20/08/2025
Revisado em: 27/08/2025
Conheça os elementos que podem aumentar as chances de desenvolver a doença e as estratégias para uma vida mais saudável e preventiva.
Quando você pensa em saúde, a prevenção costuma ser a primeira palavra que vem à mente. Isso se torna ainda mais relevante ao abordarmos o câncer, uma doença complexa que afeta milhões de pessoas globalmente.
O número de casos de câncer tem aumentado constantemente em todo o mundo, com um crescimento de 33% entre 2005 e 2015. Compreender os fatores de risco é o primeiro passo para adotar medidas protetivas e reduzir as chances de desenvolvimento da doença.
Alguns desses fatores estão sob seu controle, enquanto outros exigem atenção e monitoramento.
Estima-se que entre 30% e 50% dos casos de câncer poderiam ser prevenidos pela modificação ou evitação de fatores de risco chave relacionados ao estilo de vida e ao ambiente. Em 2019, quase metade de todas as mortes por câncer no mundo, cerca de 4,45 milhões, foram causadas por fatores de risco que poderiam ser evitados, segundo um estudo publicado na Lancet.
A maior parte do risco de câncer, estimada entre 60% e 90%, é impulsionada por fatores não intrínsecos, ou seja, aqueles que podem ser modificados, conforme uma análise da Nature Communications. Apenas uma pequena parcela, entre 10% e 30% da incidência de câncer, é atribuída a erros intrínsecos de replicação do DNA, muitas vezes chamados de "azar".
Neste guia, exploramos os principais elementos que influenciam o risco de câncer. Apresentamos desde hábitos cotidianos que podem ser alterados até condições genéticas que demandam acompanhamento especializado. Ao se informar, você adquire o poder de fazer escolhas conscientes e investir na sua longevidade.
Os fatores de risco modificáveis são aqueles sobre os quais você tem algum controle, podendo alterá-los para reduzir o risco de desenvolver câncer. Adotar um estilo de vida saudável é uma das estratégias mais eficazes de prevenção.
O tabagismo é, sem dúvida, um dos maiores fatores de risco para o câncer. Ele está associado a diversos tipos de tumores, como os de pulmão, boca, laringe, esôfago, bexiga, pâncreas, rim, estômago, fígado, cólon, reto e colo do útero, além de leucemia mieloide aguda.
O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer em todo o mundo, sendo responsável por 36,9% de todas as mortes por câncer atribuíveis a fatores de risco em 2019. As substâncias químicas presentes no cigarro, charuto, cachimbo e outros produtos do tabaco danificam o DNA das células, levando ao seu crescimento descontrolado.
Estudos indicam que o tabagismo pode ser responsável por até 25% a 30% de todos os cânceres em humanos.
Em sobreviventes de câncer em idade jovem e adulta (15-39 anos), o tabagismo é um fator de risco conhecido para o câncer de pulmão e aumenta o risco de desenvolver novos tumores primários. Uma pesquisa revelou que 33% dos sobreviventes de câncer nessa faixa etária eram fumantes, em comparação com 22% do grupo de comparação sem câncer.
Além disso, a exposição ao fumo passivo, ou seja, inalar a fumaça de cigarros de outras pessoas, também aumenta o risco de câncer, especialmente o de pulmão.
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas é um fator de risco comprovado para o câncer. Ele está ligado a tumores de boca, faringe, laringe, esôfago, fígado, mama e intestino.
O uso de álcool é o segundo principal fator de risco para o câncer globalmente. O álcool, ao ser metabolizado pelo corpo, produz substâncias que podem danificar o DNA das células, contribuindo para o desenvolvimento de mutações cancerígenas.
Para mulheres, o consumo de mais de 45 gramas de álcool por dia foi associado a um risco 1,5 vez maior de câncer de mama. Vale ressaltar que não existe uma quantidade segura de álcool. No entanto, a moderação é fundamental. Limitar o consumo ou evitá-lo completamente é a melhor forma de reduzir esse risco.
Uma dieta rica em alimentos ultraprocessados, gorduras saturadas, açúcares e pobre em frutas, vegetais e fibras pode aumentar significativamente o risco de diversos tipos de câncer. A falta de nutrientes essenciais e a presença de componentes inflamatórios contribuem para um ambiente propício ao desenvolvimento tumoral.
A obesidade, por sua vez, é um fator de risco independente para pelo menos 13 tipos de câncer, incluindo os de mama (pós-menopausa), cólon e reto, endométrio, esôfago, rim, fígado, pâncreas, vesícula biliar, ovário e tireoide.
A obesidade é um fator de risco altamente modificável e está ligada a um aumento significativo no risco de câncer de útero, por exemplo. O excesso de gordura corporal leva a um estado de inflamação crônica e a alterações hormonais (como o aumento de estrogênio), que podem estimular o crescimento de células cancerígenas.
Entre 2010 e 2019, os riscos metabólicos, como o alto IMC, apresentaram o maior aumento percentual na carga de câncer atribuível, com um crescimento de 34,7% nas mortes e 33,3% nos anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs).
A dieta, em geral, é considerada como um fator que contribui para 20% a 40% de todos os cânceres.
A falta de atividade física regular está associada a um risco maior de câncer de mama, intestino e endométrio. O sedentarismo contribui para o ganho de peso e desequilíbrios hormonais e metabólicos, que podem favorecer o aparecimento de células cancerígenas.
A prática regular de exercícios físicos, mesmo que moderados, ajuda a manter um peso saudável, melhora o sistema imunológico e reduz a inflamação, fatores que atuam na prevenção do câncer.
