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Câncer é genético ou hereditário? Entenda a diferença crucial para sua saúde

Esclareça mitos e verdades sobre a relação entre genes, histórico familiar e o risco de desenvolver a doença.

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Você já se perguntou se aquele caso de câncer na família poderia afetar sua própria saúde? É natural ter essa preocupação quando há um histórico de doença entre parentes próximos. A boa notícia é que, embora todo câncer tenha uma origem genética, nem todos são hereditários. Compreender essa distinção é fundamental para lidar com a doença.

Afinal, o que significa câncer genético e câncer hereditário?

A terminologia em saúde pode gerar dúvidas, especialmente quando se trata de conceitos complexos como a genética. No contexto do câncer, as palavras “genético” e “hereditário” são frequentemente usadas, mas possuem significados distintos que impactam a compreensão da doença e a avaliação de riscos.

O que é câncer genético?

O termo "câncer genético" refere-se à origem do câncer no nível do DNA das células. Toda forma de câncer surge de alterações, ou mutações, no material genético de uma célula. Essas mutações fazem com que a célula se multiplique de forma descontrolada, formando um tumor.

Na grande maioria dos casos, essas mutações são adquiridas ao longo da vida. Elas podem ser resultado de fatores externos, como exposição ao sol, tabagismo, alimentação inadequada e contato com substâncias químicas. 

O envelhecimento natural do corpo também contribui para o acúmulo de erros no DNA. Essas mutações são chamadas de somáticas, ou seja, ocorrem nas células do corpo e não são passadas para os filhos.

O que é câncer hereditário?

Diferente do câncer genético adquirido, o câncer hereditário acontece quando uma pessoa nasce com uma mutação genética que já estava presente em suas células reprodutivas (óvulos ou espermatozoides) de um de seus pais. 

Essa mutação é transmitida para todas as células do corpo, aumentando significativamente o risco de desenvolver determinados tipos de câncer ao longo da vida.

Importante ressaltar que a pessoa herda a predisposição ou a mutação, não a doença em si. Esse tipo de câncer representa uma minoria dos casos, estimado em cerca de 5% a 10% de todos os diagnósticos. 

Por exemplo, embora aproximadamente 30% de todos os cânceres colorretais sejam geneticamente predispostos, menos de 5% são considerados hereditários, com um gene causador identificado, o que destaca a complexidade da identificação e a importância da pesquisa publicada no International Journal of Clinical Oncology.

Apesar da baixa incidência, a identificação desses casos é crucial para o acompanhamento e a prevenção.

Como identificar se um câncer é potencialmente hereditário?

Para aqueles preocupados com o histórico familiar, reconhecer os sinais de um possível padrão hereditário é o primeiro passo. Alguns indicadores podem sugerir que o câncer na família pode ter um componente genético herdado, exigindo uma avaliação mais aprofundada por um profissional de saúde.

Quais são os sinais de alerta no histórico familiar?

Um histórico familiar detalhado pode revelar padrões que sugerem uma síndrome de câncer hereditário. 

Procure um médico se você observar um ou mais dos seguintes pontos em sua família:

  • Múltiplos casos do mesmo tipo de câncer (ou tipos relacionados, como câncer de mama e ovário) em parentes próximos.
  • Diagnóstico de câncer em idade incomum ou jovem (antes dos 50 anos).
  • Casos de câncer bilateral (em órgãos pares, como ambas as mamas ou rins) ou múltiplos tumores no mesmo indivíduo.
  • Ocorrência de cânceres raros na família.
  • Um padrão consistente de câncer em várias gerações (avós, pais, filhos).
  • Presença de condições pré-malignas que são características de síndromes hereditárias.

Que tipos de câncer podem ser hereditários?

Embora qualquer tipo de câncer possa ter uma forma hereditária, alguns são mais frequentemente associados a síndromes genéticas. 

Os mais conhecidos incluem:

  • Câncer de Mama e Ovário: frequentemente ligados a mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.
  • Câncer Colorretal: Síndromes como a Síndrome de Lynch (também associada a outros cânceres como endométrio e estômago) e a Polipose Adenomatosa Familiar (PAF).
  • Câncer de Próstata: Em alguns casos, pode estar relacionado a mutações nos genes BRCA2.
  • Câncer de Pâncreas: Mutações nos genes BRCA1, BRCA2 e nos genes da Síndrome de Lynch podem aumentar o risco. Quase 10% dos casos de câncer pancreático são de origem hereditária por variantes genéticas de alta penetrância, mesmo sem histórico familiar conhecido, evidenciando a importância do teste genético.
  • Melanoma: Algumas mutações genéticas específicas podem predispor a casos familiares de melanoma.
  • Câncer de Rim: Determinadas síndromes, como a Doença de Von Hippel-Lindau, aumentam o risco.

A lista não é exaustiva, mas ilustra a variedade de cânceres que podem ter um componente hereditário. A presença de um desses tipos na família, especialmente se acompanhada dos sinais de alerta, justifica uma investigação mais aprofundada.

Quando procurar aconselhamento genético e fazer testes?

A decisão de buscar aconselhamento genético e realizar testes não é simples. É um processo que envolve a avaliação de riscos, benefícios e implicações emocionais. Profissionais especializados estão preparados para guiar essa jornada.

