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Entenda o que um exame de sangue pode realmente revelar sobre um câncer e por que ele é uma ferramenta de apoio, não um diagnóstico final.
A rotina de fazer exames laboratoriais e receber os resultados é comum na vida de muitas pessoas. Diante de uma série de números e termos técnicos, é natural surgir a dúvida: seria possível que essa análise tão simples revelasse algo mais sério, como um câncer? Embora a ciência avance constantemente, é importante compreender que, na prática oncológica atual, o exame de sangue funciona mais como um sinalizador do que como um diagnóstico final.
Quando um médico busca indícios de câncer no sangue, ele procura por pistas que podem ser divididas em duas categorias: as indiretas e as diretas e compreender essa diferença é o primeiro passo para entender o valor e os limites desses exames.
As pistas indiretas são obtidas em exames de rotina, principalmente no hemograma completo. Pense na medula óssea como a "fábrica" central do nosso corpo, responsável por produzir as células do sangue. O hemograma é o relatório de produção dessa fábrica.
Portanto, se o câncer, especialmente um hematológico como a leucemia, se instala na medula, ele desorganiza toda a linha de montagem, se manifestando como:
Além de avaliar o funcionamento dessa "fábrica", o médico pode procurar pelas pistas diretas: os chamados marcadores tumorais. A melhor forma de entendê-los é como "rastros" ou "pegadas" químicas que certos tumores deixam na corrente sanguínea, que são proteínas ou outras substâncias produzidas em excesso pelas células cancerígenas ou pelo próprio corpo em resposta à doença.
A presença elevada desses marcadores pode, de fato, indicar a atividade de um câncer. O grande desafio, no entanto, é que esses "rastros" não são exclusivos.
Muitas condições benignas, como uma simples inflamação (como a prostatite, que altera o PSA) ou uma condição ginecológica (como a endometriose, que altera o CA-125), também podem deixar pegadas semelhantes. Por isso, a presença de um marcador tumoral alterado é sempre um ponto de partida para o início da investigação, nunca um ponto final.
Apesar de sua enorme utilidade, é fundamental alinhar as expectativas: o exame de sangue não funciona como um radar universal para todos os tipos de câncer. A capacidade de um teste sanguíneo em fornecer pistas sobre um tumor, portanto, depende diretamente da biologia e do estágio da doença.
A maioria dos tumores sólidos, como os de mama, pulmão, intestino e próstata, em seus estágios iniciais, se comporta de forma localizada. Ele cresce dentro do órgão de origem e, enquanto é pequeno, pode não ter contato suficiente com a corrente sanguínea para liberar células ou marcadores em quantidade detectável.
Para que seus "rastros" apareçam no sangue, o tumor geralmente precisa crescer a ponto de invadir vasos sanguíneos ou se espalhar para outros locais (metástase). É por essa razão que o rastreamento de muitos desses cânceres comuns é feito com exames de imagem, como a mamografia e a colonoscopia, que olham diretamente para o órgão.
O cenário, porém, é completamente diferente quando falamos dos cânceres hematológicos, como as leucemias e os linfomas. Nesses casos, a doença não está restrita a um único órgão: ela se origina e se desenvolve na própria "fábrica" do sangue, a medula óssea, ou nos gânglios linfáticos.
Nesse caso, as células cancerígenas já estão na circulação. Por isso, o hemograma se torna uma ferramenta de suspeita muito mais direta e eficaz, pois permite a análise quantitativa e qualitativa das próprias células doentes na corrente sanguínea.
Dessa forma, podemos concluir que a investigação de um câncer nunca se baseia apenas em um único tipo de exame, mas na combinação de sintomas (como febre persistente ou dores de cabeça atípicas), exame físico e exames complementares, nos quais os testes de sangue entram como uma peça importante, mas não a única, do quebra-cabeça diagnóstico.
A análise dos marcadores tumorais é uma etapa delicada no raciocínio oncológico, pois seus resultados precisam ser interpretados com cautela e dentro de um contexto clínico amplo. Para entender essa dinâmica, vale a pena conhecer os exemplos mais comuns.
Um dos mais conhecidos é o antígeno prostático específico (PSA), uma proteína produzida pela próstata com a função de liquefazer o sêmen. O que muitas pessoas não sabem é que a dosagem dessa proteína, feita por um exame de sangue, se tornou mais acessível e já pode ser realizada de forma rápida em algumas farmácias.
Quando há um crescimento desordenado das células, como no câncer, mais PSA pode "vazar" para a corrente sanguínea, elevando seus níveis no resultado do exame. Porém, o mesmo pode ocorrer em condições totalmente benignas, como uma inflamação (prostatite) ou o aumento natural da glândula com a idade (Hiperplasia Prostática Benigna).
Por isso, um médico experiente não avalia apenas o número absoluto do PSA, mas a velocidade de aumento do marcador ao longo do tempo e a relação entre o PSA livre e o total, cálculos que ajudam a diferenciar os riscos e a decidir se uma investigação mais aprofundada, como uma biópsia, é necessária.
Essa mesma lógica de interpretação cuidadosa se aplica a outros marcadores importantes. O CA-125, por exemplo, é associado ao câncer de ovário, mas seus níveis podem aumentar em diversas situações ginecológicas comuns e não cancerígenas, como endometriose, miomas e até durante o próprio ciclo menstrual.
Da mesma forma, o antígeno carcinoembrionário (CEA) pode estar elevado no câncer de intestino, mas também em fumantes e em pessoas com doenças inflamatórias, como a pancreatite.
Por essa razão, os marcadores tumorais não são utilizados como exames de rastreamento para o câncer em pessoas sem sintomas e com risco habitual. Seu grande valor está no acompanhamento de pacientes já diagnosticados, funcionando como um termômetro que ajuda a avaliar a eficácia do tratamento.
