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Dor na barriga e falta de ar: quando se preocupar e o que pode ser?

A sensação de dor na barriga acompanhada de falta de ar pode ser assustadora, variando de um desconforto leve a um sinal de alerta para condições de saúde sérias.

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Você já sentiu uma pontada na barriga e, ao mesmo tempo, percebeu a respiração mais difícil? Essa combinação de sintomas, embora pareça incomum, não é rara. O abdômen e o tórax estão intimamente ligados pelo diafragma, um músculo essencial para a respiração. Problemas em uma região podem, por reflexo ou compressão, afetar a outra.

Por exemplo, o inchaço abdominal significativo pode empurrar o diafragma para cima, dificultando a expansão plena dos pulmões. Da mesma forma, condições que causam dor intensa em órgãos abdominais podem gerar desconforto que se irradia, ou até mesmo desencadear respostas fisiológicas que afetam a respiração.

O que pode causar dor na barriga e falta de ar?

Diversas condições de saúde podem manifestar-se com dor abdominal e dificuldade para respirar. É fundamental compreender que a gravidade varia bastante, desde quadros leves até situações que demandam atenção médica imediata.

Problemas gastrointestinais: As causas mais comuns

Muitas vezes, a origem desses sintomas está no sistema digestivo, que é sensível e pode reagir de diversas formas ao seu funcionamento.

  • Gases e distensão abdominal: o acúmulo excessivo de gases no intestino pode causar inchaço, dor e pressão. Essa pressão pode ascender até o diafragma, resultando em dificuldade respiratória e até dor no peito, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): esta condição ocorre quando o ácido estomacal retorna para o esôfago. A irritação pode provocar dor na boca do estômago, azia, e em casos mais severos, o ácido pode atingir as vias respiratórias, causando tosse crônica e falta de ar, especialmente ao deitar.
  • Má digestão e dispepsia: uma refeição pesada ou problemas na digestão podem levar a desconforto abdominal, queimação e sensação de estufamento. Em alguns indivíduos, essa pressão pode afetar a respiração de forma temporária.
  • Condições inflamatórias agudas: a apendicite, colecistite (inflamação da vesícula biliar) ou pancreatite (inflamação do pâncreas) são exemplos de condições graves. 

Elas causam dor abdominal intensa, muitas vezes acompanhada de náuseas, vômitos e, em casos de dor muito forte, podem impactar a respiração devido à dor e ao desconforto geral. 

A dor da pancreatite, por exemplo, pode irradiar-se da região epigástrica para as costas, enquanto a colecistite pode causar dor na parte superior direita do abdômen que também se irradia para as costas, acompanhada de sintomas gastrointestinais como intolerância a gorduras, náuseas e diarreia.

  • Ascite: trata-se do acúmulo de líquido na cavidade abdominal, comum em doenças hepáticas avançadas. O volume do líquido pode distender o abdômen a ponto de comprimir o diafragma, gerando dificuldade para respirar.

Condições cardiovasculares e pulmonares: sinais de alerta

Embora a dor seja na barriga, a causa pode estar no coração ou nos pulmões. A dor referida é um fenômeno onde a dor de um órgão é sentida em outra parte do corpo.

  • Infarto e angina: Um ataque cardíaco ou angina (dor no peito devido à falta de fluxo sanguíneo para o coração) podem causar dor que se irradia para o abdômen superior, além de sintomas clássicos como dor no peito, suor frio, náuseas e falta de ar. 

O desconforto abdominal em casos de infarto é mais comum em mulheres e idosos. Em alguns casos, a dor nas costas também pode ser um sintoma de infarto, especialmente em mulheres.

  • Embolia Pulmonar: Esta é uma emergência médica causada por um coágulo que obstrui uma artéria pulmonar. Os sintomas incluem falta de ar súbita e intensa, dor no peito que piora ao respirar fundo e, em alguns casos, pode haver dor abdominal associada.
  • Pneumonia, Bronquite e Asma: Infecções ou inflamações pulmonares podem provocar tosse, dor no peito e falta de ar. Em casos de pneumonia grave, o paciente pode sentir dor abdominal devido ao esforço respiratório ou à irritação do diafragma. 

A asma, por sua vez, pode causar aperto no peito e dificuldade para respirar, que em casos graves, pode levar à sensação de dor abdominal por contração excessiva dos músculos.

  • Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): Condições como bronquite crônica e enfisema pulmonar, muitas vezes ligadas ao tabagismo, causam falta de ar persistente. Em fases de exacerbação, o esforço para respirar pode levar a dores abdominais.
  • Condições vasculares graves: Problemas na aorta, como o aneurisma da aorta abdominal (AAA), podem causar dor lombar e abdominal. 

A dor abdominal e a dor lombar podem ocorrer juntas em 29,4% dos casos de AAA, conforme um estudo publicado no BMC Musculoskeletal Disorders. Já a síndrome aórtica aguda, que inclui a dissecção da aorta, pode apresentar dor lombar súbita e intensa em uma parcela significativa dos pacientes, variando de 10% a 75%, frequentemente acompanhada de dor no peito, dor abdominal, náuseas, vômitos e falta de ar.

