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Dor abdominal: entenda as causas, tipos e quando procurar ajuda médica

Desvende os mistérios da dor de barriga, saiba o que fazer e reconheça os sinais de alerta para a sua saúde.

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O que é dor abdominal e por que ela acontece?

Você já sentiu aquele desconforto na região da barriga, que pode variar de uma pontada leve a uma dor intensa? A dor abdominal, popularmente conhecida como dor de barriga, é uma queixa extremamente comum. 

Em 2016/2017, por exemplo, a dor abdominal e pélvica foi o diagnóstico principal mais frequente para atendimentos de emergência e internações na Austrália, representando 4,3% dos diagnósticos. 

Nos EUA, em 2014/2015, foi a razão mais comum para visitas médicas ambulatoriais relacionadas ao trato gastrointestinal, com um custo de US$10,2 bilhões, conforme estudo publicado na Scientific Reports.

Ela se manifesta em qualquer parte da área entre as costelas e a pélvis, englobando diversos órgãos vitais. Este sintoma, embora frequente, possui uma vasta gama de possíveis origens. A dor abdominal pode ser um sinal de algo simples, como um excesso de gases, ou indicar uma condição médica mais complexa que requer atenção. Compreender suas causas e características é fundamental para saber quando agir e buscar auxílio médico.

Quais são as causas mais comuns da dor abdominal?

A dor na região abdominal pode surgir de diversas condições, afetando tanto o sistema digestivo quanto outros órgãos próximos. Conhecer as principais causas ajuda a identificar melhor a origem do desconforto.

Causas Digestivas E Intestinais

A maior parte das dores abdominais está ligada ao trato digestivo. Má digestão, excesso de gases e prisão de ventre são frequentemente responsáveis por desconfortos leves e transitórios. Nestes casos, a dor costuma ser acompanhada de inchaço e pode melhorar com a movimentação ou a eliminação de gases e fezes.

Gastroenterite, uma inflamação do estômago e intestino causada por vírus ou bactérias, também é uma causa comum. Ela se manifesta com dor, diarreia, náuseas e vômitos. A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é outra condição crônica que provoca dor abdominal, acompanhada de alterações no padrão intestinal (diarréia, constipação ou ambos), sem inflamação visível.

Problemas como refluxo gastroesofágico, gastrite e úlceras gástricas ou duodenais podem causar dor em queimação na parte superior do abdômen. 

A apendicite, uma inflamação do apêndice, geralmente começa com uma dor difusa que se localiza no lado inferior direito da barriga e piora progressivamente. Cálculos biliares (pedras na vesícula) podem gerar dores intensas no lado direito superior do abdômen, especialmente após refeições gordurosas.

Doenças inflamatórias intestinais (DII), como a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, são causas importantes de dor crônica. Mais de 70% dos pacientes com DII relatam dor abdominal em algum momento da doença, e essa dor pode persistir mesmo quando a inflamação está em remissão, afetando significativamente a qualidade de vida. 

A gastroparesia, uma condição que retarda o esvaziamento do estômago, também tem a dor abdominal como sintoma comum, afetando cerca de 90% dos pacientes, independentemente de ser idiopática ou diabética.

Além disso, distúrbios da interação cérebro-intestino (DICI), que afetam mais de 40% da população adulta global, frequentemente causam dor abdominal. 

Um estudo global revelou que 11% da população adulta mundial sente dor abdominal frequentemente relacionada às refeições, sendo mais comum em mulheres e pessoas mais jovens. Essa dor está associada a maior sofrimento psicológico, outros sintomas gastrointestinais e pior qualidade de vida, conforme publicado na BMC Medicine.

Causas urinárias

Infecções urinárias são causas frequentes de dor no baixo ventre. A dor pode ser acompanhada de ardência ao urinar, aumento da frequência urinária e, por vezes, febre. Pedras nos rins, por sua vez, podem causar uma dor extremamente intensa, que se irradia da região lombar para o abdômen e virilha, variando em intensidade conforme a pedra se move.

