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Adultização infantil: quais cuidados ter com crianças e adolescentes

Esse fenômeno termina quebrando as fases da criança e prejudicando o desenvolvimento.

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Desde que o influenciador Felipe Brassanim Pereira, o Felca, trouxe à baila o tema adultização infantil, ele se tornou recorrente e passou, inclusive, a ser discutido no âmbito legislativo, com o senado aprovando medidas para a proteção de crianças e adolescentes nas redes sociais.

O tema, que era pouco tratado e exposto, ganhou a atenção da sociedade e passou a levantar uma série de discussões a respeito da segurança de crianças e adolescentes, bem como a superexposição dos menores na internet.

Por isso é importante entender os limites e como os pais e responsáveis podem agir, lidar e entender as causas e consequências do tema.

O que é adultização infantil?

Vários especialistas em saúde e até em leis concordam que a adultização infantil é um fenômeno onde há uma hiper exposição de crianças e adolescentes a conteúdos, hábitos e até mesmo a responsabilidades que não são apropriadas para a idade.

Essa exposição precoce e inapropriada, muitas vezes de cunho sexual, tem se intensificado ao longo dos anos e é resultante da popularização das redes sociais e do acesso que as crianças e adolescentes têm tido às plataformas e aos celulares, sem o devido acompanhamento.

Existem várias problemáticas que também terminam minando esse fenômeno. Com a necessidade dos pais de trabalharem para manter suas famílias, o celular acabou entrando em cena. Alguns terminam incitando os próprios filhos a se tornarem influenciadores, seja porque algum deles é mais desenrolado.

A adultização também interfere em outras esferas. É comum ver crianças assumindo responsabilidades de adultos, como o cuidado dos irmãos ou que elas passem a colaborar com as finanças da casa. Essa última é perceptível com as crianças que se tornam influenciadoras digitais, com muitas delas tendo uma parcela significativa nas economias das famílias.

Quando a criança passa a assumir responsabilidades que não são correspondentes a sua idade e capacidade, a adultização infantil pode terminar desencadeando complicações que exigem atenção, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), principalmente se ela vem acompanhada com a exposição a conteúdos sexuais.

Quais são os efeitos da adultização de crianças?

Mesmo que o tema tenha se popularizado com o vídeo do influenciador Felca, ele já vem sendo estudado há anos. De acordo com o relatório do Comitê Interdepartamental sobre Deterioração Física, existem impactos significativos e negativos da adultização de crianças.

Quando foi lançado o relatório, em 1904, já se discutia sobre a irritabilidade e exaustão emocional estarem associadas a essa questão. À época, os pesquisadores relacionavam esses pontos com o trabalho infantil. 

Era comum ver crianças ajudando pais e outros adultos em indústrias metalúrgicas, fornerias e outros, todos esses ambientes impróprios e insalubres para crianças. Mais de 100 anos depois, ainda podemos ver crianças trabalhando em vários setores, o que tende a perpetuar o ciclo de pobreza.

De acordo com a Agência Brasil, entre 2023 e 2025, pelo menos 6 mil crianças e adolescentes foram encontradas em situação de trabalho infantil em todo o Brasil. Entre esse número, 88% foram encontradas em atividades que traziam riscos ocupacionais graves e prejuízos à saúde e desenvolvimento integral infantil.

Hoje, com o avanço das pesquisas na área de desenvolvimento infantil, estima-se que as crianças e adolescentes submetidos a esse tipo de situação possam desenvolver ansiedade, depressão, dificuldade de socialização, problemas de aprendizagem e dificuldade de atenção.

O quadro piora quando essas crianças e adolescentes são expostos a conteúdos relacionados a temáticas sexuais e pornográficas. Os comentários recebidos pelas redes sociais afetam diretamente a autoestima e tendem a provocar uma hipersexualização precoce.

Se não identificada a tempo, as consequências podem se arrastar até a vida adulta, trazendo prejuízos maiores.

Onde fica a internet com a exposição infantil?

Com a popularização das redes sociais, esse fenômeno da adultização infantil ampliou ainda mais o alcance.

Na pesquisa desenvolvida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, os pesquisadores trouxeram dados ainda mais alarmantes. São pelo menos 24 milhões de crianças e adolescentes brasileiros que têm acesso e são usuários da internet. Dessa população, 20% tiveram acesso à internet antes dos seis anos de idade.

As plataformas são construídas e projetadas para ativarem sistemas de recompensa nos nossos cérebros, ou seja, recebemos uma dose altíssima de dopamina, que é um neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar.

É aí onde reside o perigo: a sensação de receber curtidas e “likes” termina sendo viciante, principalmente para crianças e adolescentes, que tendem a voltar a repetir o processo uma e outra vez. Essa dinâmica desenfreada pode ter um impacto maior nos menores porque seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

É sabido que o córtex pré-frontal, área responsável pelas decisões e racionalidade, só termina de se desenvolver completamente entre os 20 e 25 anos. Outro ponto a se destacar é que o fator hormonal também interfere no amadurecimento do sistema nervoso central. Nesse caso, é possível entender por que cada vez mais crianças e adolescentes se tornam mais impulsivos que adultos. É uma dinâmica complexa que pode desencadear uma série de alterações no cérebro.

Quais são as causas da adultização infantil em crianças e adolescentes?

O fenômeno é recente e tem ganhado proporções à medida que as redes sociais se popularizam. Entre as causas podemos identificar uma série de situações que prejudicam o desenvolvimento da criança e do adolescente.

