15/08/2025
Revisado em: 15/08/2025
A proteção natural da pele negra não significa imunidade ao câncer; entenda os sinais específicos da doença e a importância da prevenção.
O câncer de pele em pessoas negras não só existe como costuma ser diagnosticado em estágios mais avançados, o que torna a informação e a vigilância ainda mais importantes. A conversa sobre proteção solar e câncer de pele, por muito tempo, esteve concentrada em pessoas de pele clara.
Essa abordagem criou um mito perigoso e amplamente difundido: o de que a pele negra, por sua riqueza em melanina, estaria imune à doença. Embora a melanina ofereça uma certa proteção natural, ela não é uma armadura.
Pessoas negras podem desenvolver câncer de pele, e entender essa questão envolve desconstruir um mito comum. Como falamos anteriormente, a confusão surge porque a melanina, o pigmento que dá cor à pele, de fato funciona como um protetor solar natural. A pele negra é rica em um tipo de melanina chamado eumelanina, que tem uma maior capacidade para absorver e dispersar a radiação ultravioleta (UV).
É preciso entender que essa proteção natural não é uma imunidade completa. Ela até reduz o risco de desenvolver os tipos de câncer de pele mais ligados à exposição solar acumulada, como os carcinomas, mas essa barreira não é infalível e não protege contra tumores que surgem por outros fatores.
O que acontece é uma mudança no perfil da doença. Assim, apesar da incidência geral de câncer de pele ser menor em pessoas negras, a taxa de mortalidade costuma ser desproporcionalmente maior.
Isso ocorre pelo diagnóstico tardio, como veremos a seguir. Os tipos de tumores mais comuns nesse grupo, como o melanoma acral lentiginoso, frequentemente surgem em áreas não expostas ao sol, driblando a proteção da melanina.
O diagnóstico tardio é o principal desafio que torna o câncer de pele em pessoas negras potencialmente mais perigoso. Essa demora não acontece por um único motivo, mas sim por uma combinação de fatores culturais, biológicos e, por vezes, socioeconômicos.
A baixa percepção de risco é a primeira grande barreira. O mito de que a pele negra é "imune" ao sol faz com que a preocupação com o câncer de pele seja menor, o que leva a uma menor frequência de autoexames e a uma tendência a ignorar lesões suspeitas, seguindo a ideia de que "não sinto nada, então está tudo bem".
A apresentação atípica da doença também contribui para a demora. Como o câncer de pele em pessoas negras frequentemente surge em áreas não expostas ao sol, como as palmas das mãos e as solas dos pés, as lesões podem ser confundidas com calos, verrugas ou machucados. A aparência do tumor também pode ser diferente, se manifestando como uma ferida que não cicatriza ou uma mancha escura, em vez de uma pinta tradicional.
Os sinais de alerta em peles escuras podem ser mais sutis e diferentes dos mais divulgados. Por isso, é preciso estar atento a outras manifestações que são mais comuns nesses casos.
São eles:
Reconhecer que os sinais de alerta podem ter uma aparência diferente é o primeiro passo. O segundo é saber que os locais onde o câncer de pele costuma se desenvolver em pessoas negras também são menos óbvios, o que reforça a importância de um autoexame completo e atento.
De acordo com a Skin Cancer Foundation, cerca de 60% a 75% dos tumores em pessoas negras surgem com muito mais frequência em locais protegidos da radiação UV. Dessa forma, as localizações mais comuns são as extremidades do corpo, como as palmas das mãos e as solas dos pés.
Nessas duas regiões, a lesão pode aparecer como uma mancha escura, de cor marrom ou preta, com bordas irregulares, que pode ser facilmente confundida com uma mancha, um calo ou um machucado que não sara.
A região das unhas também é um local de atenção. Nesse caso, o sinal mais comum é o surgimento de uma faixa escura e vertical (melanoníquia), que pode ser confundida com um hematoma. A suspeita aumenta se a faixa for irregular, se alargar com o tempo ou borrar a pele da cutícula.
A prevenção do câncer de pele se baseia em um conjunto de cuidados universais, com destaque para a observação atenta do próprio corpo e o uso de proteção solar. A primeira e mais importante atitude é o autoexame.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a recomendação é que a inspeção completa da pele seja feita ao menos uma vez por mês, com o objetivo de procurar por qualquer novidade ou mudança.
Nesse autoexame, observe atentamente se há o surgimento de novas pintas, se alguma lesão antiga mudou de tamanho, formato ou cor, ou se existem feridas que não cicatrizam.
É indicado ainda usar um espelho para inspecionar áreas de difícil acesso, como as costas, as solas dos pés e entre os dedos. Essa prática regular é o que permite identificar alterações suspeitas precocemente.
O uso de protetor solar também é um pilar da prevenção. Mesmo peles com mais melanina, que possuem uma proteção natural, não bloqueiam 100% da radiação.
Por isso, o uso do protetor ajuda a prevenir os danos cumulativos do sol, que causam envelhecimento precoce e aumentam o risco de carcinomas, especialmente em áreas mais expostas como o rosto e o couro cabeludo.
A atitude mais importante é não hesitar. Ao notar qualquer lesão com os sinais de alerta que vimos, procure um dermatologista. Essa iniciativa é fundamental porque a detecção precoce é o que mais aumenta as chances de cura, para qualquer tipo de câncer e em todos os tons de pele.
Referências bibliográficas:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde 2019: Acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101748.pdf. Acesso em: 01 ago. 2025.
SKIN CANCER FOUNDATION. Skin Cancer & Skin of Color. New York: Skin Cancer Foundation, [s.d.]. Disponível em: https://www.skincancer.org/skin-cancer-information/skin-cancer-skin-of-color/. Acesso em: 01 ago. 2025.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA (SBD). Câncer da Pele. Rio de Janeiro: SBD, [s. d.]. Disponível em: https://www.sbd.org.br/doencas/cancer-da-pele/. Acesso em: 01 ago. 2025.
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