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Qual é a temperatura corporal normal infantil e quando se preocupar?

Entenda as variações de temperatura em bebês e crianças e saiba identificar os sinais de alerta que indicam a necessidade de procurar um médico.

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Toda mãe e pai sabe: quando a criança parece mais "quente", a primeira reação é buscar o termômetro. No entanto, a temperatura corporal normal de bebês e crianças não é um valor fixo. Ela pode variar ao longo do dia, dependendo da atividade física, do ambiente e, principalmente, da idade do pequeno. Compreender essas variações é o primeiro passo para saber quando se preocupar.

A febre, por exemplo, é um sinal de que o sistema imunológico está ativado. O corpo libera substâncias como a interleucina-1β (IL-1β) e a interleucina-18 (IL-18), que são importantes mediadores da inflamação e contribuem para o aumento da temperatura.

Como a idade da criança influencia a temperatura normal?

A fisiologia infantil é dinâmica, e isso inclui a regulação da temperatura. Bebês recém-nascidos e lactentes, por exemplo, têm um sistema termorregulador ainda imaturo, o que os torna mais sensíveis a variações de temperatura.

  • Bebês (até 3 meses de idade): a temperatura considerada normal costuma variar entre 36°C e 37°C. Qualquer temperatura acima de 37,5°C nessa faixa etária é motivo de atenção e geralmente requer avaliação médica imediata.
  • Crianças (acima de 3 meses): para crianças maiores, a faixa de normalidade pode ser um pouco mais ampla, geralmente entre 35,4°C e 37,2°C, quando medida na axila. Temperaturas acima de 37,8°C (ou 38°C, dependendo da fonte e do contexto clínico) são consideradas febre.

Quais são as diferentes faixas de temperatura?

É comum que os pais se perguntem: "37 graus já é febre?". A resposta não é um simples "sim" ou "não". 

Existem categorias que ajudam a classificar a temperatura e a orientar os cuidados.

  • Normal: a temperatura está dentro da faixa esperada para a idade e o método de medição.
  • Estado febril ou febrícula: geralmente entre 37,3°C e 37,8°C (temperatura axilar). Neste estágio, o corpo pode estar começando a reagir, mas nem sempre é necessário medicar, apenas observar e oferecer conforto.
  • Febre: a partir de 37,8°C ou 38°C (temperatura axilar, dependendo da idade e do protocolo). Indica que o sistema imunológico está ativado.
  • Febre alta: acima de 39°C. Requer atenção redobrada e, muitas vezes, intervenção médica para identificar a causa e controlar o quadro.

A tabela a seguir apresenta uma visão geral das faixas de temperatura e os métodos de medição mais comuns:

Método de Medição

Temperatura Normal (Aproximada)

Febre (Aproximada)

Considerações

 

Axilar

35,4°C - 37,2°C

≥ 37,8°C

Mais comum, prática e segura para todas as idades.

Oral

35,9°C - 37,5°C

≥ 37,8°C

Não recomendada para bebês e crianças pequenas; requer cooperação.

Retal

36,6°C - 38°C

≥ 38°C

Mais precisa para bebês; deve ser realizada com cautela e higiene.

Temporal (Testa)

35,6°C - 37,6°C

≥ 38°C

Prática e não invasiva, mas pode ser menos precisa que a retal.

Como medir a temperatura da criança corretamente?

Para obter uma leitura precisa e evitar preocupações desnecessárias, a técnica de medição é tão importante quanto o termômetro. O termômetro digital é o mais indicado atualmente por sua praticidade, rapidez e segurança.

Para medir a temperatura axilar:

  1. Ligue o termômetro digital.
  2. Posicione a ponta do termômetro na axila da criança, certificando-se de que esteja em contato direto com a pele e não com a roupa.
  3. Mantenha o braço da criança abaixado, pressionando o termômetro contra o corpo.
  4. Aguarde o sinal sonoro do termômetro, que indica o fim da medição.
  5. Anote o valor e o horário da medição para acompanhar a evolução.

Evite termômetros de mercúrio, que são proibidos no Brasil devido à toxicidade do mercúrio. Lembre-se que um banho recente, agasalhos em excesso ou atividade física intensa podem alterar a leitura. Recomenda-se aguardar 20 a 30 minutos após essas situações para uma medição mais fidedigna.

O que causa a febre em crianças?

A febre não é uma doença em si, mas um mecanismo de defesa do corpo. Ela indica que o sistema imunológico está trabalhando para combater algo considerado uma ameaça. Em alguns casos, a febre pode ser um sintoma de doenças autoinflamatórias, que são condições genéticas raras onde o sistema imune inato se ativa sem um gatilho externo aparente.

As causas mais comuns de febre em crianças incluem:

  • Infecções: virais (como gripes, resfriados, viroses gastrointestinais) ou bacterianas (como otites, amigdalites, infecções urinárias). Estas são as causas mais frequentes. Em doenças como a Síndrome de Kawasaki, a ativação de um mecanismo inflamatório específico e a produção excessiva de IL-1β desempenham um papel importante na inflamação dos vasos sanguíneos. Além disso, em casos de infecção por SARS-CoV-2, crianças podem apresentar alterações microvasculares, como ramificação capilar e micro-hemorragias, visíveis na prega ungueal, um achado observado em pacientes com COVID-19 e Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças (SIM-C).
  • Reações a vacinas: é comum que bebês e crianças desenvolvam febre baixa após algumas vacinas, o que é uma resposta esperada do organismo.
  • Pós-dentição: embora a erupção dos dentes possa causar um leve aumento da temperatura ou estado febril, raramente provoca febre alta. Se a febre for significativa, outras causas devem ser investigadas.
  • Superaquecimento: roupas em excesso, ambientes muito quentes ou exposição prolongada ao sol podem elevar a temperatura corporal.

