19/08/2025
Revisado em: 19/08/2025
A esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, é uma condição que pode evoluir silenciosamente. Entenda os sinais que seu corpo pode enviar e por que a avaliação médica é essencial.
Imagine que, mesmo após uma boa noite de sono, a sensação de fadiga persiste. Ou talvez um desconforto leve e constante na parte superior do abdômen, que você ignora, atribuindo ao estresse ou à má digestão. Esses podem ser alguns dos sinais discretos de uma condição séria: a gordura no fígado, clinicamente chamada de esteatose hepática.
A esteatose hepática é o acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. É uma condição cada vez mais comum, especialmente em um cenário de aumento da obesidade e do sedentarismo.
Por ser, em muitos casos, uma doença "silenciosa" em seus estágios iniciais, seus sintomas podem ser facilmente negligenciados.
O fígado é um dos órgãos mais vitais do corpo humano, responsável por centenas de funções, desde a desintoxicação até a produção de proteínas e armazenamento de energia. Quando há um acúmulo de gordura que excede 5% do peso do órgão, é diagnosticada a esteatose hepática.
A esteatose hepática não alcoólica (NAFLD) é a doença hepática crônica mais comum em todo o mundo. Estima-se que afete entre 25% e 30% da população global, com uma prevalência de 25% em países ocidentais e 34% na Ásia, tornando-se um problema de saúde pública emergente.
Essa condição pode ser classificada em dois tipos principais: a esteatose hepática alcoólica (causada pelo consumo excessivo de álcool) e a esteatose hepática não alcoólica (NAFLD), mais comum e associada a fatores como obesidade, diabetes, colesterol alto e resistência à insulina.
A esteatose hepática não alcoólica é considerada uma doença multissistêmica, fortemente ligada a distúrbios metabólicos como diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares.
Em pacientes com obesidade, a esteatose hepática não alcoólica pode ocorrer em quase 90% dos casos, e em pessoas com diabetes tipo 2, a prevalência varia entre 50% e 70%. Se não tratada, a esteatose pode progredir para inflamação (esteato-hepatite ou NASH), fibrose, cirrose e, em casos mais graves, câncer de fígado.
É fundamental compreender que, na maioria dos casos, a gordura no fígado não apresenta sintomas, especialmente em suas fases iniciais.
Quando surgem, os sinais são frequentemente inespecíficos e podem ser confundidos com outras condições, o que reforça a necessidade de investigação médica.
Estes são os sinais que, embora leves, podem indicar que a gordura no fígado está começando a causar algum impacto no organismo:
Quando a gordura no fígado evolui e começa a causar inflamação significativa (esteato-hepatite) ou danos mais severos ao tecido hepático, como a fibrose ou cirrose, os sintomas tendem a se tornar mais evidentes e preocupantes.
Nesses estágios avançados, o fígado já pode estar comprometido em suas funções.
Os sinais de alerta incluem:
A esteatose hepática, como mencionado, é traiçoeira por ser frequentemente assintomática em seus estágios iniciais (Grau 1 e, muitas vezes, Grau 2).
Os sintomas começam a aparecer quando a condição progride para estágios mais avançados, onde já existe inflamação (esteato-hepatite) e, em alguns casos, início de fibrose ou cirrose.
Essa progressão ocorre de forma gradual e varia de pessoa para pessoa. A fibrose em pacientes com NAFLD geralmente piora um estágio a cada 14 anos, enquanto em casos de NASH, essa progressão pode ser mais rápida, ocorrendo a cada sete anos.
Fatores como a persistência de maus hábitos de vida, a presença de doenças crônicas não controladas (como diabetes tipo 2 e hipertensão) e a predisposição genética podem acelerar o aparecimento dos sintomas e o avanço da doença.
O diagnóstico precoce da gordura no fígado é crucial porque, nos estágios iniciais, a condição é reversível. Intervenções no estilo de vida, como mudanças na dieta e prática de exercícios físicos, podem eliminar a gordura e restaurar a saúde do fígado.
Ignorar os sintomas ou a ausência deles pode levar a complicações graves, incluindo:
Identificar os sintomas precocemente permite iniciar o tratamento antes que danos irreversíveis ocorram, preservando a função hepática e a qualidade de vida do paciente.
Se você suspeita de gordura no fígado, ou apresenta fatores de risco, o primeiro passo é procurar um médico, seja um clínico generalista, gastroenterologista ou hepatologista.
O diagnóstico geralmente envolve:
É importante notar que o grau de elevação das enzimas hepáticas nem sempre reflete a gravidade da lesão. Testes não invasivos baseados em sangue, como o FIB-4 e o NAFLD Fibrosis Score (NFS), são amplamente utilizados para estimar o risco de fibrose avançada.
A elastografia por ressonância magnética (MRE) é considerada a mais precisa para diagnosticar a fibrose hepática, enquanto a elastografia transitória controlada por vibração (VCTE), como o Fibroscan, é recomendada como primeiro teste para avaliar fibrose avançada.
A boa notícia é que a prevenção e o tratamento da gordura no fígado, especialmente a não alcoólica, dependem em grande parte de mudanças no estilo de vida. O objetivo principal é reduzir o acúmulo de gordura e evitar a progressão da doença.
As principais recomendações incluem:
A dieta mediterrânea, rica em azeite de oliva, vegetais, frutas, nozes, legumes, grãos integrais, peixes e frutos do mar, e com baixo consumo de carne vermelha e alimentos processados, é fortemente recomendada e pode reduzir a gordura hepática mesmo sem perda de peso.
Para melhorar a inflamação hepática, uma perda de 7% a 10% é geralmente necessária, e para melhorar a fibrose, mais de 10% de redução de peso é indicada.
Recomenda-se mais de 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, distribuídos em 3 a 5 sessões, combinando exercícios aeróbicos e de resistência. O comportamento sedentário é um fator de risco independente para a NAFLD.
Atualmente, não existem medicamentos especificamente aprovados para tratar a NAFLD. No entanto, algumas drogas usadas para outras condições, como pioglitazona (para diabetes) e liraglutida/semaglutida (para diabetes e obesidade), mostraram alguma eficácia na melhora da NASH em estudos.
A cirurgia bariátrica é uma opção para perda e manutenção de peso em pacientes com obesidade grave, podendo levar à melhora das lesões hepáticas, incluindo a redução da fibrose.
Não espere os sintomas graves aparecerem. Se você se enquadra nos grupos de risco (tem sobrepeso, obesidade, diabetes, colesterol e triglicerídeos altos) ou notou algum dos sintomas descritos, mesmo que leves e inespecíficos, é fundamental procurar um profissional de saúde.
Um diagnóstico precoce e a implementação de um plano de tratamento adequado podem fazer toda a diferença para a sua saúde hepática e bem-estar geral.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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