Ícone
Logo Portal AméricasLogo Portal Américas Mobile
InícioSaúdeCondições de saúde

Muitos gases e dor abdominal: entenda as causas e saiba quando agir

Saiba identificar o que está por trás do desconforto abdominal e quando é preciso buscar ajuda profissional para gases em excesso.

muitos gases e dor abdominal1.jpg

.

Você já sentiu aquela sensação incômoda de inchaço na barriga, acompanhada de pontadas ou dor que parece não ter fim? Ter muitos gases e dor abdominal é uma queixa comum, que afeta grande parte da população em algum momento da vida. 

De fato, um estudo global revelou que quase 18% da população mundial relata inchaço abdominal pelo menos uma vez por semana, sendo mais comum em mulheres e diminuindo com a idade, conforme publicado na revista Gastroenterology. 

Embora seja um processo natural do corpo, o excesso de flatulências e o desconforto podem indicar que algo não vai bem.

O que são gases intestinais e por que eles causam dor?

Os gases intestinais, ou flatos, são uma parte normal do processo digestivo. Eles são produzidos principalmente pela fermentação de alimentos por bactérias presentes no intestino grosso. Além disso, a ingestão de ar durante a fala ou alimentação também contribui para sua formação.

Quando esses gases se acumulam e não são expelidos adequadamente, eles podem pressionar as paredes do intestino. Essa pressão é o que provoca a distensão abdominal, inchaço e a sensação de dor ou cólica. É importante diferenciar o inchaço (sensação subjetiva de gás preso ou pressão) da distensão (aumento objetivo e mensurável da circunferência abdominal), embora frequentemente ocorram juntos, como detalhado em um artigo da Microorganisms. A intensidade da dor varia de pessoa para pessoa e depende da quantidade de gases e da sensibilidade individual.

Quais são as principais causas de muitos gases e dor abdominal?

A combinação de muitos gases e dor abdominal pode ter diversas origens, desde hábitos simples até condições de saúde mais complexas. Entender o que provoca esses sintomas é o primeiro passo para encontrar alívio.

A alimentação e os hábitos dietéticos impactam na formação de gases?

Sim, a dieta é uma das maiores influenciadoras na produção de gases. Certos alimentos são conhecidos por serem mais propensas a causar flatulência devido à sua composição:

  • Alimentos ricos em fibras: Leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico), vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, repolho) e algumas frutas podem gerar mais gases durante a digestão.
  • Carboidratos complexos: Cereais integrais e massas podem fermentar no intestino, aumentando a produção gasosa.
  • Bebidas gaseificadas: Refrigerantes, água com gás e cerveja introduzem ar diretamente no sistema digestivo.
  • Alimentos ricos em açúcar e adoçantes artificiais: Sorbitol e xilitol, por exemplo, não são totalmente absorvidos e fermentam no intestino.

Além dos alimentos, a forma como se come também importa. Engolir ar ao comer rápido, mascar chiclete, sugar balas ou falar muito durante as refeições pode levar à aerofagia, que é a ingestão excessiva de ar, resultando em mais gases.

Quais problemas digestivos e condições médicas podem causar gases e dor?

Em alguns casos, o excesso de gases e a dor abdominal são sintomas de condições de saúde subjacentes:

  • Síndrome do Intestino Irritável (SII): Um distúrbio crônico que afeta o intestino grosso, causando dor abdominal, inchaço, gases e alterações no hábito intestinal (diarreia, constipação ou ambos). O inchaço é, inclusive, um dos sintomas mais comuns e incômodos para pacientes com SII com constipação (SII-C), com mais de 75% dos indivíduos com SII-C relatando inchaço moderado a grave.
  • Intolerâncias alimentares: Intolerância à lactose (incapacidade de digerir o açúcar do leite) ou ao glúten (presente no trigo, cevada e centeio) pode levar a gases, dor e diarreia após o consumo dos alimentos problemáticos.
  • Disbiose intestinal: Um desequilíbrio na flora bacteriana do intestino, onde há um aumento de bactérias "ruins" em detrimento das "boas", pode gerar mais gases e desconforto. Pesquisas recentes indicam que desequilíbrios na microbiota intestinal desempenham um papel central na fisiopatologia do inchaço e distensão abdominal funcional.
  • Constipação (prisão de ventre): Fezes presas no intestino podem dificultar a eliminação de gases, levando ao acúmulo e dor.
  • Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado (SIBO): Condição em que há um crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, causando fermentação precoce dos alimentos e produção excessiva de gases.
  • Doença inflamatória intestinal (DII): Condições como Doença de Crohn ou Retocolite Ulcerativa podem ter gases e dor como parte dos sintomas inflamatórios.

