de assegurar a reprodutibilidade exata da posição todos os dias.
Com base nessas imagens, a equipe de rádio-oncologistas e físicos médicos utiliza um software avançado para desenhar um plano virtual. Nesse programa, eles "pintam" o volume exato do tumor que precisa receber a radiação e delimitam os órgãos saudáveis ao redor que precisam ser protegidos.
É nesse momento que a dose total de radiação, definida com base em protocolos científicos para cada tipo de tumor, é calculada. Em seguida, essa dose é dividida em frações diárias, o que resulta no número exato de sessões.
Na maioria dos tratamentos com intenção curativa a radioterapia é aplicada diariamente. Na maioria das vezes, o tratamento é feito de segunda a sexta-feira, com uma pausa no fim de semana.
Essa rotina é desenhada para permitir que os tecidos saudáveis do corpo, que possuem uma boa capacidade de reparo, se recuperem entre as sessões, enquanto as células do câncer acumulam o dano da radiação progressivamente.
Mas a aplicação diária não é a única forma de realizar o tratamento. Existem outros esquemas, conhecidos como fracionamentos alternativos. O mais utilizado hoje é o hipofracionamento, uma técnica na qual uma dose diária um pouco maior de radiação é aplicada em um número menor de sessões.
Essa abordagem encurta o tempo total de tratamento e tem se mostrado segura e igualmente eficaz para certos tipos de tumores, como os de mama e próstata em estágios iniciais, conforme afirma a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).
A decisão sobre qual esquema utilizar é sempre do rádio-oncologista, que levará em conta o tipo de tumor, a área a ser tratada e as melhores evidências científicas disponíveis.
A rotina diária de idas ao hospital pode ser cansativa, e é totalmente compreensível que imprevistos aconteçam. A preocupação com uma possível falta é uma das mais comuns entre os pacientes, mas é importante lidar com ela com calma e comunicação.
A regularidade do tratamento é fundamental porque a radioterapia funciona com base no acúmulo de dano sobre as células do câncer. A pausa no fim de semana já é programada para que seus tecidos saudáveis se recuperem, mas aquelas não planejadas podem dar ao tumor um tempo extra para tentar se reparar, o que pode comprometer a eficácia do tratamento.
Porém, a equipe de rádio-oncologia sabe que problemas de saúde ou pessoais podem ocorrer. Por isso, a orientação é clara: se você não puder comparecer, comunique o serviço de radioterapia o mais rápido possível. Não falte sem avisar.
Ao comunicar a equipe, eles poderão te orientar da melhor forma. Na maioria das vezes, a sessão perdida não é simplesmente "pulada"; ela é reposta ao final do tratamento, para que a dose total de radiação planejada para destruir o tumor seja entregue.
Com o passar das semanas, é natural que o paciente se sinta cansado e ansioso para terminar o tratamento. Mas é preciso entender que a eficácia da radioterapia depende da dose total de radiação que o tumor recebe ao final do plano. Pense no tratamento como um curso de antibióticos: não adianta tomar apenas metade da cartela, mesmo que você já se sinta melhor.
Cada sessão diária é um passo calculado para atingir essa dose final, que foi precisamente definida pela equipe médica para ser suficiente para destruir as células cancerígenas. Interromper o tratamento por conta própria ou não completar todas as sessões planejadas significa que o tumor não recebeu a dose de radiação necessária para ser controlado.
Essa interrupção dá às células do câncer a chance de se repararem e voltarem a crescer, o que aumenta o risco de a doença não ser controlada ou de retornar no futuro. Por isso, a adesão ao plano terapêutico e a conversa aberta com seu médico sobre qualquer dificuldade são os seus maiores aliados nessa jornada.
Referências bibliográficas:
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Radioterapia. Rio de Janeiro: INCA, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tratamento/radioterapia. Acesso em: 12 ago. 2025.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE RADIOTERAPIA (SBRT). A Radioterapia. São Paulo: SBRT, [s. d.]. Disponível em: https://sbradioterapia.com.br/para-pacientes/o-que-e-radioterapia/. Acesso em: 12 ago. 2025.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE RADIOTERAPIA (SBRT). Consenso Brasileiro de Hipofracionamento no Câncer de Mama é publicado pela SBRT. São Paulo: SBRT, [s.d.]. Disponível em: https://sbradioterapia.com.br/noticias/consenso-brasileiro-de-hipofracionamento-no-cancer-de-mama-e-publicado-pela-sbrt/. Acesso em: 12 ago. 2025.
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