Causas ginecológicas (para mulheres)

Mulheres podem sentir dor abdominal devido a cólicas menstruais, que são dores comuns no baixo ventre antes ou durante o período menstrual. Cistos no ovário, endometriose e doenças inflamatórias pélvicas também podem causar dor abdominal inferior, que pode ser aguda ou crônica e variar em intensidade.

Outras causas

O estresse e a tensão muscular são fatores que podem desencadear ou agravar a dor abdominal, muitas vezes sem uma causa orgânica aparente. Hérnias, que são a protrusão de um órgão ou tecido através de uma abertura na parede abdominal, também podem causar dor localizada e sensibilidade. O uso de certos medicamentos pode irritar o revestimento do estômago, resultando em desconforto abdominal.

Onde a dor abdominal pode se manifestar?

A localização da dor abdominal pode fornecer pistas importantes sobre sua causa. O abdômen é dividido em regiões, e a dor em cada uma delas pode estar associada a órgãos específicos.

Dor generalizada

A dor que se espalha por mais da metade do abdômen é considerada generalizada. Ela é comum em casos de gastroenterite, gases ou má digestão. Quando intensa, pode indicar condições mais sérias como perfurações ou obstruções intestinais.

Dor localizada

A dor concentrada em uma área específica pode indicar o órgão afetado:

  • Parte superior central (epigástrica): sugere problemas como refluxo gastroesofágico, gastrite, úlcera gástrica ou inflamação do pâncreas (pancreatite).
  • Parte superior direita: pode indicar problemas na vesícula biliar (cálculos ou inflamação), no fígado ou no duodeno.
  • Parte superior esquerda: associada a problemas no estômago, pâncreas ou baço.
  • Parte inferior central (hipogástrica): frequentemente relacionada a problemas na bexiga (infecção urinária), útero ou ovários em mulheres, e próstata em homens. Em alguns casos, apendicite no estágio inicial pode causar dor nesta região antes de se deslocar.
  • Parte inferior direita: apendicite (dor clássica), problemas no ovário direito ou no intestino grosso (ceco).
  • Parte inferior esquerda: pode indicar diverticulite, problemas no cólon descendente ou no ovário esquerdo.

A dor abdominal também pode ser sentida nas costas, sugerindo condições como pedras nos rins, pancreatite ou problemas na coluna.

Tipos de dor

Além da localização, a natureza da dor oferece informações valiosas:

  • Cólica: dor que vem e vai em ondas, comum em cólicas menstruais, pedras nos rins ou biliares, e obstruções intestinais.
  • Queimação: típica de refluxo, gastrite e úlceras.
  • Pontada: pode ser associada a gases, mas também a condições inflamatórias.
  • Constante e latejante: frequentemente indica inflamação ou infecção mais grave, como apendicite.

Quais os sinais de alerta que exigem avaliação médica urgente?

Embora muitas dores abdominais sejam benignas, alguns sinais de alerta indicam a necessidade de procurar um médico imediatamente. 

Não hesite em buscar atendimento se você apresentar:

  • Dor intensa, súbita e persistente, que piora rapidamente.
  • Dor acompanhada de febre alta, calafrios ou suores.
  • Náuseas e vômitos persistentes, especialmente se não conseguir reter líquidos.
  • Diarreia intensa ou com sangue.
  • Presença de sangue nas fezes (fezes escuras e pegajosas ou sangue vermelho vivo).
  • Sangue na urina.
  • Incapacidade de evacuar ou eliminar gases por um período prolongado.
  • Abdômen rígido, duro ou muito sensível ao toque.
  • Inchaço abdominal significativo.
  • Perda de peso inexplicada e não intencional.
  • Pele ou olhos amarelados (icterícia).
  • Dor que piora ao se mover ou tossir.
  • Histórico de problemas cardíacos ou aneurisma.

Estes sintomas podem indicar condições graves como apendicite, cálculos renais ou biliares complicados, obstrução intestinal, perfuração de órgãos ou doenças vasculares, que exigem diagnóstico e tratamento rápidos. 

A dor abdominal em crianças e adolescentes, por exemplo, está frequentemente associada a depressão, ansiedade, bullying e uma percepção geral de saúde reduzida. A persistência da dor pode levar à cronicidade e agravar o sofrimento emocional, tornando a busca por ajuda psicológica essencial.

