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O que fazer para aliviar as dores da quimioterapia: guia completo

Entender os tipos de dor causados pela quimioterapia e como aliviá-los pode tornar o tratamento mais suportável e preservar sua qualidade de vida.

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As dores durante a quimioterapia podem aparecer de formas diferentes: uma fisgada nos ossos, um incômodo persistente nas articulações, uma sensação de queimação nos nervos ou mesmo aquele cansaço profundo que pesa no corpo inteiro. E quando essas dores se somam ao desgaste emocional do tratamento, é natural sentir-se sobrecarregado, sem saber exatamente o que fazer.

Mas há caminhos possíveis. Saber o que fazer para aliviar as dores da quimioterapia é essencial para atravessar essa fase com mais dignidade e menos sofrimento. O alívio pode não ser imediato, mas pequenas mudanças no dia a dia, somadas à orientação da equipe médica, fazem diferença real na qualidade de vida.

Neste guia, vamos explicar por que essas dores acontecem, quais tipos são mais comuns e quais estratégias — médicas e não medicamentosas — podem ajudar no controle do desconforto. Porque tratar o câncer não deve significar conviver com dor o tempo todo. Há formas de tornar esse processo mais leve.

Por que a quimioterapia pode causar dor?

A quimioterapia é um tratamento poderoso, projetado para combater células cancerígenas. No entanto, ela não age seletivamente apenas nas células doentes. 

As medicações podem afetar também células saudáveis, especialmente aquelas que se multiplicam rapidamente, como as células do sangue, do cabelo, da boca e, em alguns casos, as células nervosas e musculares. Essa ação nos tecidos saudáveis pode levar ao surgimento de diversos efeitos colaterais, incluindo dor.

Diferentes tipos de quimioterápicos podem causar dores por mecanismos distintos. Por exemplo, alguns medicamentos podem provocar inflamação ou danos aos nervos (neuropatia periférica), resultando em sensações de queimação, formigamento ou agulhadas, principalmente nas mãos e pés.

Outros podem afetar os músculos e articulações, causando dor generalizada ou localizada, como dor nas costas ou nos ossos. A fadiga intensa, comum durante o tratamento, também pode exacerbar a percepção da dor.

Como a dor da quimioterapia se manifesta?

As dores associadas à quimioterapia podem variar significativamente de paciente para paciente, tanto em intensidade quanto em tipo. É importante reconhecer as diferentes formas como a dor pode se manifestar para buscar o alívio mais adequado.

  • Neuropatia periférica: É uma das dores mais comuns, caracterizada por formigamento, dormência, queimação ou pontadas nas mãos e nos pés. Em casos mais graves, pode afetar o equilíbrio e a coordenação.

A neuropatia periférica induzida por quimioterapia é uma condição de dor crônica comum. Cerca de 30% dos sobreviventes de câncer podem desenvolvê-la, como apontado em uma pesquisa publicada no Current Oncology.

Esse percentual pode subir para aproximadamente 40% entre pacientes que recebem quimioterapia com agentes neurotóxicos, segundo um artigo no Drugs.

  • Dor muscular (mialgia) e articular (artralgia): Ocorre como uma sensação de dor generalizada nos músculos e juntas, similar à dor de uma gripe forte. As articulações doem e parecem rígidas.
  • Dor óssea: Alguns quimioterápicos podem induzir dor nos ossos, especialmente em ossos longos ou na coluna, devido ao impacto na medula óssea.
  • Dores de cabeça: Podem ser resultado da desidratação, fadiga ou como efeito direto de certas medicações.
  • Dor na boca e garganta (Mucosite): Lesões dolorosas na mucosa da boca e garganta que dificultam a alimentação e a fala.
  • Dor abdominal: Causada por distúrbios gastrointestinais como diarreia ou constipação.

A comunicação clara com a equipe médica sobre a localização, intensidade e características da dor é crucial para um plano de manejo eficaz.

O que fazer para aliviar as dores da quimioterapia?

O alívio da dor na quimioterapia requer uma abordagem multifacetada, combinando o uso de medicamentos com estratégias não farmacológicas. O objetivo é proporcionar o máximo conforto e permitir que o paciente continue suas atividades diárias da melhor forma possível.

Manejo medicamentoso da dor: qual o papel dos remédios?

O tratamento da dor geralmente começa com a avaliação e prescrição de medicamentos pelo oncologista ou por um especialista em dor. Nunca se automedique. Somente o médico pode indicar o analgésico mais apropriado para o seu caso, considerando o tipo de dor, sua intensidade e outros medicamentos que você esteja utilizando.

Os medicamentos podem variar desde analgésicos comuns, como paracetamol, até anti-inflamatórios ou opióides, em casos de dor mais intensa. Em algumas situações de neuropatia, medicamentos específicos para dor neuropática podem ser indicados. 

É fundamental seguir rigorosamente as orientações médicas quanto à dose e frequência, informando qualquer efeito colateral ou se a dor persistir.

Estratégias não medicamentosas: quais técnicas auxiliam no alívio da dor?

Além dos remédios, diversas abordagens complementares podem potencializar o alívio da dor, promovendo bem-estar físico e mental.

Como a atividade física controlada pode ajudar?

Embora pareça contraditório, manter-se ativo pode ser um excelente aliado no combate à dor. Exercícios físicos leves e moderados, sempre com a aprovação e orientação de um fisioterapeuta ou educador físico especializado em oncologia, podem fortalecer músculos, melhorar a circulação, reduzir a fadiga e liberar endorfinas, que são analgésicos naturais do corpo.

