19/08/2025
Revisado em: 19/08/2025
A fibromialgia não é detectada por exames laboratoriais, mas por uma cuidadosa avaliação médica.
Você sente uma dor persistente por todo o corpo? Ou uma fadiga que não melhora mesmo depois de uma noite de sono? Essas queixas, infelizmente, são comuns e levam muitas pessoas a buscar um médico, com a esperança de que um exame rápido revele a causa. No entanto, quando se trata de fibromialgia, a resposta é mais complexa.
A fibromialgia é uma condição crônica e complexa, caracterizada por dor musculoesquelética generalizada, fadiga e sensibilidade aumentada.
Inicialmente recebida com ceticismo, ela é hoje reconhecida como uma preocupação global de saúde, afetando milhões de pessoas. Sua prevalência varia de 2% a 8% da população mundial, sendo a terceira desordem musculoesquelética mais comum, com a incidência aumentando com a idade.
Estudos mostram que a fibromialgia pode ser responsável por mais de 10% das visitas a clínicas de reumatologia, e é significativamente mais comum em mulheres.
A dúvida "qual exame fazer para saber se tem fibromialgia?" é frequente e compreensível. A realidade é que, atualmente, não existe um exame de sangue, de imagem ou qualquer outro teste laboratorial capaz de diagnosticar a fibromialgia. O diagnóstico é fundamentalmente clínico, o que significa que ele se baseia na conversa detalhada com o médico e na avaliação dos seus sintomas.
O processo diagnóstico da fibromialgia é uma verdadeira investigação. Ele exige paciência e uma comunicação clara entre o paciente e o médico, que geralmente é um reumatologista. O objetivo principal é coletar o máximo de informações para montar um "quebra-cabeça" completo sobre a condição do paciente.
A primeira etapa do diagnóstico é uma conversa aprofundada. O médico fará uma série de perguntas sobre o seu histórico de saúde, a natureza da sua dor e outros sintomas. É crucial descrever a dor em detalhes: quando começou, onde se manifesta, qual a intensidade, se há fatores que a melhoram ou pioram, e como ela afeta suas atividades diárias.
Além da dor generalizada, outros sintomas importantes são investigados, como a fadiga persistente, distúrbios do sono (dificuldade para adormecer, sono não reparador), problemas de memória e concentração (popularmente conhecido como "nevoeiro fibro"), e alterações de humor, como ansiedade ou depressão.
A presença e a intensidade desses sintomas são elementos chave para o diagnóstico.
No passado, a identificação de pontos dolorosos específicos no corpo (chamados de "tender points") era um critério central para o diagnóstico. Historicamente, o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) definiu 18 pontos sensíveis distribuídos simetricamente pelo corpo. No entanto, a compreensão da fibromialgia evoluiu, e a abordagem diagnóstica atual é mais abrangente.
Embora os pontos sensíveis ainda possam ser considerados no exame físico, a sensibilidade generalizada ao toque, e não apenas em pontos isolados, é mais valorizada. O médico realizará um exame físico para avaliar áreas de dor e sensibilidade, além de descartar outras condições. A evolução dos critérios diagnósticos reflete um entendimento mais holístico da condição.
Para guiar o diagnóstico, os médicos utilizam critérios estabelecidos por entidades como o Colégio Americano de Reumatologia (ACR).
As diretrizes mais recentes, estabelecidas em 2010 e revisadas em 2016, consideram principalmente a presença de dor generalizada por mais de três meses, sem uma causa aparente, e a presença de outros sintomas característicos, como fadiga, problemas de sono e cognitivos.
Os critérios atuais incluem um Índice de Dor Generalizada (WPI) e uma Escala de Gravidade dos Sintomas (SS). Para atender aos critérios, um paciente deve ter WPI igual ou superior a 7 e SS igual ou superior a 5, ou WPI de 3 a 6 e SS igual ou superior a 9. Escalas e questionários específicos também podem ser usados para quantificar a dor e outros sintomas, auxiliando o processo.
É fundamental reforçar: não existe um exame específico que "dê positivo" para a fibromialgia. Isso se deve ao fato de que a fibromialgia não é uma doença que causa alterações estruturais visíveis em exames de imagem ou que altere marcadores específicos no sangue.
É uma síndrome de dor crônica com origem neurobiológica complexa, envolvendo uma amplificação anormal dos sinais de dor no sistema nervoso central, conhecida como sensibilização central.
Embora não diagnostiquem a fibromialgia, os exames de sangue são essenciais para um propósito crucial: descartar outras doenças com sintomas semelhantes.
Muitas condições podem causar dor e fadiga generalizadas, como doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide), hipotireoidismo, deficiências vitamínicas (como a de vitamina D) ou infecções crônicas.
O médico pode solicitar exames como:
Ao realizar esses exames e constatar que os resultados estão normais ou que as alterações encontradas não justificam os sintomas apresentados, o médico se aproxima do diagnóstico de fibromialgia por exclusão de outras condições.
