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Gordura no fígado: conheça os sintomas e a importância do diagnóstico

A esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, é uma condição que pode evoluir silenciosamente. Entenda os sinais que seu corpo pode enviar e por que a avaliação médica é essencial.

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Imagine que, mesmo após uma boa noite de sono, a sensação de fadiga persiste. Ou talvez um desconforto leve e constante na parte superior do abdômen, que você ignora, atribuindo ao estresse ou à má digestão. Esses podem ser alguns dos sinais discretos de uma condição séria: a gordura no fígado, clinicamente chamada de esteatose hepática.

A esteatose hepática é o acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. É uma condição cada vez mais comum, especialmente em um cenário de aumento da obesidade e do sedentarismo. 

Por ser, em muitos casos, uma doença "silenciosa" em seus estágios iniciais, seus sintomas podem ser facilmente negligenciados.

O que é a esteatose hepática?

O fígado é um dos órgãos mais vitais do corpo humano, responsável por centenas de funções, desde a desintoxicação até a produção de proteínas e armazenamento de energia. Quando há um acúmulo de gordura que excede 5% do peso do órgão, é diagnosticada a esteatose hepática.

A esteatose hepática não alcoólica (NAFLD) é a doença hepática crônica mais comum em todo o mundo. Estima-se que afete entre 25% e 30% da população global, com uma prevalência de 25% em países ocidentais e 34% na Ásia, tornando-se um problema de saúde pública emergente. 

Essa condição pode ser classificada em dois tipos principais: a esteatose hepática alcoólica (causada pelo consumo excessivo de álcool) e a esteatose hepática não alcoólica (NAFLD), mais comum e associada a fatores como obesidade, diabetes, colesterol alto e resistência à insulina. 

A esteatose hepática não alcoólica é considerada uma doença multissistêmica, fortemente ligada a distúrbios metabólicos como diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares. 

Em pacientes com obesidade, a esteatose hepática não alcoólica pode ocorrer em quase 90% dos casos, e em pessoas com diabetes tipo 2, a prevalência varia entre 50% e 70%. Se não tratada, a esteatose pode progredir para inflamação (esteato-hepatite ou NASH), fibrose, cirrose e, em casos mais graves, câncer de fígado.

Quais são os principais sintomas da gordura no fígado?

É fundamental compreender que, na maioria dos casos, a gordura no fígado não apresenta sintomas, especialmente em suas fases iniciais. 

Quando surgem, os sinais são frequentemente inespecíficos e podem ser confundidos com outras condições, o que reforça a necessidade de investigação médica.

Sintomas iniciais e mais comuns

Estes são os sinais que, embora leves, podem indicar que a gordura no fígado está começando a causar algum impacto no organismo:

  • Fadiga e cansaço excessivo: uma sensação constante de esgotamento e falta de energia, mesmo com repouso adequado. A esteatose hepática pode contribuir independentemente para a fadiga e a redução da capacidade física, devido ao papel crucial do fígado no metabolismo energético.
  • Mal-estar geral: uma indisposição persistente e uma sensação de que algo não está bem no corpo.
  • Dor ou desconforto abdominal: geralmente localizada na parte superior direita do abdômen, onde o fígado está situado. Pode ser descrita como uma sensação de peso, pressão ou dor leve e constante.
  • Inchaço abdominal: uma sensação de barriga estufada, que pode ser acompanhada de gases.
  • Perda de apetite: diminuição do desejo de comer ou sensação de saciedade precoce.
  • Náuseas: sensação de enjoo, que pode ser intermitente.
  • Dor de cabeça: dores de cabeça frequentes sem uma causa aparente.

Sintomas que indicam maior gravidade ou progressão

Quando a gordura no fígado evolui e começa a causar inflamação significativa (esteato-hepatite) ou danos mais severos ao tecido hepático, como a fibrose ou cirrose, os sintomas tendem a se tornar mais evidentes e preocupantes. 

Nesses estágios avançados, o fígado já pode estar comprometido em suas funções. 

