20/08/2025
Revisado em: 27/08/2025
Saiba em detalhes como a radioterapia atua nas células cancerígenas, quando os primeiros efeitos podem ser percebidos e a duração da sua ação no corpo.
Você começou o tratamento de radioterapia e a pergunta que ecoa é: “Quando vou sentir os primeiros resultados?”. Antes de entender o tempo, é fundamental compreender como a radioterapia atua. Este tratamento, utilizado por cerca de 60% a 70% dos pacientes com câncer, emprega radiações ionizantes de alta energia, como raios-X ou prótons, para destruir ou danificar as células cancerígenas.
A radiação age danificando o DNA das células. Células cancerígenas, por sua natureza de rápida divisão e menor capacidade de reparo, são mais vulneráveis a esse dano. Ao ter seu DNA comprometido, essas células perdem a capacidade de se dividir e crescer, morrendo ao longo do tempo. Assim, o tumor regride ou tem seu crescimento impedido.
É importante ressaltar que a radioterapia é planejada para atingir o tumor com a maior precisão possível, poupando os tecidos saudáveis adjacentes. Graças a avanços significativos, como a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) e a Radioterapia Adaptativa (ART), o tratamento se tornou ainda mais preciso. Essas técnicas permitem que a radiação seja direcionada ao tumor com maior exatidão, minimizando a exposição de tecidos saudáveis adjacentes.
Embora algumas células normais também possam ser afetadas pela radiação, elas possuem uma capacidade de reparo muito maior. Dessa forma, as células saudáveis se recuperam dos danos mais rapidamente do que as células cancerígenas, minimizando os efeitos colaterais e permitindo a continuidade do tratamento.
Os efeitos da radioterapia não são imediatos. Eles se manifestam de forma gradual, uma vez que a radiação causa danos que se acumulam ao longo das sessões.
O tratamento radioterápico é geralmente administrado em várias sessões diárias, durante algumas semanas. A cada sessão, mais células tumorais são danificadas, e é esse acúmulo de danos que leva à resposta do tumor.
Geralmente, as primeiras reações, como fadiga ou alterações na pele, podem começar a surgir por volta da terceira semana de tratamento, dependendo da área irradiada e da dose total.
A percepção dos primeiros sinais de melhora do tumor pode variar significativamente de paciente para paciente e do tipo de câncer. Em alguns casos, a redução do tumor ou o alívio de sintomas como dor ou sangramento podem ser observados ainda durante o tratamento.
Para outros, a resposta mais significativa pode demorar um pouco mais para se manifestar. Por exemplo, tumores de crescimento mais lento podem levar mais tempo para demonstrar sinais de regressão.
Em casos de câncer de colo do útero, a braquiterapia guiada por imagem, especialmente com ressonância magnética, tem demonstrado melhor controle local e redução da toxicidade, com respostas visíveis ao longo do tempo.
É um erro comum pensar que a ação da radioterapia cessa no momento da última sessão. Na verdade, o tratamento continua a ser eficaz por um período após seu término.
As células cancerígenas danificadas pela radiação não morrem instantaneamente. O processo de morte celular continua por semanas e, em alguns casos, até mesmo por meses, após a conclusão de todas as sessões.
Isso acontece porque o dano ao DNA impede que as células se reparem ou se reproduzam, levando-as à morte celular programada (apoptose) ou à incapacidade de se replicar. Os macrófagos e outras células do sistema imunológico também atuam na limpeza e remoção dessas células danificadas.
Devido a essa ação prolongada, a avaliação da eficácia do tratamento não é feita imediatamente.
Os médicos geralmente aguardam um período, que pode variar de semanas a alguns meses, para realizar novos exames de imagem, como tomografias, ressonâncias magnéticas ou PET-CT, e verificar a resposta completa do tumor à radioterapia.
Esse intervalo é essencial para que o processo de destruição e reabsorção das células tumorais aconteça plenamente.
Saber se a radioterapia está sendo eficaz é uma preocupação natural. A avaliação da resposta ao tratamento é um processo cuidadoso e multifatorial.
A principal forma de verificar a eficácia da radioterapia é por meio de exames de imagem, como tomografias, ressonâncias magnéticas ou PET-CT, realizados após o período de ação prolongada do tratamento.
Além disso, exames de sangue, quando aplicável, e a avaliação clínica do paciente, incluindo o desaparecimento ou melhora de sintomas, são fundamentais.
Os sinais de que a radioterapia está funcionando incluem a redução do tamanho do tumor, a ausência de novas lesões ou, em alguns casos, o desaparecimento completo da doença.
A melhora da qualidade de vida do paciente, com alívio da dor ou de outros sintomas causados pelo tumor, também é um forte indicativo de resposta positiva. O médico oncologista ou radio-oncologista irá analisar todos esses fatores para determinar a resposta ao tratamento.
A radioterapia, embora focada no tumor, pode afetar células saudáveis próximas, levando a efeitos colaterais. É importante estar ciente deles e saber como gerenciá-los.
Os efeitos agudos são aqueles que ocorrem durante o tratamento ou nas primeiras semanas após o seu término. Os mais comuns incluem:
Em câncer de colo do útero, por exemplo, a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) tem demonstrado reduzir significativamente a toxicidade gastrointestinal e geniturinária aguda e crônica, em comparação com técnicas mais antigas.
Já em pacientes com câncer de pulmão que também possuem doença pulmonar intersticial (DPI), a radioterapia pode induzir uma exacerbação aguda em cerca de 7,5% dos casos, sendo crucial uma seleção cuidadosa do paciente para minimizar riscos, conforme o estudo divulgado no Journal of Radiation Research.
Alguns efeitos colaterais podem surgir meses ou até anos após o tratamento. Estes são chamados de efeitos tardios e variam conforme a área tratada. Podem incluir alterações na pele (fibrose, alteração de pigmentação), linfedema (inchaço), alterações na função de órgãos próximos (pulmão, coração, bexiga, intestino), ou problemas de fertilidade.
Por exemplo, em pacientes com câncer de mama que realizam reconstrução mamária após a mastectomia, a radioterapia pós-mastectomia (PMRT) pode aumentar o risco de complicações, especialmente com implantes. O monitoramento contínuo com seu médico é fundamental para identificar e manejar esses efeitos.
O manejo dos efeitos colaterais é parte integrante do tratamento. Seu médico e a equipe de enfermagem fornecerão orientações específicas, que podem incluir:
Nunca hesite em relatar qualquer desconforto à sua equipe de saúde. Eles estão preparados para ajudar a gerenciar esses sintomas.
Uma dúvida comum e importante é se o paciente que realiza radioterapia se torna radioativo. A resposta é não.
A radiação utilizada na radioterapia externa atravessa o corpo do paciente, mas não se acumula ou permanece nele. Assim que a sessão termina, não há mais radiação no organismo e o paciente não representa risco para outras pessoas. É seguro ter contato físico, abraçar e conviver normalmente com familiares e amigos após o tratamento.
O tratamento de radioterapia e a jornada do paciente com câncer exigem um acompanhamento profissional constante. Cada indivíduo responde de forma única ao tratamento, e a avaliação regular por uma equipe multidisciplinar é fundamental.
Seu médico oncologista e radio-oncologista são os profissionais mais indicados para explicar em detalhes o seu plano de tratamento, o que esperar, como monitorar a resposta e como gerenciar quaisquer efeitos colaterais. Não hesite em tirar todas as suas dúvidas e buscar apoio. A Rede Américas está aqui para oferecer o suporte necessário em cada etapa desse caminho.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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