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Qual exame fazer para saber se tem fibromialgia? entenda o diagnóstico clínico

A fibromialgia não é detectada por exames laboratoriais, mas por uma cuidadosa avaliação médica.

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Você sente uma dor persistente por todo o corpo? Ou uma fadiga que não melhora mesmo depois de uma noite de sono? Essas queixas, infelizmente, são comuns e levam muitas pessoas a buscar um médico, com a esperança de que um exame rápido revele a causa. No entanto, quando se trata de fibromialgia, a resposta é mais complexa.

A fibromialgia é uma condição crônica e complexa, caracterizada por dor musculoesquelética generalizada, fadiga e sensibilidade aumentada. 

Inicialmente recebida com ceticismo, ela é hoje reconhecida como uma preocupação global de saúde, afetando milhões de pessoas. Sua prevalência varia de 2% a 8% da população mundial, sendo a terceira desordem musculoesquelética mais comum, com a incidência aumentando com a idade. 

Estudos mostram que a fibromialgia pode ser responsável por mais de 10% das visitas a clínicas de reumatologia, e é significativamente mais comum em mulheres.

A dúvida "qual exame fazer para saber se tem fibromialgia?" é frequente e compreensível. A realidade é que, atualmente, não existe um exame de sangue, de imagem ou qualquer outro teste laboratorial capaz de diagnosticar a fibromialgia. O diagnóstico é fundamentalmente clínico, o que significa que ele se baseia na conversa detalhada com o médico e na avaliação dos seus sintomas.

Como é feito o diagnóstico clínico da fibromialgia?

O processo diagnóstico da fibromialgia é uma verdadeira investigação. Ele exige paciência e uma comunicação clara entre o paciente e o médico, que geralmente é um reumatologista. O objetivo principal é coletar o máximo de informações para montar um "quebra-cabeça" completo sobre a condição do paciente.

Qual o papel da avaliação do histórico e dos sintomas?

A primeira etapa do diagnóstico é uma conversa aprofundada. O médico fará uma série de perguntas sobre o seu histórico de saúde, a natureza da sua dor e outros sintomas. É crucial descrever a dor em detalhes: quando começou, onde se manifesta, qual a intensidade, se há fatores que a melhoram ou pioram, e como ela afeta suas atividades diárias.

Além da dor generalizada, outros sintomas importantes são investigados, como a fadiga persistente, distúrbios do sono (dificuldade para adormecer, sono não reparador), problemas de memória e concentração (popularmente conhecido como "nevoeiro fibro"), e alterações de humor, como ansiedade ou depressão. 

A presença e a intensidade desses sintomas são elementos chave para o diagnóstico.

Quais são os pontos sensíveis na fibromialgia?

No passado, a identificação de pontos dolorosos específicos no corpo (chamados de "tender points") era um critério central para o diagnóstico. Historicamente, o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) definiu 18 pontos sensíveis distribuídos simetricamente pelo corpo. No entanto, a compreensão da fibromialgia evoluiu, e a abordagem diagnóstica atual é mais abrangente.

Embora os pontos sensíveis ainda possam ser considerados no exame físico, a sensibilidade generalizada ao toque, e não apenas em pontos isolados, é mais valorizada. O médico realizará um exame físico para avaliar áreas de dor e sensibilidade, além de descartar outras condições. A evolução dos critérios diagnósticos reflete um entendimento mais holístico da condição.

Quais critérios são usados para diagnosticar a fibromialgia?

Para guiar o diagnóstico, os médicos utilizam critérios estabelecidos por entidades como o Colégio Americano de Reumatologia (ACR). 

As diretrizes mais recentes, estabelecidas em 2010 e revisadas em 2016, consideram principalmente a presença de dor generalizada por mais de três meses, sem uma causa aparente, e a presença de outros sintomas característicos, como fadiga, problemas de sono e cognitivos.