Outras causas menos óbvias

Existem outras condições que, embora não diretamente ligadas ao sistema digestivo ou cardiorrespiratório, podem manifestar os sintomas combinados.

  • Ansiedade e estresse: Em momentos de grande estresse ou ataques de pânico, o corpo pode reagir com hiperventilação, causando falta de ar, e também com sintomas gastrointestinais como dor de barriga, náuseas e diarreia.
  • Anemia: A deficiência de glóbulos vermelhos ou hemoglobina reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio. Isso pode causar fadiga, tontura e falta de ar, que se manifesta mesmo com pouco esforço. Embora não cause diretamente dor na barriga, a fraqueza generalizada pode gerar desconforto.
  • Obesidade: O excesso de peso pode sobrecarregar o sistema respiratório, tornando a respiração mais difícil, especialmente em repouso ou ao se deitar. A grande quantidade de gordura abdominal pode pressionar o diafragma, contribuindo para a falta de ar e, ocasionalmente, desconforto abdominal.
  • COVID-19: A infecção por COVID-19 também pode causar dor abdominal. Um estudo observacional revelou que 19,5% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 apresentaram dor abdominal espontânea, segundo dados do Scientific Reports. 

Nesses casos, a dor na parte superior do abdômen foi mais comum e esteve associada a um risco maior de dispneia e desfechos mais graves, como internação em unidades de terapia intensiva ou óbito. Em contraste, pacientes com dor na parte inferior do abdômen tiveram menos frequência de dispneia.

Quando procurar um médico? Sinais de alerta que exigem atenção imediata

Saber identificar os sinais de que a dor na barriga e a falta de ar são mais do que um desconforto passageiro é crucial. 

Procure atendimento médico de emergência se você apresentar:

  • Dor abdominal intensa e súbita, especialmente se for insuportável ou piorar rapidamente.
  • Dificuldade para respirar que não melhora, piora progressivamente ou é acompanhada de chiado no peito.
  • Dor no peito que se irradia para o braço, pescoço, mandíbula ou costas, acompanhada de falta de ar, suores frios, náuseas ou tontura.
  • Febre alta e persistente, calafrios ou fraqueza generalizada.
  • Vômitos persistentes, especialmente se houver sangue, ou incapacidade de reter líquidos.
  • Presença de sangue nas fezes ou fezes muito escuras e com odor forte (melena).
  • Distensão abdominal (barriga inchada) repentina e dura ao toque, com dor.
  • Pele pálida ou azulada (cianose) e sudorese intensa.
  • Tontura, desmaio ou sensação de pré-desmaio.

A presença de qualquer um desses sinais de alerta indica a necessidade de avaliação médica urgente para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.

Como o médico investiga a dor na barriga e falta de ar?

Ao procurar atendimento médico, o profissional realizará uma avaliação detalhada. O processo de diagnóstico geralmente começa com uma anamnese completa, onde o médico fará perguntas sobre a natureza da dor (localização, intensidade, frequência), outros sintomas associados e histórico de saúde.

Após a conversa, um exame físico será realizado, com foco na ausculta pulmonar e cardíaca, palpação abdominal e verificação dos sinais vitais. Dependendo das hipóteses diagnósticas, exames complementares podem ser solicitados, como:

  • Exames de sangue (hemograma, enzimas cardíacas, testes de função hepática e renal).
  • Exames de imagem (radiografia de tórax, ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada).
  • Eletrocardiograma (ECG) para avaliar a atividade elétrica do coração.
  • Endoscopia digestiva ou colonoscopia, em casos específicos.

A combinação desses dados ajuda o médico a determinar a causa dos sintomas e a definir o melhor plano de tratamento.

Prevenção e manejo: o que fazer em casos leves?

Para casos leves de dor na barriga e falta de ar, frequentemente relacionados a gases ou má digestão, algumas medidas podem auxiliar no manejo do desconforto:

  • Alimentação consciente: evite alimentos que provocam gases (como feijão, brócolis, refrigerantes) ou que são muito gordurosos e de difícil digestão. Coma devagar e mastigue bem os alimentos.
  • Hidratação: beba bastante água ao longo do dia para auxiliar no processo digestivo e na eliminação de toxinas.
  • Atividade física: caminhadas leves podem ajudar a movimentar os gases no intestino e a melhorar a função pulmonar.
  • Manejo do estresse: técnicas de relaxamento, como respiração profunda e meditação, podem ser úteis para reduzir a ansiedade, que, como vimos, pode causar ou agravar os sintomas.
  • Evite automedicação: nunca tome medicamentos por conta própria sem orientação médica. O uso inadequado pode mascarar sintomas importantes ou agravar o quadro.

É importante ressaltar que essas dicas são para desconfortos leves e passageiros. Se os sintomas persistirem ou houver qualquer sinal de alerta, a busca por avaliação médica é indispensável.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

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