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Dor nas pernas: quais as causas mais comuns e quando buscar ajuda médica?

Sabe aquela sensação de peso, cansaço ou pontada que surge nas pernas ao final do dia ou durante a noite? A dor nas pernas é um sintoma comum, que afeta pessoas de todas as idades e pode ter causas variadas.

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A dor nas pernas é uma queixa frequente, e suas origens são diversas. Ela pode ser um sinal de sobrecarga, resultado de hábitos diários ou indicar condições de saúde que necessitam de atenção. Compreender as possíveis causas é o primeiro passo para buscar o tratamento adequado e aliviar o desconforto.

Causas musculares e ósseas: Lesões, esforço e sobrecarga

A maioria das dores nas pernas está ligada ao sistema musculoesquelético. O esforço físico excessivo, seja em atividades esportivas ou no dia a dia, pode levar à fadiga e a microlesões nas fibras musculares.

  • Cãibras: contrações musculares involuntárias e dolorosas, geralmente na panturrilha ou coxa, associadas à desidratação, falta de minerais (potássio, magnésio) ou esforço.
  • Traumatismos e lesões: distensões, contusões, torções ou fraturas podem causar dor aguda e localizada, muitas vezes acompanhada de inchaço e hematomas.
  • Inflamações: tendinites (inflamação dos tendões) e bursites (inflamação das bursas, pequenas bolsas que amortecem as articulações) provocam dor ao movimento ou toque.
  • Condições crônicas: artrite (inflamação das articulações), artrose (desgaste da cartilagem), fibromialgia (doença que causa dor generalizada) e metatarsalgia (dor na planta do pé) podem manifestar-se com dor nas pernas, impactando a mobilidade.

Problemas circulatórios: quando a má circulação é a vilã

A circulação sanguínea deficiente é uma causa comum de dor nas pernas, especialmente em idosos ou pessoas com certas condições de saúde. Quando o sangue não flui adequadamente, pode haver acúmulo de líquidos ou falta de oxigenação nos tecidos, gerando desconforto.

  • Insuficiência venosa crônica (varizes): as veias não conseguem bombear o sangue de volta ao coração de forma eficiente. Isso causa inchaço, sensação de peso, cansaço e dor, que pioram ao longo do dia e ao ficar muito tempo em pé. As varizes são veias dilatadas e tortuosas que se tornam visíveis sob a pele.
  • Trombose venosa profunda (TVP): caracterizada pela formação de um coágulo sanguíneo em uma veia profunda, geralmente na perna. É uma condição grave que pode causar dor intensa, inchaço súbito, vermelhidão e calor local. A TVP exige atendimento médico imediato devido ao risco de embolia pulmonar.
  • Doença arterial periférica (DAP): ocorre quando as artérias que levam sangue para as pernas se estreitam devido ao acúmulo de placas de gordura. A dor, conhecida como claudicação, surge durante a caminhada e melhora com o repouso.

Dores neurológicas: O nervo ciático e outras condições

Problemas nos nervos que percorrem as pernas também podem ser a causa da dor, muitas vezes descrita como queimação, choque elétrico ou formigamento.

  • Ciatalgia: é a dor causada pela compressão ou irritação do nervo ciático, que se estende da região lombar até os pés. A dor pode irradiar pela coxa, panturrilha e pé, sendo frequentemente acompanhada de dormência e fraqueza.
  • Neuropatias: condições que afetam os nervos, como a neuropatia diabética, podem causar dor crônica, queimação, formigamento ou perda de sensibilidade nas pernas e pés.

A dor que se irradia da coluna para a perna é comumente chamada de "ciática", mas essa terminologia pode ser inconsistente. 

Especialistas recomendam usar o termo mais abrangente "dor na perna relacionada à coluna" para incluir diferentes condições, como dor somática referida, dor radicular ou radiculopatia dolorosa. A dor radicular, por exemplo, pode ser descrita como choques elétricos, pontadas, fisgadas ou queimação, muitas vezes acompanhada de formigamento ou sensação de dormência.

É importante notar que a dor radicular com radiculopatia (quando há déficits neurológicos como fraqueza ou perda de sensibilidade) é classificada como dor neuropática. A dor neuropática é uma condição comum em pessoas com dor na perna relacionada à coluna, com uma prevalência que pode variar, dependendo dos critérios de diagnóstico utilizados, segundo um estudo publicado na revista Pain. 

Identificar a presença de dor neuropática é crucial, pois ela pode exigir abordagens de tratamento específicas.

Fatores do dia a dia e estilo de vida: postura e hábitos

O estilo de vida e os hábitos diários exercem grande influência na saúde das pernas. Alguns fatores simples podem desencadear ou agravar a dor.

A dor na perna relacionada à coluna, que afeta cerca de dois terços dos pacientes com dor lombar, está associada a maior intensidade de dor e incapacidade, um tempo de recuperação mais longo e mais dias de trabalho perdidos em comparação com a dor lombar isolada. 

