20/08/2025
Revisado em: 28/08/2025
Conheça os principais elementos que influenciam o desenvolvimento da doença e a importância do diagnóstico precoce.
Você já parou para pensar sobre o que realmente influencia o risco de desenvolver câncer de mama? Para muitas mulheres, a preocupação com essa doença é constante, especialmente quando há um histórico familiar. Entender os fatores de risco é o primeiro passo para o conhecimento e a prevenção.
O câncer de mama é uma condição complexa e multifatorial. Isso significa que ele geralmente não tem uma única causa, mas sim uma combinação de elementos genéticos, hormonais e ambientais que interagem ao longo da vida de uma mulher. Conhecer esses fatores permite tomar decisões mais informadas sobre a sua saúde e buscar o acompanhamento adequado.
Globalmente, o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum, com cerca de 7,8 milhões de mulheres vivas que foram diagnosticadas entre 2015 e 2020.
Em 2020, foram diagnosticados 2,3 milhões de novos casos em todo o mundo, com 685.000 mortes pela doença, conforme dados de um estudo publicado no The Breast. A detecção precoce é fundamental para melhorar as taxas de sobrevivência.
Fatores de risco são características ou exposições que aumentam a probabilidade de uma pessoa desenvolver uma doença.
No caso do câncer de mama, esses fatores podem ser divididos em dois grandes grupos: os não modificáveis, sobre os quais não temos controle, e os modificáveis, relacionados ao estilo de vida e que podem ser alterados.
É importante ressaltar que ter um ou mais fatores de risco não significa que o câncer de mama será desenvolvido.
A maioria das mulheres com um ou mais desses fatores nunca terá a doença, e muitas mulheres que desenvolvem o câncer não possuem fatores de risco conhecidos, exceto ser mulher e envelhecer. Contudo, a presença de múltiplos fatores pode elevar a probabilidade e merece atenção.
Os fatores não modificáveis são aqueles que não podem ser alterados. Eles representam características intrínsecas ao indivíduo.
Sim, o principal fator de risco para o câncer de mama é ser mulher. Embora homens também possam ser afetados, a incidência em mulheres é muito maior.
Além disso, a idade avançada é um fator crucial. A maioria dos casos de câncer de mama é diagnosticada em mulheres com mais de 50 anos, e o risco aumenta progressivamente com o passar dos anos.
O histórico familiar de câncer de mama, especialmente em parentes de primeiro grau (mãe, irmã, filha), é um fator de risco relevante. Isso se deve, em parte, à herança genética. Mutações em genes específicos, como BRCA1 e BRCA2, são responsáveis por uma parcela significativa dos casos de câncer de mama hereditário, representando cerca de 5% a 10% do total de casos.
Mulheres com essas mutações genéticas, bem como aquelas com ascendência judaica Ashkenazi (que possuem maior frequência dessas mutações), têm um risco muito mais elevado de desenvolver a doença.
Outras síndromes genéticas raras, como a síndrome de Li-Fraumeni, também aumentam o risco. Nestes casos, o acompanhamento e o rastreamento devem ser ainda mais individualizados e intensivos.
Recentemente, as Pontuações de Risco Poligênico (PRS, do inglês Polygenic Risk Scores) surgiram como uma ferramenta importante para refinar a avaliação do risco de câncer de mama.
As PRS combinam o risco de centenas de pequenas variações genéticas comuns (SNPs) que, individualmente, conferem um risco baixo, mas que, em conjunto, podem influenciar significativamente a probabilidade de desenvolver a doença.
Um estudo publicado no The Breast demonstrou que as PRS, quando combinadas com fatores de risco clássicos e densidade mamográfica, podem melhorar a estratificação do risco, identificando mais mulheres nas categorias de risco mais alto e mais baixo.