O papel do aconselhamento genético

O aconselhamento genético é uma etapa crucial para quem considera a possibilidade de câncer hereditário. Um geneticista ou um conselheiro genético avalia o histórico médico e familiar, calcula o risco e discute as opções de testes genéticos disponíveis. 

O profissional também pode explicar o significado dos resultados, tanto positivos quanto negativos, e suas implicações para o indivíduo e seus familiares.

Este processo permite uma tomada de decisão informada, garantindo que o paciente compreenda plenamente o que os testes podem ou não revelar e como essa informação pode ser utilizada em seu plano de saúde.

Indicações para testes genéticos

Nem todas as pessoas com histórico familiar de câncer precisam de testes genéticos. A indicação é feita com base em critérios rigorosos, que incluem os padrões de câncer na família, a idade de diagnóstico dos afetados e o tipo específico de câncer. Os testes são mais úteis quando há uma forte suspeita de uma síndrome de câncer hereditário.

É importante notar que, em casos de câncer colorretal hereditário de início precoce, até 60% dos pacientes podem não apresentar histórico familiar conhecido, o que reforça a importância da avaliação genética mesmo sem um histórico óbvio.

Mesmo entre pacientes com câncer de mama que não se enquadram nos critérios de teste genético mais recentes, a taxa de mutações germinativas em seis genes de alta penetrância ainda pode ser de 6,4%, indicando que a avaliação deve ser abrangente.

Os benefícios de realizar um teste incluem a possibilidade de personalizar o rastreamento, adotar medidas preventivas mais agressivas ou até mesmo planejar cirurgias profiláticas em casos de alto risco. Para quem já tem câncer, o teste pode influenciar as opções de tratamento, direcionando terapias mais eficazes.

O que os testes genéticos revelam?

Os testes genéticos identificam mutações específicas nos genes que estão associadas a um risco aumentado de câncer. Um resultado positivo significa que o indivíduo possui a mutação. 

Em pacientes com câncer de mama hereditário que atendem a todos os três critérios clínicos para teste, a detecção de variantes genéticas patogênicas pode atingir 100%, mostrando a eficácia dos testes quando bem indicados.

No entanto, é vital entender que a presença de uma mutação não garante que a pessoa desenvolverá câncer; ela apenas indica uma predisposição maior. Fatores ambientais e de estilo de vida ainda desempenham um papel significativo.

Um resultado negativo, por outro lado, pode tranquilizar, mas não elimina completamente o risco de câncer, já que a maioria dos cânceres não é hereditária e ainda pode surgir por mutações adquiridas ao longo da vida.

O que fazer se você tem predisposição genética ao câncer?

Receber a notícia de uma predisposição genética ao câncer pode ser desafiador. Contudo, é também uma oportunidade para tomar medidas proativas e reduzir o risco de desenvolver a doença ou detectá-la precocemente, aumentando as chances de sucesso do tratamento.

Estratégias de rastreamento e prevenção

Para indivíduos com predisposição genética, as estratégias de rastreamento e prevenção são intensificadas e personalizadas. 

Algumas das abordagens podem incluir:

  • Monitoramento intensificado: mamografias e ressonâncias magnéticas mais frequentes e em idades mais jovens para quem tem risco de câncer de mama; colonoscopias regulares para risco de câncer colorretal.
  • Exames de imagem avançados: uso de tecnologias mais sensíveis para detecção precoce de lesões.
  • Estilo de vida saudável: embora a genética seja um fator, manter uma dieta equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente, evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool continuam sendo cruciais para a saúde geral e a prevenção de cânceres esporádicos.
  • Cirurgias profiláticas: em casos muito específicos e após discussões aprofundadas com a equipe médica, cirurgias para remover órgãos de alto risco (como mamas ou ovários) podem ser consideradas para reduzir drasticamente a chance de desenvolver câncer.
  • Quimioprevenção: uso de medicamentos para reduzir o risco de desenvolver câncer, indicado em algumas situações de alto risco genético.

Mitos e verdades: Câncer pula uma geração?

Um mito comum é que o câncer "pula uma geração", significando que se seu avô teve câncer, mas seus pais não, você estaria "livre" de herdar a predisposição. Isso não é verdade. As mutações genéticas são herdadas diretamente, e a transmissão não "pula" gerações.

O que pode acontecer é uma pessoa pode herdar a mutação, mas nunca desenvolver o câncer, seja por outros fatores genéticos protetores, fatores de estilo de vida ou simplesmente por viver menos tempo do que a idade em que o câncer se manifestaria. 

Por isso, a avaliação do histórico familiar deve considerar todas as gerações, e não apenas a imediatamente anterior.

A importância do acompanhamento médico especializado

Diante de um histórico familiar de câncer ou da dúvida sobre uma possível predisposição genética, a consulta com um médico especializado é indispensável. 

O oncologista, geneticista ou um clínico geral com conhecimento em oncogenética pode avaliar seu caso individualmente, solicitar os exames adequados e orientar sobre as melhores estratégias de prevenção e rastreamento. 

Lembre-se, a informação é uma ferramenta poderosa para cuidar da sua saúde e da sua família.

 

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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