Quando se preocupar e procurar um médico?

Monitorar a febre é importante, mas saber quando ela se torna um sinal de alerta é crucial. Nem toda febre exige uma visita imediata ao pronto-socorro, mas algumas situações merecem atenção médica urgente.

A Síndrome de Ativação Macrofágica (SAM), por exemplo, é uma complicação grave que pode ocorrer em doenças reumáticas pediátricas, como a Artrite Idiopática Juvenil Sistêmica (AIJS), e está associada a uma alta taxa de mortalidade, chegando a 27% em algumas coortes, conforme um estudo publicado no Pediatric Rheumatology Online Journal. 

A identificação precoce da SAM é crucial, e biomarcadores como a ferritina e o CXCL9 podem ser úteis para prever a gravidade e o tempo de remissão.

Quais são os sinais de alerta que acompanham a febre?

Procure um profissional de saúde imediatamente se a criança apresentar febre acompanhada de:

  • Idade menor que 3 meses (febre em recém-nascidos é sempre uma emergência). Em crianças com doenças reumáticas preexistentes, a infecção por COVID-19 geralmente tem um curso leve, com hospitalização em apenas 5% dos casos e uma taxa de mortalidade muito baixa, de 0,3%, segundo dados do Pediatric Rheumatology Online Journal.
  • Temperatura retal acima de 40°C em qualquer idade.
  • Febre que dura mais de 72 horas (3 dias) em crianças maiores de 2 anos.
  • Dificuldade para respirar, respiração rápida ou chiado no peito. A doença pulmonar, incluindo proteinose alveolar e hipertensão pulmonar, é uma complicação grave emergente em pacientes com AIJS, com uma taxa de fatalidade de 18% em coortes europeias.
  • Prostração, sonolência excessiva ou dificuldade para acordar. A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-C), uma complicação grave da COVID-19, pode apresentar disfunção de múltiplos órgãos e, em alguns casos, déficits cognitivos como problemas de memória de trabalho.
  • Choro inconsolável ou irritabilidade extrema.
  • Rigidez na nuca.
  • Manchas roxas ou avermelhadas na pele que não desaparecem ao serem pressionadas. Em doenças como a Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP), inchaços inflamatórios podem levar à ossificação progressiva dos tecidos moles, e a identificação precoce é vital para evitar biópsias prejudiciais.
  • Convulsões (especialmente a primeira vez). Em casos de esclerodermia juvenil craniofacial, a uveíte (inflamação ocular) pode ocorrer em cerca de 11,4% dos pacientes, e em algumas meninas, pode ser acompanhada por convulsões focais.
  • Desidratação (boca seca, pouca urina, olhos fundos, ausência de lágrimas).
  • Dor intensa em qualquer parte do corpo.
  • Vômitos persistentes ou diarreia intensa.

Seja transparente ao descrever os sintomas ao médico, incluindo a frequência, intensidade e qualquer outro detalhe relevante. Confie em seu instinto parental; se sentir que algo não está certo, procure ajuda.

Quais cuidados posso ter com a criança em casa?

Enquanto aguarda a avaliação médica ou para oferecer conforto em casos de febre leve, algumas medidas caseiras podem ajudar:

  • Hidratação: ofereça líquidos frequentemente (água, sucos naturais, soro oral caseiro ou industrializado). A febre aumenta a perda de líquidos.
  • Roupas leves: vista a criança com roupas leves e mantenha o ambiente fresco e arejado. O excesso de agasalho impede a dissipação do calor.
  • Banhos mornos: banhos com água morna (nunca fria ou gelada) podem ajudar a refrescar e aliviar o desconforto, mas não são o principal método para baixar a febre.
  • Repouso: incentive o descanso, pois o corpo precisa de energia para combater a infecção.
  • Não automedique: nunca administre medicamentos sem orientação médica, especialmente em bebês e crianças pequenas. A dosagem incorreta ou o uso de medicamentos inadequados podem ser perigosos.

Prevenção: como manter a saúde do seu filho em dia?

Embora a febre seja uma parte natural do crescimento infantil, algumas práticas podem contribuir para a saúde geral da criança e, consequentemente, reduzir a frequência de doenças:

  • Vacinação em dia: Mantenha o calendário de vacinação atualizado. As vacinas protegem contra diversas doenças que podem causar febre.
  • Higiene adequada: Incentive a lavagem frequente das mãos, tanto da criança quanto dos cuidadores, para evitar a propagação de germes.
  • Alimentação saudável: Uma dieta equilibrada e rica em nutrientes fortalece o sistema imunológico.
  • Consultas de rotina: Leve a criança regularmente ao pediatra para acompanhamento do desenvolvimento e prevenção de doenças. 

A detecção precoce de doenças reumáticas é fundamental, pois o início rápido de terapias biológicas pode levar a uma remissão sustentada em até 78% dos casos de artrite infantil. 

Ferramentas como o pGALSplus, uma avaliação clínica musculoesquelética estendida, podem ajudar profissionais de saúde a identificar crianças com doenças musculoesqueléticas graves que necessitam de encaminhamento especializado. 

Em casos de suspeita de doenças autoinflamatórias raras, como a deficiência de ADA2, testes funcionais de atividade da enzima podem ser cruciais para um diagnóstico precoce e preciso.

O cuidado com a temperatura corporal infantil é um ato de amor e atenção. Ao compreender as nuances da febre e saber quando agir, os pais podem proporcionar o melhor suporte aos seus filhos, garantindo que cresçam saudáveis e seguros.

 

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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