As PRS podem até mesmo reclassificar o risco de portadoras de mutações em genes de alto risco, como BRCA1 e BRCA2, indicando que mais de 30% das portadoras de BRCA1 e cerca de 50% das portadoras de BRCA2 podem ter um risco de câncer de mama menor do que o esperado (abaixo de 20% ao longo da vida).
No entanto, é importante notar que a maioria das PRS foi desenvolvida com base em populações de origem europeia, e sua aplicação em outras etnias pode superestimar o risco, sendo necessária mais pesquisa para garantir sua precisão em grupos diversos.
Certos aspectos da vida reprodutiva e hormonal da mulher também influenciam o risco de câncer de mama.
A menarca precoce, ou seja, a primeira menstruação antes dos 12 anos, aumenta o tempo de exposição dos seios aos hormônios estrogênio e progesterona, elevando o risco. Da mesma forma, a menopausa tardia, que ocorre após os 55 anos, também prolonga essa exposição hormonal.
Nunca ter tido filhos (nuliparidade) ou ter tido o primeiro filho após os 30 anos são outros fatores de risco. Isso porque a gestação em idade mais jovem e a amamentação prolongada podem ter um efeito protetor.
Além disso, ter mamas densas, uma característica observada em mamografias, também é um fator de risco independente, pois dificulta a detecção de pequenas lesões no exame.
Doenças benignas da mama (DBM) também aumentam o risco de câncer de mama. Biópsias de DBM são quatro vezes mais comuns que diagnósticos de câncer de mama invasivo nos EUA, afetando cerca de 1 milhão de mulheres anualmente.
Um estudo em *Breast Cancer Research : BCR* mostrou que a doença proliferativa da mama com atipia (hiperplasia atípica) está associada a um risco cinco vezes maior de câncer de mama, especialmente para tumores positivos para receptor de estrogênio (ER-positivo).
A presença de lesões de células colunares (LCCs) em biópsias de DBM também foi associada a um aumento de 1,5 vezes no risco de tumores ER-positivos e ER-negativos, sendo esse risco ainda mais evidente em mulheres na pós-menopausa.
Diferente dos fatores não modificáveis, os hábitos e exposições podem ser controlados e representam uma oportunidade para a prevenção.
Sim, a obesidade e o sobrepeso, especialmente após a menopausa, são reconhecidos fatores de risco para o câncer de mama.
O tecido adiposo em excesso, particularmente na pós-menopausa, produz estrogênio, elevando os níveis hormonais no corpo e, consequentemente, o risco.
Um estudo publicado em *Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention* indicou que mulheres com IMC igual ou superior a 30 kg/m² têm um risco 19% maior de mortalidade por todas as causas em 10 anos, em comparação com aquelas com IMC entre 18,5 e 25 kg/m².
A prática de atividade física regular, por outro lado, foi associada a uma redução de 57% no risco de mortalidade por todas as causas.
O sedentarismo, por sua vez, está associado ao ganho de peso e à inflamação crônica, contribuindo para o aumento do risco. Manter um peso saudável e ser fisicamente ativa são estratégias importantes para a prevenção.
O consumo de bebidas alcoólicas, mesmo que moderado, está associado a um aumento do risco de câncer de mama.
Quanto maior a quantidade de álcool consumida, maior o risco. O tabagismo, além de ser um fator de risco para diversos tipos de câncer, incluindo o de mama, também prejudica a saúde geral e a capacidade de recuperação do corpo.
O mesmo estudo publicado em *Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention* mostrou que fumantes atuais têm um risco 37% maior de mortalidade por todas as causas em 10 anos, em comparação com quem nunca fumou.
O uso de terapia de reposição hormonal (TRH) combinada, contendo estrogênio e progesterona, por períodos prolongados (geralmente mais de 5 anos), pode aumentar o risco de câncer de mama.
É fundamental discutir os riscos e benefícios da TRH com seu médico, que avaliará sua necessidade e alternativas.