  • Ficar muito tempo em pé ou sentado: Ambas as situações podem comprometer a circulação e sobrecarregar os músculos e articulações.
  • Calçados inadequados: Sapatos apertados, de salto alto ou que não oferecem suporte adequado podem causar desconforto e dor nos pés e pernas.
  • Má postura: Posturas incorretas ao sentar, levantar ou carregar peso podem sobrecarregar a coluna e os membros inferiores.
  • Obesidade e gravidez: O excesso de peso aumenta a carga sobre as pernas e articulações, enquanto a gravidez pode causar inchaço e dor devido às alterações hormonais e ao peso extra.

Um estudo identificou que pacientes com dor lombar e na perna podem ser agrupados em diferentes perfis, desde dor leve até casos mais severos e atípicos, cada um com características e cursos clínicos distintos.

Quando a dor nas pernas se torna preocupante?

A maioria das dores nas pernas não indica uma condição grave e tende a melhorar com repouso e cuidados simples. No entanto, certos sinais e sintomas exigem atenção médica imediata, pois podem indicar problemas de saúde mais sérios.

É fundamental saber se a dor na perna tem um componente neuropático, pois essa informação pode guiar o tratamento e o manejo da condição. Especialistas concordam que a identificação da dor neuropática é importante para direcionar a terapia, incluindo o autocuidado.

Sintomas de alerta que exigem avaliação médica urgente

Não hesite em procurar um médico se a dor nas pernas vier acompanhada de:

  • Dor súbita e intensa: especialmente se surgir sem causa aparente ou após um trauma.
  • Inchaço, vermelhidão ou calor na perna: pode ser um sinal de inflamação grave ou trombose.
  • Pele azulada, pálida ou fria: indica problemas sérios de circulação arterial.
  • Febre: sugere infecção ou inflamação generalizada.
  • Dormência, formigamento ou fraqueza progressiva: podem indicar compressão nervosa ou lesão.
  • Histórico de TVP ou problemas circulatórios graves na família: aumenta o risco e a necessidade de investigação.
  • Dificuldade para andar ou movimentar a perna: se a dor impede as atividades diárias.
  • Dor que não melhora com repouso: e que persiste por vários dias.

Como aliviar a dor nas pernas em casa?

Para as dores mais leves e pontuais, algumas medidas simples podem proporcionar alívio imediato e auxiliar na recuperação. No entanto, é fundamental lembrar que esses cuidados são paliativos e não substituem a avaliação médica caso a dor persista ou se agrave.

Medidas imediatas para alívio

  • Repouso e elevação das pernas: deitar-se e elevar as pernas acima do nível do coração por cerca de 15 a 20 minutos pode ajudar a reduzir o inchaço e melhorar a circulação.
  • Compressas: para dores musculares e inchaço, compressas frias (gelo, envolto em um pano) podem reduzir a inflamação. Para relaxamento muscular e cãibras, compressas mornas são mais indicadas.
  • Massagens suaves: massagear a região dolorida com movimentos leves pode relaxar a musculatura e melhorar o fluxo sanguíneo.
  • Escalda-pés: mergulhar os pés em água morna com sais pode ser relaxante e aliviar a tensão nos membros inferiores.
  • Alongamentos e exercícios leves: se a dor for muscular, alongamentos suaves podem ajudar, mas sempre com cautela e sem forçar. Caminhadas leves também podem melhorar a circulação, se a causa não for grave.

Hábitos saudáveis que contribuem para o bem-estar das pernas

Além das medidas de alívio, a adoção de hábitos saudáveis é essencial para a saúde geral das pernas e para prevenir o reaparecimento das dores.

  • Hidratação adequada: beber bastante água é fundamental para o bom funcionamento muscular e circulatório, ajudando a prevenir cãibras.
  • Alimentação equilibrada: uma dieta rica em frutas, verduras e minerais (como potássio e magnésio) contribui para a saúde muscular e nervosa.
  • Uso de meias de compressão: para pessoas com insuficiência venosa ou longos períodos em pé, meias de compressão, indicadas por um médico, podem auxiliar na circulação e reduzir o inchaço.
  • Evitar longos períodos na mesma posição: mude de posição regularmente, faça pequenas caminhadas ou alongamentos para ativar a circulação.

Como prevenir a dor nas pernas no dia a dia?

A prevenção é sempre o melhor caminho para evitar o desconforto e garantir a saúde das suas pernas a longo prazo. Pequenas mudanças na rotina podem fazer uma grande diferença.

  • Exercícios físicos regulares e adequados: a prática de atividades físicas, como caminhada, natação ou ciclismo, fortalece a musculatura das pernas e melhora a circulação. Comece de forma gradual e sempre com orientação profissional.
  • Manutenção do peso ideal: controlar o peso corporal diminui a sobrecarga nas articulações e na coluna, aliviando o estresse sobre as pernas.
  • Calçados confortáveis: use sapatos que ofereçam bom suporte, sejam macios e que se ajustem bem aos seus pés, evitando saltos muito altos ou rasteirinhas em excesso.
  • Pausas e alongamentos no trabalho ou em viagens: se o seu dia envolve longos períodos sentado ou em pé, faça pausas para caminhar, esticar as pernas e realizar alongamentos suaves.
  • Hidratação constante: mantenha-se bem hidratado ao longo do dia para garantir o bom funcionamento de músculos e nervos.