O estresse e o estilo de vida influenciam nos gases?

Sim, o estresse e o estilo de vida podem impactar significativamente a saúde digestiva. O sistema digestório é altamente sensível às emoções. Períodos de estresse, ansiedade ou tensão podem alterar a motilidade intestinal e a percepção da dor, tornando a pessoa mais sensível aos gases e ao desconforto abdominal.

Além disso, fatores psicossociais como estresse e depressão podem contribuir para uma maior percepção do inchaço abdominal. A disfunção na coordenação entre o diafragma e os músculos abdominais, conhecida como dissinergia abdomino-frênica, também pode ser uma causa importante. 

Um estilo de vida sedentário pode diminuir a movimentação intestinal, dificultando a eliminação natural dos gases. A prática regular de exercícios físicos, por outro lado, estimula o trânsito intestinal e pode ajudar a aliviar o acúmulo de gases.

Como aliviar o desconforto causado por gases e dor abdominal?

Para muitas pessoas, pequenas mudanças na rotina e na alimentação podem fazer uma grande diferença no alívio dos gases e da dor abdominal. No entanto, é fundamental lembrar que essas dicas não substituem a avaliação e o acompanhamento médico.

Mudanças na dieta e hábitos alimentares ajudam a reduzir os gases?

Ajustar a alimentação é um dos pilares para controlar os gases. Considere as seguintes estratégias:

  • Identifique alimentos gatilho: Mantenha um diário alimentar para registrar o que você come e quando os sintomas surgem. Isso pode ajudar a identificar os alimentos que mais causam gases e dor.
  • Coma devagar e mastigue bem: Isso reduz a quantidade de ar engolida. Procure fazer suas refeições em um ambiente tranquilo.
  • Evite bebidas gaseificadas: Refrigerantes, água com gás e sucos industrializados com gás devem ser evitados.
  • Reduza alimentos ricos em FODMAPs: São carboidratos fermentáveis que podem causar gases em pessoas sensíveis. Maçãs, peras, leguminosas e certos legumes são exemplos. A dieta de baixo FODMAP tem se mostrado uma estratégia eficaz para melhorar os sintomas da SII, incluindo dor abdominal e inchaço. Um nutricionista pode orientar sobre uma dieta de baixo FODMAP, se necessário.
  • Cozinhe bem os alimentos: Cozinhar legumes até que fiquem macios pode facilitar a digestão e reduzir a produção de gases.

Hábitos diários podem aliviar a dor abdominal?

Pequenas alterações no seu dia a dia também contribuem para o alívio do desconforto:

  • Beba bastante água: A hidratação adequada ajuda no funcionamento intestinal e na prevenção da constipação, o que facilita a eliminação de gases.
  • Pratique exercícios físicos: A atividade física estimula a movimentação do intestino, ajudando a expelir os gases presos. Caminhadas leves após as refeições podem ser úteis.
  • Faça massagens abdominais: Movimentos circulares suaves na barriga, no sentido horário, podem ajudar a mover os gases e aliviar a dor.
  • Tome chás digestivos: Chás de erva-doce, hortelã e gengibre são conhecidos por suas propriedades que podem aliviar gases e desconforto.
  • Evite roupas apertadas: Peças de roupa que comprimem o abdômen podem piorar a sensação de inchaço e dor.
  • Considere terapias comportamentais: Terapias como biofeedback e exercícios de respiração diafragmática podem ser úteis para melhorar a coordenação dos músculos abdominais e do diafragma, aliviando o inchaço e a distensão.

Quais são os sintomas de alerta que indicam a necessidade de procurar um médico?