As crianças, quando passam a se comportarem como adultas, terminam perdendo a oportunidade de conhecer o mundo no seu próprio tempo. Esse encurtamento de experiências tem impacto direto no desenvolvimento cognitivo e emocional.

Com a exposição de conteúdos adultos nas redes sociais, as crianças tendem a julgar que aquele padrão de vida é o ideal e que ele reflete o “ser adulto”. Essa comparação pode levar as crianças e adolescentes a imitarem esses comportamentos, muitas vezes sexualizados e inapropriados, em busca de aceitação.

Há também a questão dos próprios pais terminarem pressionando seus filhos a buscar a excelência em qualquer área, seja escolar ou outra. O resultado é vermos crianças cada vez mais sobrecarregadas e desenvolvendo transtornos, como depressão e ansiedade.

Quais são as consequências da adultização na vida da criança?

A adultização tem uma série de consequências nefastas para os menores de idade, principalmente no que tange a saúde mental e o bem-estar das crianças.

Estresse e ansiedade: quando pressionadas a atingirem altos padrões, é possível que elas desenvolvam estresse e ansiedade devido a preocupação com o desempenho e aparência;

  • Baixa autoestima: crianças expostas a adultização infantil tendem a imitar comportamentos de adultos e se sentirem obrigadas a se encaixarem em um padrão não compatível com a idade e realidade;
  • Problemas com a socialização: muitas são forçadas a se comportarem como um adulto e essa situação pode gerar dificuldade delas se relacionarem com outras crianças da mesma faixa etária de maneira espontânea;
  • Dificuldades comportamentais: com a exigência de responsabilidades, muitas tendem a ficar mais rebeldes e resistentes a seguirem regras;
  • Encurtamento da infância: como a dinâmica é complexa e multifatorial, a criança termina perdendo essa fase da vida para se encaixar em um padrão que não faz sentido para sua faixa etária.

Os pais e responsáveis devem estar atentos a esses sinais. É importante oferecer segurança e apoio para que ela volte a passar pelas fases esperadas para a idade, além de conversar sobre temas sensíveis em casa.

Também é importante buscar apoio e orientação de profissionais de saúde, como psicólogos e pediatras para ajudarem no processo.

Como proteger as crianças da hiper exposição na internet?

Atualmente, existe um amplo debate em várias esferas sociais, passando, inclusive, pelo poder legislativo. É importante ressaltar que o tema é debatido desde 2022 no Senado. A proposta de projeto de lei prevê a criação de um Estatuto Digital da Criança e do Adolescente, que tem como objetivo proteger os menores no uso de aplicativos, jogos eletrônicos, redes sociais e programas de computador não adequados para a idade.

A proposta obriga os fornecedores dos produtos e serviços de tecnologia a adotarem várias medidas para prevenir o acesso indiscriminado de crianças e adolescentes a conteúdos prejudiciais, como pornografia, bullying, incentivo ao suicídio e jogos de azar. O projeto de lei frisa a remoção desses conteúdos.

Mas também é importante ressaltar que os pais devem ser atuantes e estarem atentos aos filhos e crianças que estejam sob tutela. A supervisão de um adulto não é descartada.

Evitar que a criança passe muito tempo nas redes sociais é uma medida a ser adotada. Não expor os menores de idade nas redes sociais, também. Inúmeros vídeos e fotos caem nas redes internacionais de pedofilia.

Estudos realizados na Universidade de Roma, na Itália, explicam que quanto maior for o número de seguidores nas redes sociais, maior a probabilidade dos pais compartilharem as fotos das crianças. Há também o agravante desses conteúdos serem monetizados, o que pode aumentar a exposição dos menores nas redes sociais.

As recomendações dos especialistas é de restringir, acompanhar e controlar o tempo de uso de celulares. Antes dos 2 anos, é preferível não oferecer celulares. Na faixa dos 2 a 6 anos, limitar a exposição a telas em uma hora por dia.

As crianças não precisam passar tanto tempo nas telas: há uma vida lá fora para elas conhecerem. Para tudo há seu devido tempo e nessas descobertas, a família pode aprofundar ainda mais as relações.

Serviços

Você pode denunciar violações de direitos humanos no Disque Direitos Humanos. A ligação é gratuita para todo o Brasil. O serviço está disponível 24 por dia, de segunda a segunda, inclusive em feriados. Basta discar 100.

O Ministério do Trabalho e Emprego tem um canal exclusivo. Você pode acessar o Sistema Ipê de Trabalho Infantil e registrar sua denúncia em casos de crianças e adolescentes em trabalho infantil ou em trabalhos proibidos para menores.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

CENTRO REGIONAL DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO (CETIC.BR). TIC Kids Online Brasil. Cetic.br, 2024. Disponível em: https://cetic.br/pt/pesquisa/kids-online/. Acesso em: 10 set. 2025.

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EDUCA MAIS BRASIL. Adultização infantil: causas, impactos e como proteger as crianças. Educa Mais Brasil – Notícias, 2025. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/adultizacao-infantil-causas-impactos-e-como-proteger-as-criancas. Acesso em: 10 set. 2025.

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MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (BRASIL). Combate ao trabalho infantil. Governo do Brasil – Ministério do Trabalho e Emprego, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/assuntos/inspecao-do-trabalho/areas-de-atuacao/Combate-trabalho-infantil. Acesso em: 10 set. 2025.

AGÊNCIA BRASIL. Mais de 6 mil crianças são resgatadas do trabalho infantil em 2 anos. Agência Brasil – Direitos Humanos, jun. 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-06/mais-de-6-mil-criancas-sao-resgatadas-do-trabalho-infantil-em-2-anos. Acesso em: 10 set. 2025.

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