Pacientes com fibromialgia não respondem a terapias com anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), que são usados para dor aguda ou inflamação, o que reforça a natureza não inflamatória da condição.
De forma similar aos exames de sangue, os exames de imagem (como radiografias, ressonâncias magnéticas ou ultrassonografias) não servem para diagnosticar a fibromialgia. Eles são utilizados para descartar problemas estruturais nos músculos, ossos ou articulações que poderiam explicar a dor, como artrite, lesões ou inflamações localizadas. Se um paciente com suspeita de fibromialgia apresenta dores intensas na coluna, por exemplo, o médico pode pedir uma ressonância para investigar a presença de hérnias de disco ou outras condições que justifiquem a dor naquela região, e não para diagnosticar a fibromialgia em si.
A fibromialgia é caracterizada por um conjunto de sintomas que, combinados, levam ao diagnóstico. Entender esses sinais pode ajudar você a descrever melhor sua condição ao médico.
Este é o sintoma central. A dor da fibromialgia é difusa, afetando múltiplos locais do corpo, frequentemente descrita como uma dor musculoesquelética crônica, que pode ser em queimação, pontada, fisgada ou latejamento. Ela persiste por mais de três meses e não pode ser explicada por outra condição médica. A intensidade pode variar diariamente, sendo influenciada por estresse, clima ou atividade física.
Quase todos os pacientes com fibromialgia relatam fadiga severa, que não melhora com o descanso. O sono é geralmente não reparador; mesmo após horas de sono, a pessoa acorda cansada. É comum ter insônia, sono leve ou ser interrompido por dores durante a noite. Essa privação de sono agrava tanto a dor quanto a fadiga, criando um ciclo vicioso. Estudos indicam que a má qualidade do sono é uma das principais áreas que interferem na qualidade de vida dos pacientes.
Além da dor e fadiga, a fibromialgia pode vir acompanhada de uma série de outros sintomas, incluindo:
Pacientes com fibromialgia frequentemente se queixam de problemas cognitivos, e estudos mostram que 99% dos pacientes com fibromialgia apresentam má qualidade do sono, o que pode influenciar esses sintomas.
Cerca de 86% dos pacientes com fibromialgia apresentam sintomas depressivos, e 68% relatam níveis significativos de ansiedade, conforme um estudo publicado no PLoS ONE.
A pesquisa científica avança constantemente, e existem estudos promissores sobre a identificação de biomarcadores para a fibromialgia.
Alguns pesquisadores já identificaram padrões em exames de sangue que poderiam, no futuro, auxiliar no diagnóstico. Por exemplo, estudos têm explorado a presença de autoanticorpos, níveis de aminoácidos, neuropeptídeos, e até mesmo alterações em microRNAs e perfis proteômicos em pacientes com fibromialgia.
Acredita-se que fatores genéticos possam ser responsáveis por até 50% da vulnerabilidade à doença.
Contudo, é vital entender que essas descobertas ainda estão em fase de pesquisa e não são, até o momento, testes validados e disponíveis para uso clínico rotineiro. A validação de um novo exame é um processo longo e rigoroso, que exige estudos em larga escala para garantir sua precisão e confiabilidade.
Portanto, apesar da esperança que essas notícias trazem, a realidade atual é que o diagnóstico da fibromialgia permanece sendo feito pela avaliação clínica cuidadosa, sem o auxílio de um exame laboratorial específico.
É importante não se apegar a informações de fontes não confiáveis que prometam exames "mágicos" para a fibromialgia.
Receber o diagnóstico correto da fibromialgia é um passo fundamental.
Primeiro, porque ele valida a sua dor e outros sintomas, que muitas vezes são invisíveis para os outros, e pode trazer alívio ao saber que há um nome para o que você sente.
Segundo, um diagnóstico preciso evita a busca por tratamentos desnecessários ou ineficazes para outras doenças que não se aplicam ao seu caso.
Mais importante ainda, o diagnóstico correto permite iniciar um plano de manejo adequado. O tratamento da fibromialgia é multidisciplinar e envolve medicamentos para controle da dor e outros sintomas, fisioterapia, exercícios físicos (como caminhada, natação), terapia cognitivo-comportamental e mudanças no estilo de vida.
Apenas cerca de metade dos pacientes com dor persistente e alta interferência nas atividades diárias procuraram um especialista em dor, segundo dados de uma pesquisa de saúde na Inglaterra.
Além disso, a falta de conhecimento entre os profissionais de saúde e os atrasos no diagnóstico podem impactar a implementação ideal dos tratamentos.
Apesar de 85% dos serviços de saúde no Reino Unido serem gratuitos, pacientes com fibromialgia relatam dificuldade em acessar os serviços, apoio limitado dos profissionais e relações difíceis com os prestadores de cuidados, conforme um estudo publicado no BMC Health Services Research.
A falta de serviços disponíveis é a necessidade não atendida mais citada pelos profissionais de saúde. O acompanhamento regular com um médico especialista é crucial para monitorar a evolução e ajustar o tratamento conforme a necessidade, melhorando a sua qualidade de vida.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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