Embora gases e dor abdominal sejam frequentemente benignos, certos sinais podem indicar uma condição mais séria que exige atenção médica. Procure um profissional de saúde se você apresentar:

  • Dor abdominal intensa e persistente: Especialmente se ela o impede de realizar suas atividades diárias ou o acorda durante a noite.
  • Alterações significativas no hábito intestinal: Como diarreia ou constipação prolongada, que não melhoram com mudanças na dieta.
  • Sangramento nas fezes ou fezes escuras: Qualquer presença de sangue nas evacuações é um sinal de alerta e deve ser investigada.
  • Perda de peso inexplicável: Se você está perdendo peso sem ter mudado sua dieta ou rotina de exercícios.
  • Febre, calafrios ou vômitos: Esses sintomas, acompanhados de dor abdominal, podem indicar uma infecção ou inflamação.
  • Inchaço abdominal que piora e não melhora: Especialmente se a barriga estiver rígida e sensível ao toque.
  • Anemia: Sintomas como fadiga extrema, palidez e falta de ar, que podem ser causados por sangramento intestinal não visível.

Gases e dor abdominal podem ser um sinal de algo mais sério?

Em alguns casos, sim. Embora seja incomum, o excesso persistente de gases e a dor abdominal podem, em raras situações, estar associados a condições mais graves, como inflamações crônicas ou, muito raramente, câncer. 

Um estudo publicado na PLOS Medicine, que analisou mais de 477 mil pacientes, mostrou que o valor preditivo geral da dor abdominal ou inchaço para qualquer tipo de câncer nos 12 meses seguintes foi de 2,2%. No entanto, em pacientes com 60 anos ou mais, com dor abdominal ou inchaço, o risco de câncer pode ultrapassar 3%, um limiar que geralmente indica a necessidade de investigação urgente.

Testes sanguíneos de rotina podem ser cruciais para identificar riscos. Anormalidades em exames de sangue, como albumina baixa, plaquetas elevadas, PSA alto (em homens) e CA125 alto (em mulheres), são fortes indicadores de risco de câncer, especialmente em pacientes mais velhos. 

A inclusão dessas informações nos critérios de encaminhamento pode ajudar a detectar pacientes adicionais com câncer subjacente. Por exemplo, para cada 1.000 pacientes com inchaço abdominal que realizaram exames de sangue, cinco pacientes adicionais com câncer puderam ser identificados para encaminhamento urgente. 

É por isso que a avaliação médica é fundamental. Somente um profissional pode realizar os exames necessários, como testes de intolerância, exames de sangue, fezes ou de imagem, para descartar condições sérias e chegar a um diagnóstico preciso. 

Com um diagnóstico, o tratamento adequado pode ser iniciado, trazendo alívio e garantindo sua saúde digestiva.

Quando agendar uma consulta médica?

Se você sofre frequentemente com muitos gases e dor abdominal, e as mudanças na dieta e nos hábitos de vida não trouxeram alívio, ou se você identificar qualquer um dos sintomas de alerta mencionados, é fundamental buscar ajuda médica. Um gastroenterologista é o especialista ideal para investigar a causa dos seus sintomas e indicar o tratamento mais adequado.

Não hesite em procurar orientação profissional. Cuidar da sua saúde digestiva é cuidar da sua qualidade de vida.

 

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

Bibliografia

BALLOU, S.; et al. Prevalence and Associated Factors of Bloating: Results from the Rome Foundation Global Epidemiology Study. Gastroenterology. 165. 1; 35-44.e1, 2023. Disponível em:https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(23)00826-0/fulltext . Acesso em: 15 ago. 2025.

BRENNER, D. M.; et al. Plecanatide Improves Abdominal Bloating and Bowel Symptoms of Irritable Bowel Syndrome with Constipation. Digestive Diseases and Sciences. 69. 7; 2496-2506, 2024. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38594429/ . Acesso em: 15 ago. 2025.

CRUCILLÀ, S.; et al. Functional Abdominal Bloating and Gut Microbiota: An Update. Microorganisms. 12. 8; 1669, 2024. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39203511/ . Acesso em: 15 ago. 2025.

RAFIQ, M.; et al. Predictive value of abnormal blood tests for detecting cancer in primary care patients with nonspecific abdominal symptoms: A population-based cohort study of 477,870 patients in England. PLOS Medicine. 21. 7; e1004426, 2024. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39078806/ . Acesso em: 15 ago. 2025.

ZADEH, R. G. B.; et al. Spinal‐Related Musculoskeletal Determinants of Functional Abdominal Bloating and Distension: A Narrative Review. Health Science Reports. 8. 7; e70976, 2025. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40636528/ . Acesso em: 15 ago. 2025.