O estudo em *Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention* também indicou que o uso de terapia hormonal da menopausa, incluindo terapia combinada de estrogênio-progesterona, foi associado a uma redução de 39% na mortalidade por todas as causas em 10 anos, o que ressalta a importância de uma avaliação médica individualizada.
A exposição frequente à radiação ionizante em idade jovem, como a radioterapia no tórax para tratamento de outros tipos de câncer, pode aumentar o risco.
Existem também estudos que investigam a relação entre a exposição a certas substâncias químicas presentes em agrotóxicos e poluentes ambientais e o risco de câncer de mama, embora a evidência ainda esteja sendo consolidada.
Não. É crucial compreender que a presença de um ou mais fatores de risco não é uma sentença.
Muitos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres sem fatores de risco conhecidos, e muitas mulheres com vários fatores nunca desenvolvem a doença. A maioria dos casos resulta de uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais que ainda não são totalmente compreendidos.
A identificação de fatores de risco serve como um guia para aumentar a atenção e a vigilância.
É importante ressaltar que a maioria dos tumores que se desenvolvem após um diagnóstico de doença benigna da mama são de estágio inicial e positivos para receptor de estrogênio, o que os torna altamente tratáveis, conforme apontado por um estudo em *Breast Cancer Research : BCR*. Isso reforça a importância do acompanhamento e da detecção precoce.
Embora alguns fatores de risco sejam inalteráveis, é possível agir sobre outros para diminuir a probabilidade de desenvolver a doença.
Adotar um estilo de vida saudável é uma das principais formas de prevenção. Isso inclui manter um peso corporal adequado, especialmente após a menopausa, através de uma alimentação balanceada rica em frutas, vegetais e grãos integrais, e pobre em alimentos processados e gorduras saturadas. A prática regular de atividade física (pelo menos 150 minutos de exercícios moderados por semana) também é fundamental.
Evitar o consumo de álcool ou limitá-lo ao máximo, bem como não fumar, são medidas importantes. Para as mães, a amamentação, quando possível, por períodos mais longos, oferece um efeito protetor significativo contra o câncer de mama.
A detecção precoce é essencial para aumentar as chances de cura. Isso se dá principalmente através da mamografia de rastreamento, que deve ser realizada conforme a orientação médica, geralmente a partir dos 40 ou 50 anos, dependendo do histórico e perfil de risco individual.
O autoexame das mamas e o exame clínico periódico feito por um profissional de saúde são importantes para que a mulher conheça o seu corpo e possa identificar alterações suspeitas rapidamente.
Consultar um médico regularmente é fundamental para uma abordagem personalizada à saúde da mama. Um profissional de saúde pode avaliar seu histórico familiar e pessoal, identificar seus fatores de risco específicos e determinar o plano de rastreamento mais adequado para você.
Ele pode orientar sobre a frequência da mamografia, a necessidade de outros exames complementares ou de aconselhamento genético, se houver indicação.
Para mulheres com alto risco de câncer de mama, como portadoras de mutações genéticas BRCA1 e BRCA2, a mastectomia redutora de risco (remoção cirúrgica das mamas) pode ser uma opção a ser considerada.
Estudos indicam que a mastectomia bilateral redutora de risco é eficaz na redução da incidência e da mortalidade por câncer de mama. No entanto, é crucial que a mulher e o médico compreendam o risco individual real e as limitações das evidências atuais antes de considerar a cirurgia, conforme revisão da *The Cochrane Database of Systematic Reviews*.
Outras opções preventivas, como a quimioprevenção (uso de medicamentos para reduzir o risco) e a ooforectomia bilateral redutora de risco (remoção dos ovários e tubas uterinas), também podem ser discutidas.
O acompanhamento médico permite que você tire suas dúvidas, receba orientações sobre hábitos de vida saudáveis e, caso alguma alteração seja identificada, possa iniciar o diagnóstico e tratamento o mais rápido possível, aumentando significativamente as chances de sucesso. Não hesite em buscar ajuda profissional para discutir suas preocupações e planejar sua saúde.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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