A exposição excessiva e desprotegida aos raios ultravioleta (UV) do sol é a principal causa do câncer de pele, incluindo o melanoma, o tipo mais grave.
Estima-se que entre 65% e 86% do risco de melanoma e cerca de 90% dos cânceres de pele não-melanoma (basocelular e espinocelular) sejam atribuíveis à exposição UV. Os raios UV danificam o DNA das células da pele, levando ao seu crescimento descontrolado.
A radiação ionizante ou UV contribui causalmente para a incidência de câncer, sendo estimada como responsável por aproximadamente 20% dos cânceres. Medidas preventivas incluem o uso de protetor solar com fator de proteção solar (FPS) adequado, chapéus, óculos de sol e roupas de proteção, além de evitar a exposição solar nos horários de pico (entre 10h e 16h).
Alguns vírus e bactérias estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de certos tipos de câncer. Agentes infecciosos, como HPV e vírus da hepatite B e C, contribuem para cerca de 15% a 20% de todos os cânceres em humanos. Para mulheres, o sexo sem proteção foi o segundo principal fator de risco para anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) de câncer em 2019, respondendo por 8,2%.
É o caso, por exemplo:
A prevenção dessas infecções, por meio de vacinação, higiene e práticas sexuais seguras, é crucial para reduzir o risco de câncer.
A exposição a certas substâncias químicas no ambiente de trabalho ou na comunidade pode aumentar o risco de câncer.
Em 2019, os carcinógenos ocupacionais foram responsáveis por uma carga de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) de câncer três vezes maior em homens (3,9%) do que em mulheres (1,3%), possivelmente devido à maior exposição em certos ambientes de trabalho. Exemplos incluem:
É essencial que trabalhadores expostos a essas substâncias utilizem equipamentos de proteção individual e que as políticas de saúde pública controlem a poluição ambiental.
Alguns medicamentos e tratamentos podem aumentar o risco de câncer em certas situações, embora geralmente os benefícios superem os riscos. Em sobreviventes de câncer em idade jovem e adulta, tratamentos como radioterapia e quimioterapia podem aumentar o risco de desenvolver novos tumores primários.
Por exemplo, a radioterapia no tórax e a quimioterapia estão ligadas a um risco aumentado de câncer de pulmão em sobreviventes de linfoma de Hodgkin e câncer de mama.
A irradiação pélvica, usada no tratamento do câncer de colo do útero, pode aumentar o risco de câncer de bexiga e colorretal. Para sobreviventes de câncer testicular, a irradiação dos linfonodos para-aórticos pode explicar o excesso de tumores em locais abdominais como próstata, bexiga e colorretal.
Exemplos de medicamentos e tratamentos que podem aumentar o risco incluem:
A avaliação médica individualizada é crucial para ponderar os riscos e benefícios de qualquer tratamento.
Existem fatores de risco para o câncer sobre os quais não temos controle direto. Contudo, estar ciente deles é fundamental para um monitoramento adequado e a adoção de estratégias de detecção precoce.
O risco de câncer aumenta significativamente com a idade. Isso ocorre porque, ao longo da vida, as células acumulam danos em seu DNA, e a capacidade do corpo de reparar esses danos ou eliminar células anormais diminui. A maioria dos diagnósticos de câncer ocorre em pessoas acima dos 60 anos.
Em sobreviventes de câncer diagnosticado entre 15 e 39 anos, o risco de desenvolver um segundo câncer primário é entre 1,5 e 3,1 vezes maior do que na população geral. Em um estudo com mais de 200 mil sobreviventes, 6% desenvolveram um novo tumor primário.
Após 35 anos do diagnóstico inicial, a incidência cumulativa de novos tumores foi de 11,9% para sobreviventes de câncer de mama, 15,8% para câncer de colo do útero, 20,2% para câncer testicular, 26,6% para linfoma de Hodgkin em mulheres e 16,5% em homens.
Cerca de 5% a 10% dos casos de câncer estão ligados a mutações genéticas herdadas dos pais. Ter um histórico familiar de câncer, especialmente em parentes de primeiro grau (pais, irmãos, filhos), pode indicar uma predisposição genética.
Estudos indicam que entre 30% e 40% do risco atribuível para cânceres de mama, próstata e cólon pode ser devido a causas genéticas.
Mutações em genes como BRCA1 e BRCA2 estão fortemente associadas a um risco aumentado de câncer de mama e ovário. Uma pesquisa com gêmeos na Escandinávia revelou um excesso de risco familiar de 33% para todos os tipos de câncer, com quase 60% dos casos de câncer de próstata sendo influenciados por fatores genéticos. Outras síndromes genéticas também elevam o risco para tipos específicos de câncer. Nesses casos, o aconselhamento genético e o rastreamento individualizado são essenciais.
Embora alguns fatores de risco sejam inalteráveis, uma grande parte dos casos de câncer poderia ser prevenida com a adoção de um estilo de vida mais saudável. A Cancer Research UK estima que aproximadamente 40% da carga de câncer pode ser prevenida atualmente.
A combinação de escolhas conscientes e acompanhamento médico regular é a sua melhor defesa.
A presença de um ou mais fatores de risco não significa que você desenvolverá câncer. No entanto, ela indica uma probabilidade maior. Por isso, conversar abertamente com um profissional de saúde sobre seus fatores de risco é crucial. O médico poderá oferecer orientações personalizadas, indicar exames preventivos e auxiliar na adoção de hábitos que promovam sua saúde e bem-estar.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.
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