Os critérios atuais incluem um Índice de Dor Generalizada (WPI) e uma Escala de Gravidade dos Sintomas (SS). Para atender aos critérios, um paciente deve ter WPI igual ou superior a 7 e SS igual ou superior a 5, ou WPI de 3 a 6 e SS igual ou superior a 9. Escalas e questionários específicos também podem ser usados para quantificar a dor e outros sintomas, auxiliando o processo.

Existem exames que detectam a fibromialgia?

É fundamental reforçar: não existe um exame específico que "dê positivo" para a fibromialgia. Isso se deve ao fato de que a fibromialgia não é uma doença que causa alterações estruturais visíveis em exames de imagem ou que altere marcadores específicos no sangue. 

É uma síndrome de dor crônica com origem neurobiológica complexa, envolvendo uma amplificação anormal dos sinais de dor no sistema nervoso central, conhecida como sensibilização central.

Para que servem os exames de sangue na suspeita de fibromialgia?

Embora não diagnostiquem a fibromialgia, os exames de sangue são essenciais para um propósito crucial: descartar outras doenças com sintomas semelhantes. 

Muitas condições podem causar dor e fadiga generalizadas, como doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide), hipotireoidismo, deficiências vitamínicas (como a de vitamina D) ou infecções crônicas.

O médico pode solicitar exames como:

  • Hemograma completo: para verificar anemia ou infecções.
  • Testes de função tireoidiana (TSH, T4 livre): para descartar hipotireoidismo.
  • Marcadores inflamatórios (PCR, VHS): para verificar a presença de inflamações sistêmicas, que não são características da fibromialgia.
  • Fator reumatoide e anticorpos antinucleares (FAN): para descartar doenças reumáticas autoimunes.
  • Níveis de vitamina D: para identificar deficiências que possam causar sintomas musculoesqueléticos.

Ao realizar esses exames e constatar que os resultados estão normais ou que as alterações encontradas não justificam os sintomas apresentados, o médico se aproxima do diagnóstico de fibromialgia por exclusão de outras condições. 

Pacientes com fibromialgia não respondem a terapias com anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), que são usados para dor aguda ou inflamação, o que reforça a natureza não inflamatória da condição.

Os exames de imagem ajudam no diagnóstico da fibromialgia?

De forma similar aos exames de sangue, os exames de imagem (como radiografias, ressonâncias magnéticas ou ultrassonografias) não servem para diagnosticar a fibromialgia. Eles são utilizados para descartar problemas estruturais nos músculos, ossos ou articulações que poderiam explicar a dor, como artrite, lesões ou inflamações localizadas. Se um paciente com suspeita de fibromialgia apresenta dores intensas na coluna, por exemplo, o médico pode pedir uma ressonância para investigar a presença de hérnias de disco ou outras condições que justifiquem a dor naquela região, e não para diagnosticar a fibromialgia em si.

Quais os sintomas mais comuns da fibromialgia?

A fibromialgia é caracterizada por um conjunto de sintomas que, combinados, levam ao diagnóstico. Entender esses sinais pode ajudar você a descrever melhor sua condição ao médico.

Dor generalizada e persistente

Este é o sintoma central. A dor da fibromialgia é difusa, afetando múltiplos locais do corpo, frequentemente descrita como uma dor musculoesquelética crônica, que pode ser em queimação, pontada, fisgada ou latejamento. Ela persiste por mais de três meses e não pode ser explicada por outra condição médica. A intensidade pode variar diariamente, sendo influenciada por estresse, clima ou atividade física.

Fadiga crônica e distúrbios do sono

Quase todos os pacientes com fibromialgia relatam fadiga severa, que não melhora com o descanso. O sono é geralmente não reparador; mesmo após horas de sono, a pessoa acorda cansada. É comum ter insônia, sono leve ou ser interrompido por dores durante a noite. Essa privação de sono agrava tanto a dor quanto a fadiga, criando um ciclo vicioso. Estudos indicam que a má qualidade do sono é uma das principais áreas que interferem na qualidade de vida dos pacientes.