Porém, para pessoas com um risco genético comprovadamente elevado, como aquelas com um forte histórico familiar da doença, o médico pode indicar o monitoramento com esses marcadores como uma ferramenta de vigilância adicional.
O papel do hemograma é tão fundamental que, de acordo com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), ele é o primeiro exame a levantar uma suspeita que levará a uma investigação oncológica, especialmente para os cânceres hematológicos.
O hemograma oferece uma análise detalhada das células do nosso sangue, e um desequilíbrio persistente em suas populações pode indicar que algo mais sério está acontecendo na medula óssea, o tecido responsável por produzir as células sanguíneas. Para isso, a análise se aprofunda na observação das três principais linhagens celulares:
A partir disso, concluímos que o médico não avalia um número isolado, mas sim o padrão das alterações. Ou seja, a combinação de anemia, infecções de repetição e queda de plaquetas é um quadro muito mais sugestivo do que uma única alteração discreta, por exemplo. O hemograma, assim, acende o sinal de alerta e direciona a investigação.
Receber um resultado de sangue alterado pode gerar angústia, mas é importante vê-lo como o início do caminho para um esclarecimento. A partir dessa pista inicial, o médico dará início a uma investigação para encontrar a causa do problema, e o próximo passo, geralmente, envolve os exames de imagem, que funcionam como os "olhos" da medicina.
Ele tem como objetivo visualizar o interior do corpo para localizar qualquer lesão suspeita. O exame ainda utiliza diferentes tecnologias:
Apesar disso, mesmo a imagem mais detalhada não pode dar a palavra final. Para isso, é necessária a biópsia, o passo definitivo para o diagnóstico. Esse processo é guiado pelas imagens e o médico retira um pequeno fragmento do tecido suspeito para que seja analisado por um patologista.
Vale lembrar que apenas essa análise microscópica pode afirmar com certeza se as células são cancerígenas e, mais importante, revelar informações cruciais como o tipo exato do tumor e seu grau de agressividade.
Sim, e neste cenário, o exame de sangue mostra sua maior força e precisão ao permitir que a equipe médica trabalhe em duas frentes principais: por um lado, monitorando a atividade da doença com os marcadores tumorais e, por outro, vigiando a saúde do paciente com o hemograma completo.
No caso dos marcadores tumorais, o acompanhamento começa antes mesmo do tratamento, com a medição do nível inicial do marcador. Esse valor se torna a linha de base do paciente.
Durante a quimioterapia, por exemplo, o médico solicita novas dosagens após alguns ciclos justamente para observar se os níveis do marcador estão caindo, pois uma queda acentuada é um sinal claro de que o tumor está respondendo à terapia.
Após a conclusão do tratamento, o monitoramento contínuo desses níveis deve continuar sendo realizado, isso porque um aumento pode ser o primeiro indício de que a doença retornou (recidiva), muitas vezes meses antes do surgimento de qualquer sintoma ou alteração em exames de imagem, o que permite uma intervenção muito mais precoce.
Paralelamente ao monitoramento da doença, o hemograma completo é usado para outra finalidade igualmente crucial: vigiar a saúde do paciente e os efeitos colaterais do tratamento. Como terapias como a quimioterapia não afetam apenas as células cancerígenas, mas também as células saudáveis de divisão rápida do nosso corpo, o exame se torna a principal ferramenta para medir o impacto na medula óssea.
Por isso, ele é feito regularmente para vigiar os glóbulos brancos, pois uma queda acentuada (neutropenia) deixa o paciente vulnerável a infecções, que podem se tornar graves. Além disso, o exame controla os níveis de glóbulos vermelhos para prevenir ou tratar a anemia, que causa cansaço e fraqueza, e monitora as plaquetas para evitar riscos de sangramento.
Com base nesses resultados, a equipe médica pode tomar decisões decisivas em tempo real para proteger o paciente. Dessa forma, os exames de sangue se tornam um mapa que permite navegar pelo tratamento com mais segurança, personalizando as decisões e melhorando a qualidade de vida do paciente a cada etapa.
Considerando que não são testes de rastreamento para a população geral, o médico solicita exames de sangue, como o hemograma e os marcadores tumorais, em contextos bem definidos. A principal situação, e a mais comum, é na investigação de sintomas persistentes e sem uma causa aparente, como uma fadiga que não melhora com o repouso, perda de peso acentuada ou dores atípicas.
Além disso, os exames podem ser usados no monitoramento de pessoas com um risco genético comprovadamente elevado, como aquelas com histórico familiar ou com mutações genéticas conhecidas, como as dos genes BRCA, ligadas ao câncer de mama e ovário.
Para um paciente com diagnóstico confirmado, os testes são fundamentais tanto para determinar a extensão da doença no corpo, uma etapa conhecida como estadiamento, quanto para, como detalhado anteriormente, acompanhar a resposta à terapia e monitorar qualquer sinal de que a doença possa ter retornado.
Fica claro, portanto, que o exame de sangue com foco oncológico não é um teste de rastreamento para a população geral, mas uma ferramenta solicitada em contextos bem definidos: na investigação de sintomas persistentes, no acompanhamento de pessoas com alto risco genético ou na tarefa fundamental de monitorar um tratamento.
Independentemente do motivo, a mensagem final é a mesma: um número em uma folha de papel é apenas um dado. Ele só se transforma em informação útil nas mãos de um profissional que conhece sua história de saúde completa.
Referências bibliográficas:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINFOMA E LEUCEMIA (ABRALE). O diagnóstico da Leucemia. São Paulo: ABRALE, [2024]. Disponível em: <https://www.abrale.org.br/doencas/leucemia/diagnostico/>. Acesso em: 25 jul. 2025.
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