Os sinais de alerta incluem:

  • Icterícia: amarelamento da pele e da parte branca dos olhos, um sinal clássico de que o fígado não está processando a bilirrubina adequadamente.
  • Urina escura: a urina pode adquirir uma tonalidade mais escura, semelhante à cor de Coca-Cola, devido ao excesso de bilirrubina.
  • Fezes claras ou esbranquiçadas: indicam que a produção ou o fluxo da bile (substância produzida pelo fígado para digestão de gorduras) está comprometido.
  • Inchaço nas pernas e tornozelos (edema): acúmulo de líquido devido à má circulação e ao desequilíbrio na produção de proteínas pelo fígado.
  • Ascite: acúmulo de líquido na cavidade abdominal, resultando em uma barriga visivelmente inchada e endurecida.
  • Perda de peso inexplicável: emagrecimento significativo sem mudança na dieta ou rotina de exercícios.
  • Confusão mental ou dificuldade de concentração: conhecida como encefalopatia hepática, ocorre quando toxinas não são filtradas pelo fígado e chegam ao cérebro.
  • Coceira intensa na pele: causada pelo acúmulo de substâncias que deveriam ser eliminadas pelo fígado.

Quando a gordura no fígado causa sintomas?

A esteatose hepática, como mencionado, é traiçoeira por ser frequentemente assintomática em seus estágios iniciais (Grau 1 e, muitas vezes, Grau 2). 

Os sintomas começam a aparecer quando a condição progride para estágios mais avançados, onde já existe inflamação (esteato-hepatite) e, em alguns casos, início de fibrose ou cirrose.

Essa progressão ocorre de forma gradual e varia de pessoa para pessoa. A fibrose em pacientes com NAFLD geralmente piora um estágio a cada 14 anos, enquanto em casos de NASH, essa progressão pode ser mais rápida, ocorrendo a cada sete anos. 

Fatores como a persistência de maus hábitos de vida, a presença de doenças crônicas não controladas (como diabetes tipo 2 e hipertensão) e a predisposição genética podem acelerar o aparecimento dos sintomas e o avanço da doença.

Por que é importante identificar os sintomas precocemente?

O diagnóstico precoce da gordura no fígado é crucial porque, nos estágios iniciais, a condição é reversível. Intervenções no estilo de vida, como mudanças na dieta e prática de exercícios físicos, podem eliminar a gordura e restaurar a saúde do fígado. 

Ignorar os sintomas ou a ausência deles pode levar a complicações graves, incluindo:

  • Esteato-hepatite não alcoólica (NASH): Inflamação do fígado que pode levar a danos celulares.
  • Fibrose e cirrose: Cicatrizes permanentes no fígado que comprometem suas funções e podem ser fatais. A cirrose relacionada à NAFLD e o carcinoma hepatocelular (câncer de fígado) tornaram-se as principais indicações para transplante de fígado nos EUA.
  • Câncer de fígado (Carcinoma Hepatocelular): Um risco aumentado para pacientes com cirrose, com 1% a 2% dos pacientes com cirrose por NASH desenvolvendo HCC anualmente.
  • Doenças cardiovasculares: A doença cardiovascular é a causa mais comum de morte em pacientes com NAFLD, superando a mortalidade relacionada ao fígado.
  • Doença renal crônica e diabetes tipo 2: A NAFLD também aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e, se já presente, dificulta o controle. Além disso, eleva o risco de problemas renais.

Identificar os sintomas precocemente permite iniciar o tratamento antes que danos irreversíveis ocorram, preservando a função hepática e a qualidade de vida do paciente.

Como é feito o diagnóstico da esteatose hepática?

Se você suspeita de gordura no fígado, ou apresenta fatores de risco, o primeiro passo é procurar um médico, seja um clínico generalista, gastroenterologista ou hepatologista. 

O diagnóstico geralmente envolve:

  • Histórico clínico e exame físico: O médico avaliará seus hábitos, doenças pré-existentes e realizará um exame físico, que pode incluir a palpação do abdômen para verificar o tamanho do fígado.
  • Exames de sangue: Análises de enzimas hepáticas (TGO, TGP, Gama-GT), bilirrubina e outros marcadores que podem indicar inflamação ou dano hepático. 

É importante notar que o grau de elevação das enzimas hepáticas nem sempre reflete a gravidade da lesão. Testes não invasivos baseados em sangue, como o FIB-4 e o NAFLD Fibrosis Score (NFS), são amplamente utilizados para estimar o risco de fibrose avançada.