Outros sintomas associados

Além da dor e fadiga, a fibromialgia pode vir acompanhada de uma série de outros sintomas, incluindo:

  • Distúrbios cognitivos: dificuldade de concentração, lapsos de memória e lentidão no raciocínio, frequentemente chamados de "fibro fog". 

Pacientes com fibromialgia frequentemente se queixam de problemas cognitivos, e estudos mostram que 99% dos pacientes com fibromialgia apresentam má qualidade do sono, o que pode influenciar esses sintomas.

  • Cefaleias: dores de cabeça tensionais ou enxaquecas são comuns.
  • Síndrome do Intestino Irritável (SII): com cólicas, inchaço abdominal, diarreia ou constipação.
  • Sensibilidade: aumento da sensibilidade a ruídos, luzes, odores e temperaturas.
  • Parestesias: sensações de formigamento ou dormência em mãos e pés.
  • Problemas de humor: ansiedade e depressão são prevalentes, e podem ser tanto uma causa quanto uma consequência da condição. 

Cerca de 86% dos pacientes com fibromialgia apresentam sintomas depressivos, e 68% relatam níveis significativos de ansiedade, conforme um estudo publicado no PLoS ONE.

Novos exames para fibromialgia: mitos e realidades

A pesquisa científica avança constantemente, e existem estudos promissores sobre a identificação de biomarcadores para a fibromialgia. 

Alguns pesquisadores já identificaram padrões em exames de sangue que poderiam, no futuro, auxiliar no diagnóstico. Por exemplo, estudos têm explorado a presença de autoanticorpos, níveis de aminoácidos, neuropeptídeos, e até mesmo alterações em microRNAs e perfis proteômicos em pacientes com fibromialgia. 

Acredita-se que fatores genéticos possam ser responsáveis por até 50% da vulnerabilidade à doença.

Contudo, é vital entender que essas descobertas ainda estão em fase de pesquisa e não são, até o momento, testes validados e disponíveis para uso clínico rotineiro. A validação de um novo exame é um processo longo e rigoroso, que exige estudos em larga escala para garantir sua precisão e confiabilidade. 

Portanto, apesar da esperança que essas notícias trazem, a realidade atual é que o diagnóstico da fibromialgia permanece sendo feito pela avaliação clínica cuidadosa, sem o auxílio de um exame laboratorial específico. 

É importante não se apegar a informações de fontes não confiáveis que prometam exames "mágicos" para a fibromialgia.

Por que um diagnóstico preciso é essencial?

Receber o diagnóstico correto da fibromialgia é um passo fundamental. 

Primeiro, porque ele valida a sua dor e outros sintomas, que muitas vezes são invisíveis para os outros, e pode trazer alívio ao saber que há um nome para o que você sente. 

Segundo, um diagnóstico preciso evita a busca por tratamentos desnecessários ou ineficazes para outras doenças que não se aplicam ao seu caso.

Mais importante ainda, o diagnóstico correto permite iniciar um plano de manejo adequado. O tratamento da fibromialgia é multidisciplinar e envolve medicamentos para controle da dor e outros sintomas, fisioterapia, exercícios físicos (como caminhada, natação), terapia cognitivo-comportamental e mudanças no estilo de vida. 

Apenas cerca de metade dos pacientes com dor persistente e alta interferência nas atividades diárias procuraram um especialista em dor, segundo dados de uma pesquisa de saúde na Inglaterra. 

Além disso, a falta de conhecimento entre os profissionais de saúde e os atrasos no diagnóstico podem impactar a implementação ideal dos tratamentos.

Apesar de 85% dos serviços de saúde no Reino Unido serem gratuitos, pacientes com fibromialgia relatam dificuldade em acessar os serviços, apoio limitado dos profissionais e relações difíceis com os prestadores de cuidados, conforme um estudo publicado no BMC Health Services Research. 

A falta de serviços disponíveis é a necessidade não atendida mais citada pelos profissionais de saúde. O acompanhamento regular com um médico especialista é crucial para monitorar a evolução e ajustar o tratamento conforme a necessidade, melhorando a sua qualidade de vida.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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