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É normal sentir dor? Entenda quando a dor vira um alerta

Sentir dor é uma resposta natural do corpo a lesões, inflamações ou doenças. 

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Em situações agudas, como após uma batida, uma cirurgia ou uma infecção, a dor serve como um alerta de que algo precisa ser cuidado. 

No entanto, quando a dor persiste por semanas ou meses, mesmo depois da recuperação do corpo, ela deixa de cumprir esse papel protetor e se torna um problema por si só.

Nesses casos, a dúvida “é normal sentir dor?” precisa ser repensada. A dor constante não é normal e não deve ser ignorada ou naturalizada. Ela pode estar associada a alterações no sistema nervoso, à sensibilidade aumentada dos nervos ou até a fatores emocionais e comportamentais. 

Identificar esses mecanismos é essencial para quebrar o ciclo da dor crônica e buscar um tratamento eficaz.

O que é considerado dor crônica?

A dor crônica é definida como qualquer desconforto que persiste por mais de três meses, ultrapassando o tempo normal de cicatrização tecidual. 

Esse tipo de dor envolve três mecanismos biológicos distintos que podem ocorrer simultaneamente:

  • Nociceptiva: Resultado de lesões teciduais (artrites, tendinites)
  • Neuropática: Causada por danos nervosos (neuropatias diabéticas)
  • Nociplástica: Disfunção no processo neurológico (fibromialgia)

Sentir dor de vez em quando é esperado. Mas quando o desconforto se torna constante, a pergunta muda: é normal sentir dor todos os dias? A resposta é não. 

A dor crônica, aquela que dura por semanas ou meses, muitas vezes permanece mesmo depois que a causa física desapareceu. Isso acontece porque o corpo e o cérebro entram em ciclos viciosos que mantêm a dor ativa, mesmo sem lesão aparente.

Os ciclos viciosos que mantêm a dor

A dor crônica não depende apenas do que acontece fisicamente no corpo. Ela é mantida e intensificada por uma série de fatores interligados, físicos, emocionais, comportamentais e sociais, que se retroalimentam e dificultam a recuperação.

A seguir, conheça os principais ciclos viciosos que mantêm a dor ativa, mesmo quando a causa original já não existe mais.

1. Dor → Medo do movimento → Inatividade → Mais dor

Esse é um dos ciclos mais comuns em pessoas com dor crônica. O desconforto leva ao medo de se movimentar (cinesiofobia), o que faz com que o corpo fique mais parado. A inatividade provoca perda de força muscular, rigidez e menor circulação, fatores que, por sua vez, aumentam a percepção da dor.

A quebra desse ciclo começa com a reintrodução gradual de atividades físicas, sempre com orientação de profissionais como fisioterapeutas ou educadores físicos especializados.

2. Dor → Estresse e ansiedade → Tensão muscular → Mais dor

A dor gera estresse, preocupação e medo constante de piorar. Esses sentimentos causam tensão muscular involuntária, principalmente em regiões como pescoço, ombros e costas. Essa contração prolongada aumenta ainda mais a sensação de dor e gera um estado de alerta contínuo no cérebro.

Técnicas de relaxamento, respiração profunda, meditação e psicoterapia são ferramentas eficazes para diminuir essa tensão e ajudar o corpo a sair do modo “defensivo”.

3. Dor → Problemas de sono → Fadiga e hipersensibilidade → Mais dor

Dormir mal impacta diretamente a percepção da dor. A privação de sono afeta a produção de substâncias que regulam a resposta inflamatória e a sensação de bem-estar, como serotonina e melatonina. Com o tempo, o corpo entra em um estado de fadiga crônica, em que qualquer estímulo é interpretado como dor.

Tratar distúrbios do sono é uma parte fundamental da abordagem multidisciplinar da dor crônica. Higiene do sono, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, medicação podem ajudar.

4. Dor → Isolamento social → Depressão ou baixa autoestima → Mais dor

A limitação causada pela dor muitas vezes leva ao afastamento do convívio social, do trabalho e de atividades de lazer. Esse isolamento favorece o desenvolvimento de sintomas de depressão, frustração e sentimento de inutilidade, o que piora ainda mais o quadro.

Reintegrar o paciente às atividades prazerosas e à vida social, mesmo que de forma adaptada, é parte importante da recuperação.

5. Dor → Foco excessivo no sintoma → Sensibilização cerebral → Mais dor

Quanto mais a pessoa presta atenção na dor, mais o cérebro interpreta esse sinal como algo perigoso. Isso leva a uma “supervalorização” do sintoma, aumentando a sensibilidade dos receptores nervosos e criando um estado de hipervigilância.

O acompanhamento psicológico pode ajudar a mudar a forma como o paciente interpreta e lida com a dor, reduzindo o impacto emocional e o foco constante no desconforto.

Não é normal sentir dor de maneira constante

A dor crônica não é frescura, nem sinal de fraqueza. Ela tem causas reais, muitas vezes invisíveis, e afeta não só o corpo, mas também o emocional e a rotina de quem convive com ela. Entender os ciclos viciosos que mantêm a dor é o primeiro passo para quebrá-los.

Com o acompanhamento certo, que pode envolver médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais, é possível reduzir o sofrimento, recuperar o movimento e voltar a viver com mais liberdade. Se a dor persiste, procure ajuda. Você não precisa conviver com ela para sempre.

 

Bibliografia

BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa aponta que quase 37% dos brasileiros acima de 50 anos têm dores crônicas. Gov.br, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/pesquisa-aponta-que-quase-37-dos-brasileiros-acima-de-50-anos-tem-dores-cronicas. Acesso em: 25 jul. 2025.

 SILVA, Rafael et al. Chronic pain in Brazilian older adults: prevalence, associated factors, and impact on daily life. medRxiv, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1101/2024.12.10.627344. Acesso em: 25 jul. 2025.