14/08/2025
Revisado em: 14/08/2025
Entenda as possíveis causas da dor na mama esquerda e nas costas, aprenda a diferenciar os sinais de alerta e saiba quando ir em busca de avaliação médica.
Começa com um incômodo que parece familiar: uma dor nas costas no fim de um dia de trabalho ou após um esforço. No entanto, a preocupação muda de tom quando essa dor parece "caminhar" para a frente do corpo, causando uma sensibilidade ou pontada na mama esquerda.
Nessa hora, as dúvidas são inevitáveis: a dor na mama esquerda e nas costas seria um problema muscular? Uma questão hormonal? Ou, a mais temida de todas, um sinal do coração?
Entender a origem desses sintomas é o primeiro passo para buscar a ajuda correta e cuidar da saúde de forma integral.
É compreensível que a primeira preocupação ao sentir uma dor no lado esquerdo do peito seja com o coração.
Segundo dados do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres no Brasil, o que reforça a importância de não negligenciar os sintomas. Porém, é importante saber diferenciar as características de cada tipo de dor.
A dor de origem cardíaca, como a da angina ou do infarto, geralmente se manifesta como uma pressão, um aperto ou uma queimação no centro do tórax, podendo irradiar para o braço esquerdo, o pescoço ou a mandíbula. Frequentemente, ela vem acompanhada de outros sintomas, como falta de ar, suor frio e tontura.
Já a dor mamária costuma ser mais localizada, piora com o toque e não está associada a esses outros sinais. Por essa razão, a avaliação médica é tão fundamental: ela permite, antes de tudo, descartar uma emergência cardíaca para então investigar as outras possíveis causas.
Uma vez descartada a hipótese cardíaca, uma das causas mais frequentes para a dor combinada na mama e nas costas é de origem musculoesquelética, isso porque a parede torácica e a coluna formam uma estrutura interligada de músculos, ossos e articulações.
Dessa forma, qualquer problema nessa região pode gerar dor que se manifesta de forma confusa. Um exemplo clássico são as contraturas na musculatura das costas, muitas vezes causadas por má postura prolongada no trabalho ou pelo esforço excessivo em atividades físicas.
Essa tensão muscular não fica contida apenas nas costas; através de um fenômeno conhecido como dor referida, o estímulo doloroso de um músculo é percebido em outra parte do corpo, irradiando para a região da frente do tórax e sendo sentida na mama.
Outra condição que ilustra bem esse cenário é a costocondrite, uma inflamação da cartilagem que conecta as costelas ao osso esterno (o osso do meio do peito).
Nela, a dor é aguda, piora com o toque ou com a respiração profunda e, embora sua origem seja puramente inflamatória e localizada na parede torácica, seus sintomas podem ser facilmente confundidos com os de um problema mais grave.
Apesar de ser uma preocupação comum, é preciso entender que a dor, como sintoma isolado, raramente é um sinal de câncer de mama. A maioria dos tumores em estágio inicial é pequena demais para comprimir nervos ou tecidos a ponto de causar dor.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aponta que a mastalgia isolada (dor na mama) é o sintoma inicial em menos de 10% dos casos de câncer de mama. Ela se torna um sintoma mais provável em tumores mais avançados ou em tipos específicos, como o câncer de mama inflamatório.
No entanto, a dor nunca deve ser ignorada quando associada a outras alterações. É a presença de um conjunto de sinais que torna a avaliação de um mastologista indispensável.
Os alertas mais importantes são as mudanças físicas e visíveis na mama, como o surgimento de um nódulo ou caroço endurecido, que geralmente é fixo e não se move sob a pele, persistindo mesmo após o fim do ciclo menstrual.
Outro sinal são as alterações na pele, que pode se tornar retraída, avermelhada, ou com um aspecto de "casca de laranja", indicando um inchaço interno.
Da mesma forma, mudanças no mamilo, como seu afundamento (retração) ou a saída espontânea de secreção, especialmente se houver presença de sangue, são sinais que exigem investigação imediata.
A causa mais comum de dor nas mamas, conhecida como mastalgia cíclica, está diretamente ligada às flutuações hormonais do ciclo menstrual e não representa uma doença.
O processo ocorre da seguinte forma: na segunda metade do ciclo, após a ovulação, os níveis dos hormônios estrogênio e progesterona atingem seu pico, com a finalidade de preparar o corpo para uma possível gravidez, o que causa um aumento da circulação sanguínea e uma maior retenção de líquidos no tecido mamário.