É possível diferenciar dor muscular de dor vascular?

Compreender a diferença entre dor muscular e dor vascular pode ajudar a identificar a possível causa do desconforto, embora a confirmação deva vir sempre de um profissional de saúde. As características da dor e os sintomas associados são pistas importantes.

Além das dores musculares e vasculares, é crucial considerar a dor neuropática, que se origina de uma lesão ou doença no sistema nervoso somatossensorial. Essa dor pode ser descrita como queimação, choque elétrico, pontadas ou fisgadas. 

Sintomas como formigamento, dormência e fraqueza também são comuns. A presença de sinais neurológicos positivos, como alterações nos reflexos, sensibilidade ou força muscular, aumenta a suspeita de um componente neuropático.

Sinais para observar

A tabela a seguir resume as principais diferenças:

Característica

Dor Muscular

Dor Vascular (Circulatória)

Dor Neuropática (Relacionada a Nervos)

 

Causa Comum

Esforço físico, lesão, cãibra, inflamação.

Má circulação, varizes, trombose.

Compressão ou lesão de nervos (ex: ciático, neuropatia diabética).

Tipo de Dor

Cãibra, pontada, fisgada, peso, dor localizada ao toque.

Queimação, latejamento, sensação de peso ou cansaço, dormência.

Queimação, choque elétrico, pontadas, fisgadas, formigamento, dormência.

Localização

Geralmente em um músculo específico (panturrilha, coxa).

Mais difusa, pode afetar toda a perna, piora em pé.

Pode seguir o trajeto de um nervo (ex: da coluna para a perna e pé).

Quando Piora

Durante ou após o exercício, ao contrair o músculo afetado.

Ao ficar muito tempo em pé ou sentado, em dias quentes.

Pode ser espontânea, piorar com certos movimentos ou toques leves (alodinia).

Quando Melhora

Com repouso, alongamento suave, calor/gelo.

Com elevação das pernas, caminhada (claudicação intermitente na DAP).

Pode ser persistente, com pouca melhora ao repouso.

Sintomas Associados

Sensibilidade ao toque, inchaço leve e localizado, nódulos musculares.

Inchaço, varizes visíveis, alteração na cor da pele (avermelhada, arroxeada), pele fria ou pálida, feridas que não cicatrizam.

Perda de sensibilidade, fraqueza muscular, alterações de reflexos, sensação de "alfinetadas".

Qual especialista procurar para dor nas pernas?

Diante da dor nas pernas persistente ou preocupante, a busca por um diagnóstico profissional é indispensável. O médico poderá investigar a causa, solicitar exames específicos e indicar o tratamento mais eficaz.

Um estudo recente com pacientes que buscaram fisioterapia para dor lombar mostrou que a ferramenta de triagem STarT Back (SBST) pode ser útil para prever a trajetória de incapacidade. 

Pacientes com risco médio ou alto no SBST apresentaram maior incapacidade inicial e, mesmo com uma recuperação mais rápida nos primeiros meses, ainda tinham maior incapacidade após 12 meses. 

No entanto, o tipo de dor na perna (se não irradiante, referida não radicular ou radicular) não se mostrou associado à trajetória de recuperação da dor lombar, sugerindo que o foco deve ser nos fatores psicossociais.

A importância do diagnóstico médico

Para identificar a origem da dor e propor o melhor plano de cuidado, o médico pode realizar um exame físico detalhado e, se necessário, solicitar exames complementares como ultrassom Doppler (para avaliar a circulação), radiografias, ressonância magnética ou exames de sangue.

Dependendo dos sintomas e da suspeita diagnóstica, diferentes especialistas podem ser consultados:

  • Clínico geral: é o profissional de primeira linha, que pode fazer uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhar para um especialista.
  • Angiologista/Cirurgião Vascular: especializado em doenças dos vasos sanguíneos (artérias, veias e vasos linfáticos), sendo o mais indicado para problemas de circulação, varizes e trombose.
  • Ortopedista: trata condições relacionadas a ossos, músculos, articulações, ligamentos e tendões, ideal para dores de origem muscular, óssea ou articular, como lesões e artrite.
  • Reumatologista: diagnostica e trata doenças autoimunes e inflamatórias que afetam articulações, músculos e tecidos, como fibromialgia e artrite reumatoide.
  • Neurologista: especialista em doenças do sistema nervoso, sendo procurado para dores de origem nervosa, como ciatalgia e neuropatias.

Em todos os casos, a automedicação deve ser evitada. Apenas um profissional de saúde pode prescrever o tratamento adequado, que pode incluir medicamentos, fisioterapia, mudanças de estilo de vida ou, em casos específicos, procedimentos cirúrgicos.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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