Caminhadas curtas, alongamentos suaves, yoga adaptado ou hidroginástica são exemplos de atividades que podem ser consideradas. O importante é respeitar os limites do corpo e evitar sobrecarga.

Quais técnicas de relaxamento e respiração são eficazes?

O estresse e a ansiedade podem intensificar a percepção da dor. Técnicas de relaxamento e respiração profunda ajudam a acalmar o sistema nervoso, diminuir a tensão muscular e, consequentemente, reduzir o desconforto.

  • Respiração diafragmática: Inspire profundamente pelo nariz, inflando o abdômen, e expire lentamente pela boca. Repita por alguns minutos.
  • Meditação e mindfulness: Focar no momento presente, observando pensamentos e sensações sem julgamento, pode desviar a atenção da dor e promover relaxamento.
  • Escutar música suave ou sons da natureza: A música pode ter um efeito terapêutico, diminuindo a ansiedade e distraindo da dor.

De que forma a alimentação e hidratação contribuem?

Uma dieta equilibrada e a hidratação adequada são essenciais para a recuperação do corpo e a minimização de efeitos colaterais. A desidratação, por exemplo, pode agravar dores de cabeça e fadiga.

  • Hidrate-se: Beba bastante água ao longo do dia, mesmo que não sinta sede. Chás e sucos naturais diluídos também são boas opções.
  • Alimentos nutritivos: Priorize frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais. Uma alimentação anti-inflamatória pode auxiliar na redução de dores musculares e articulares.
  • Pequenas refeições: Coma em porções menores e mais frequentes para facilitar a digestão e evitar náuseas.

Consulte um nutricionista especializado em oncologia para um plano alimentar personalizado.

Terapias complementares: acupuntura e massagem, elas funcionam?

Algumas terapias complementares, quando realizadas por profissionais qualificados e com a aprovação do seu médico, podem oferecer alívio adicional para a dor:

  • Acupuntura: Tem sido estudada por seu potencial no alívio de dor crônica, incluindo a neuropatia induzida por quimioterapia.
  • Massagem terapêutica: Massagens suaves podem ajudar a relaxar músculos tensos e melhorar a circulação, reduzindo a dor e o estresse. Evite áreas de injeção ou com lesões na pele.
  • Compressas quentes ou frias: Aplicações localizadas podem aliviar dores musculares e articulares. O calor ajuda a relaxar, e o frio, a reduzir a inflamação.

Além dessas, intervenções de neuromodulação também têm demonstrado eficácia. Uma revisão publicada no Journal of Pain Research revelou que elas podem reduzir significativamente a dor relacionada à quimioterapia em até 3 semanas, quando comparadas ao cuidado usual.

O suporte psicológico é importante no controle da dor?

Conviver com a dor crônica e com o tratamento do câncer pode ser exaustivo emocionalmente. O suporte psicológico, seja através de terapia individual ou grupos de apoio, é crucial. Um psicólogo pode ajudar a desenvolver estratégias de enfrentamento, reduzir a ansiedade e a depressão, e melhorar a resiliência, fatores que impactam diretamente a percepção da dor.

Nesse contexto, estratégias de autocuidado, que incluem o uso de materiais educacionais, podem melhorar significativamente o controle da dor relacionada à quimioterapia. Elas empoderam o paciente a gerenciar melhor sua condição, complementando o apoio profissional e contribuindo para um bem-estar geral.

Como gerenciar o sono e o repouso para diminuir a dor?

Um sono de qualidade é vital para a recuperação do corpo e para a modulação da dor. A fadiga pode intensificar a dor, enquanto o descanso adequado ajuda o corpo a se curar e a gerenciar os sintomas. 

Estabeleça uma rotina de sono regular, crie um ambiente propício ao descanso e, se necessário, converse com seu médico sobre estratégias para melhorar a qualidade do seu sono, incluindo cochilos curtos e revigorantes durante o dia, se preciso.

Quando procurar ajuda médica especializada?

É fundamental manter a equipe médica informada sobre a sua dor. Procure um médico imediatamente se:

  • A dor for súbita, intensa ou insuportável.
  • A dor mudar de característica ou localização.
  • Você desenvolver novos sintomas associados à dor, como febre, calafrios, inchaço ou vermelhidão.
  • Os medicamentos para dor não estiverem mais fazendo efeito.
  • A dor estiver impedindo suas atividades diárias, sono ou alimentação.

Não hesite em buscar ajuda. O controle eficaz da dor é um direito do paciente e parte integrante de um tratamento oncológico de qualidade.

A importância da abordagem multidisciplinar

Gerenciar as dores da quimioterapia é um esforço conjunto que envolve o paciente, sua família e uma equipe de profissionais de saúde. O oncologista é o centro, mas pode encaminhar para especialistas em dor, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. Essa abordagem multidisciplinar garante que todos os aspectos da dor, desde os sintomas físicos até o impacto emocional, sejam abordados de forma completa e individualizada.

A eficácia de abordagens combinadas é notável. Uma intervenção multimodal, que combina terapia manual, exercícios e estratégias psicológicas, por exemplo, tem sido estudada pela sua aplicabilidade no alívio de dores relacionadas ao tratamento oncológico, como a neuropatia induzida por quimioterapia. Isso reforça a importância de planos de tratamento personalizados, que envolvam diversas especialidades para um alívio mais completo da dor.

Lembre-se: você não precisa enfrentar a dor sozinho. Existem estratégias e profissionais dedicados a oferecer o suporte necessário para que você tenha mais conforto e qualidade de vida durante o tratamento.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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