É essa resposta fisiológica que resulta na sensação de inchaço, peso e sensibilidade aumentada ao toque, que costuma ser sentida em ambas as mamas. Com a chegada da menstruação, os níveis desses hormônios caem drasticamente, e, por isso, a dor e o inchaço melhoram ou desaparecem completamente.
Sendo assim, anotar em um calendário quando a dor começa e termina ao longo de dois ou três meses é a melhor forma de confirmar esse padrão cíclico e fornecer uma informação valiosa para o médico durante a consulta, ajudando-o a diferenciar essa dor benigna de outras causas.
O diagnóstico correto nunca começa com um exame, mas sim com uma boa avaliação clínica. A conversa com o médico, na qual a paciente detalha as características da dor, e o exame físico das mamas e das costas são os passos mais importantes, pois direcionam toda a investigação.
Então, a partir dessa análise inicial, o especialista pode solicitar exames complementares para confirmar ou descartar as suspeitas.
Assim, se a suspeita for de uma alteração mamária, os principais exames de imagem são a mamografia e a ultrassonografia.
A escolha pode depender da idade da paciente e da densidade da mama, mas seus papéis se complementam: a mamografia é usada para o rastreamento de microcalcificações e do câncer de mama, enquanto a ultrassonografia é excelente para analisar nódulos, diferenciando com precisão um cisto (uma bolsa de líquido, quase sempre benigna) de uma massa sólida (que pode exigir investigação adicional).
Além disso, caso as características da dor levantem a possibilidade de uma origem cardíaca, a investigação muda de foco.
Nesse caso, o médico pode solicitar eletrocardiograma (ECG) para avaliar a atividade elétrica do coração e, dependendo do caso, exames mais específicos como o teste ergométrico (para observar o coração durante o esforço) ou o ecocardiograma, que é um ultrassom do coração.
Por fim, se a avaliação clínica e o exame físico apontarem para uma causa muscular e os exames para outras condições não mostrarem alterações, a própria avaliação do médico costuma ser suficiente para o diagnóstico, sem a necessidade de exames de imagem adicionais.
Sim, e o tratamento é totalmente direcionado pela causa diagnosticada. Diante disso, não existe uma solução única que sirva para todos os casos, o objetivo é sempre tratar a origem do problema, o que reforça a importância de uma avaliação médica precisa.
Quando a causa do problema é muscular, o tratamento foca em aliviar a inflamação e a tensão. Nesse caso, medidas como fisioterapia para liberar pontos de contratura, correção postural e a aplicação de calor local costumam ser bastante eficientes. Porém, quando a dor é mais aguda, como na costocondrite, o médico pode prescrever anti-inflamatórios ou relaxantes musculares por um período determinado.
A mastalgia cíclica é hormonal, logo, o tratamento se concentra em mudanças no estilo de vida que ajudam a modular essa resposta do corpo, como a prática de atividade física regular e moderada. Na alimentação, a redução do consumo de sal e de alimentos ultraprocessados é recomendada e pode diminuir a retenção de líquidos e o inchaço nas mamas. Por fim, para dores mais intensas, podem ser indicados desde analgésicos comuns até, em casos específicos e com prescrição médica, medicamentos que atuam na modulação hormonal.
Se o diagnóstico revelar outra alteração, a conduta será específica para ela. Por exemplo, um cisto grande e doloroso pode ser simplesmente esvaziado (drenado) no consultório, o que traz alívio imediato. Um nódulo comprovadamente benigno, como um fibroadenoma, por sua vez, geralmente exige apenas acompanhamento periódico com exames de imagem.
A dor na mama e nas costas é um sintoma que gera ansiedade justamente pela variedade de suas possíveis causas, mas a informação é a principal ferramenta para lidar com essa incerteza. Entender que uma dor muscular tem características diferentes de um alerta cardíaco, ou que a dor cíclica obedece ao ritmo do corpo, transforma a preocupação em ação informada.
O objetivo final não é o autodiagnóstico, mas sim a autovigilância: conhecer o próprio corpo, saber quais sinais de alerta não podem ser ignorados e, acima de tudo, procurar uma avaliação médica para ter informações claras em mãos.
Referências bibliográficas:
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Câncer de mama: vamos falar sobre isso? Rio de Janeiro: INCA, 2020. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/cartilha-cancer-de-mama-2020.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2025.
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (FEBRASGO). Tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. (Protocolo Febrasgo - Ginecologia, N. 72/2021 sobre Mastalgia).
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil 2021-2030. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/doencas-cronicas-nao-transmissiveis-dcnt/09-plano-de-dant-2022_2030.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2025.
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