Como aliviar a dor abdominal leve em casa?

Para dores abdominais leves e sem sinais de alerta, algumas medidas caseiras podem proporcionar alívio. Contudo, é fundamental não ignorar a persistência ou o agravamento dos sintomas.

  • Repouso: deitar-se e relaxar pode diminuir a intensidade da dor.
  • Hidratação: beba bastante água e líquidos leves, como chás de ervas (camomila, hortelã), para manter o corpo hidratado, especialmente se houver diarreia ou vômito.
  • Alimentação leve: prefira alimentos de fácil digestão, como torradas, arroz branco, bananas ou sopas claras. Dietas com baixo teor de FODMAPs (carboidratos fermentáveis) têm mostrado eficácia na redução da dor abdominal e outros sintomas em pacientes com DII e SII.
  • Compressas quentes: a aplicação de uma compressa morna na região abdominal pode ajudar a relaxar os músculos e aliviar cólicas e gases.
  • Evite cafeína e álcool: estas substâncias podem irritar o trato gastrointestinal.
  • Evite a automedicação: não tome medicamentos para dor sem orientação médica, pois alguns podem mascarar sintomas importantes ou agravar certas condições.

Se a dor não melhorar em algumas horas ou se agravar, procure orientação médica. Um profissional de saúde pode investigar a causa e indicar o tratamento adequado. 

Abordagens multidisciplinares, que incluem terapias psicológicas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a hipnoterapia, podem ser benéficas, especialmente quando a dor não é explicada por inflamação ativa ou está ligada a fatores emocionais.

É possível prevenir alguns tipos de dor abdominal?

Embora nem todas as causas de dor abdominal possam ser prevenidas, a adoção de hábitos saudáveis pode reduzir significativamente o risco de muitos desconfortos. Cuidar do corpo é uma estratégia eficaz para manter a saúde do sistema digestivo.

  • Dieta Equilibrada: consuma uma variedade de frutas, vegetais e grãos integrais. Limite a ingestão de alimentos processados, gordurosos, fritos e açucarados.
  • Hidratação Adequada: beba bastante água ao longo do dia para auxiliar a digestão e prevenir a constipação.
  • Exercícios Físicos Regulares: a atividade física estimula o movimento intestinal e ajuda a gerenciar o estresse, fatores que podem influenciar a dor abdominal.
  • Gerenciamento do Estresse: técnicas de relaxamento, como meditação e ioga, podem reduzir a dor abdominal relacionada ao estresse. A dor abdominal em crianças e adolescentes, por exemplo, tem sido associada a sintomas de depressão, ansiedade e até mesmo bullying, destacando a importância do bem-estar emocional.
  • Refeições Menores e Mais Frequentes: comer pequenas porções ao longo do dia pode facilitar a digestão e evitar sobrecarga do sistema digestivo.
  • Higiene Alimentar: lave bem as mãos e os alimentos, e cozinhe os alimentos adequadamente para evitar infecções gastrointestinais.
  • Evite Comer Rapidamente: mastigue bem os alimentos e coma devagar para facilitar a digestão e evitar o acúmulo de gases.

Manter um estilo de vida saudável é uma das melhores formas de prevenir não apenas a dor abdominal, mas também uma série de outras condições de saúde.

Quando a dor abdominal pode indicar algo mais sério?

É vital reconhecer que, embora a dor abdominal seja um sintoma comum, ela pode ser o alerta para uma condição médica grave. A persistência da dor, a sua intensidade crescente ou o surgimento de outros sintomas preocupantes exigem uma avaliação médica sem demora.

Doenças como apendicite, pancreatite aguda, cálculos biliares impactados, diverticulite complicada ou até mesmo algumas emergências ginecológicas podem começar com dor abdominal e necessitam de intervenção rápida. 

A dor abdominal, especialmente quando crônica, está fortemente associada a uma pior qualidade de vida e a um aumento na busca por serviços de saúde. Ignorar esses sinais pode levar a complicações sérias e impactar a saúde de forma irreversível. 

Sempre que houver dúvida, a prudência indica buscar a opinião de um profissional de saúde. Ele poderá realizar o diagnóstico preciso e indicar o tratamento mais adequado.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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