  • Exames de imagem:
  • Ultrassonografia de abdômen: É a modalidade de primeira linha, amplamente disponível e custo-efetiva. É confiável para identificar esteatose moderada a grave (acima de 33% de gordura nas células do fígado), mas pode não detectar graus leves.
  • Ressonância Magnética (RM) com fração de gordura por densidade de prótons (MRI-PDFF): Considerada a técnica mais precisa para diagnosticar e quantificar a gordura no fígado, com alta acurácia para todos os graus de esteatose.
  • Tomografia Computadorizada (TC): Pode ser usada para diagnosticar esteatose, mas é menos adequada para avaliação primária e acompanhamento devido à exposição à radiação e menor sensibilidade para esteatose leve.
  • Elastografia hepática: Um exame não invasivo que avalia o grau de rigidez do fígado, que se correlaciona com a fibrose. 

A elastografia por ressonância magnética (MRE) é considerada a mais precisa para diagnosticar a fibrose hepática, enquanto a elastografia transitória controlada por vibração (VCTE), como o Fibroscan, é recomendada como primeiro teste para avaliar fibrose avançada.

  • Biópsia hepática: Embora seja o "padrão ouro" para o diagnóstico de NASH e estadiamento da NAFLD, é um procedimento invasivo com riscos. É reservada para casos específicos, quando outros testes não são conclusivos ou para confirmar a gravidade da doença.

Como prevenir e tratar a gordura no fígado?

A boa notícia é que a prevenção e o tratamento da gordura no fígado, especialmente a não alcoólica, dependem em grande parte de mudanças no estilo de vida. O objetivo principal é reduzir o acúmulo de gordura e evitar a progressão da doença. 

As principais recomendações incluem:

  • Alimentação saudável: Adotar uma dieta balanceada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares adicionados (especialmente de bebidas açucaradas), gorduras saturadas e carboidratos refinados. 

A dieta mediterrânea, rica em azeite de oliva, vegetais, frutas, nozes, legumes, grãos integrais, peixes e frutos do mar, e com baixo consumo de carne vermelha e alimentos processados, é fortemente recomendada e pode reduzir a gordura hepática mesmo sem perda de peso.

  • Controle do peso: A perda de peso é um tratamento eficaz. Uma redução de mais de 5% do peso corporal já pode diminuir a gordura no fígado. 

Para melhorar a inflamação hepática, uma perda de 7% a 10% é geralmente necessária, e para melhorar a fibrose, mais de 10% de redução de peso é indicada.

  • Atividade física regular: A prática de exercícios aeróbicos e de força ajuda a queimar gordura, melhorar a sensibilidade à insulina e promover a saúde geral. 

Recomenda-se mais de 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, distribuídos em 3 a 5 sessões, combinando exercícios aeróbicos e de resistência. O comportamento sedentário é um fator de risco independente para a NAFLD.

  • Controle de doenças associadas: Gerenciar diabetes, hipertensão, colesterol alto e triglicerídeos elevados é crucial, pois essas condições estão intimamente ligadas à esteatose hepática.
  • Evitar o consumo excessivo de álcool: Embora a NAFLD não seja causada pelo álcool, o consumo elevado pode agravar a condição. Pacientes com cirrose devem evitar completamente o álcool para reduzir o risco de câncer de fígado.
  • Não se automedicar: Muitos medicamentos e suplementos podem sobrecarregar o fígado. Sempre consulte um médico antes de iniciar qualquer tratamento.

Atualmente, não existem medicamentos especificamente aprovados para tratar a NAFLD. No entanto, algumas drogas usadas para outras condições, como pioglitazona (para diabetes) e liraglutida/semaglutida (para diabetes e obesidade), mostraram alguma eficácia na melhora da NASH em estudos. 

A cirurgia bariátrica é uma opção para perda e manutenção de peso em pacientes com obesidade grave, podendo levar à melhora das lesões hepáticas, incluindo a redução da fibrose.

Quando procurar um médico?

Não espere os sintomas graves aparecerem. Se você se enquadra nos grupos de risco (tem sobrepeso, obesidade, diabetes, colesterol e triglicerídeos altos) ou notou algum dos sintomas descritos, mesmo que leves e inespecíficos, é fundamental procurar um profissional de saúde. 

Um diagnóstico precoce e a implementação de um plano de tratamento adequado podem fazer toda a diferença para a sua saúde hepática e bem-estar geral.

 

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

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